segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Oscar 2013 consagra "Argo" e "As Aventuras de Pi"


Ben Affleck recebe o Oscar de Melhor Filme

Foi uma cerimônia divertida e uma bela festa para comemorar o 85º aniversário do Oscar. O anfitrião da noite, Seth McFarlane, apesar de algumas piadas um tanto quanto constrangedoras, conseguiu conduzir bem a noite, abrindo com números musicais que revelaram alguns talentos na dança como Charlize Theron e Daniel Radcliffe.

A premiação foi marcada pela consagração de “Argo”, de Ben Affleck, que conseguiu o prêmio máximo do Oscar, sem ter o seu diretor indicado na categoria de Direção. No entanto, “Argo” conseguiu ganhar também as estatuetas de melhor Roteiro Adaptado e Edição.

O grande vencedor da noite, no entanto, foi “As Aventuras de Pi”, com quatro prêmios: Efeitos Visuais, Fotografia, Trilha Sonora para Michael Dana e Direção para Ang Lee. Esse último foi o grande momento da cerimônia, quando Lee venceu o até então favorito Steven Spielberg (“Lincoln”).

Ang Lee

Falando em “Lincoln”, o filme com mais indicações este ano saiu apenas com dois prêmios: Melhor Design de Produção e Melhor Ator para o favoritíssimo Daniel Day-Lewis. O ator se tornou o primeiro a receber três Oscars na categoria.  

Daniel Day-Lewis
Jennifer Lawrence foi eleita a Melhor Atriz por “O Lado Bom da Vida” , Anne Hathaway confirmou o seu favoritismo por “Os Miseráveis” faturando o prêmio de Atriz Coadjuvante e Christoph Waltz ganhou o segundo Oscar de sua carreira por “Django Livre” (o segundo também por um filme de Quentin Tarantino). O diretor de “Django” conquistou também o prêmio de Roteiro Original, o primeiro em dezessete anos.

Michael Haneke

Michael Haneke levou o prêmio de Filme Estrangeiro por “Amor”, enquanto “Valente” levou Melhor Animação em uma das maiores marmeladas da história da categoria, já que “Detona Ralph” e “Frankenweenie” eram claramente superiores. 

 A cerimônia prestou uma homenagem aos musicais, sobretudo os mais recentes, como “Chicago”, “Dreamgirls” e o próprio “Os Miseráveis”. Além disso, trilhas sonoras de filmes famosos foram executadas o tempo todo – o uso do tema do filme “Tubarão” para cortar os discursos mais longos foi impagável.

Adele
Além disso, o Oscar também homenageou os 50 anos de James Bond no cinema, apresentado pela Bond Girl Hale Berry. Em seguida, a cantora Shirley Bassey interpretou, ao vivo, a canção “Goldfinger”, um dos principais temas da franquia. Fechando as comemorações por James Bond, Adele subiu ao palco para cantar “Skyfall”, canção que venceu o Oscar. “007 – Operação Skyfall” levou ainda o prêmio de Edição de Som, em um empate inesperado com “A Hora Mais Escura”.

Como última surpresa da noite, a primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, junto com Jack Nicholson, apresentou a principal categoria, dando um tom político à cerimônia e, depois, anunciando a vitória de “Argo” para deleite de um visivelmente extasiado Ben Affleck.



Confira a lista dos vencedores:

MELHOR FILME – Argo
MELHOR ATOR – Daniel Day-Lewis (Lincoln)
MELHOR ATOR COADJUVANTE – Christoph Waltz (Django Livre)
MELHOR ATRIZ – Jennifer Lawrence (O Lado Bom da Vida)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE – Anne Hathaway (Os Miseráveis)
MELHOR DIRETOR – Ang Lee (As Aventuras de Pi)
MELHOR ANIMAÇÃO – Valente
MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO – Paperman
MELHOR CURTA-METRAGEM DE FICÇÃO – Curfew
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL – Django Livre (Quentin Tarantino)
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO - Argo (Chris Terrio)
MELHOR TRILHA SONORA ORIGINAL – As Aventuras de Pi (Mychael Danna)
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL – Skyfall (Adele Adkins e Paul Epworth)
MELHOR MAQUIAGEM E CABELO – Os Miseráveis (Lisa Westcott e Julie Dartnell)
MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO – Lincoln
MELHOR FOTOGRAFIA – As Aventuras de Pi (Claudio Miranda)
MELHOR EFEITO VISUAL – As Aventuras de Pi
MELHOR FIGURINO – Anna Karenina (Jacqueline Durran)
MELHOR DOCUMENTÁRIO (LONGA-METRAGEM) – Procurando Sugar Man
MELHOR DOCUMENTÁRIO (CURTA-METRAGEM) – Inocente
MELHOR EDIÇÃO – Argo (William Goldenberg)
MELHOR FILME EM LÍNGUA ESTRANGEIRA – Amor (Áustria)
MELHOR EDIÇÃO DE SOM – 007 – Operação Skyfall e A Hora Mais Escura
MELHOR MIXAGEM DE SOM – Os Miseráveis

E a J-Law foi ao chão

Christoph Waltz
Anne Hathaway

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Indomável Sonhadora

 Beasts of the Southern Wild
(EUA, 2012) De Benh Zeitlin. Com Quvenzhané Wallis, Dwight Henry, Gina Montana e Levy Easterly.

O último indicado ao Oscar a estrear no Brasil é diferente de todos os outros filmes nomeados esse ano. “Indomável Sonhadora” é um filme cercado de sentimentos e nos coloca no ponto de vista de uma garotinha que precisa lidar com muito mais do que a sua idade permite. Não por acaso, a pequena Quvenzhané Wallis chamou a atenção do mundo (e dos votantes da Academia), se tornando a mais nova indicada na categoria Melhor Atriz. O filme é todo sobre Hushpuppy e a forma como ela encara os problemas que a cerca. O que nos faz perguntar como uma menina sem experiência em atuação consegue segurar um filme praticamente sozinha? Assim como ela, a maior parte do elenco é composta por moradores de New Orleans, nos arredores de onde o filme foi rodado, pessoas com pouca ou nenhuma experiência em atuação. Junte isso ao esforço de uma equipe dedicada fazendo um filme independente e pronto: um filme bonito que conseguiu batalhar o seu espaço no meio dos grandes. Assim como Hushpuppy.

Os moradores da região conhecida como “Banheira” vivem uma situação delicada. O lugar onde eles moram está prestes a ser inundado pelas cheias da baía que os cerca. Porém, mesmo após uma enchente que devasta a região, eles permanecem no local, se prendendo às raízes de sua comunidade. A pequena Hushpuppy está no meio deles e parece ter um dom de se conectar com a natureza. Além dessa situação, ela precisa ainda lidar com o pai, um homem doente e que tem mudanças bruscas de humor, mas que é o seu único exemplo e família. Com o passar do tempo, Hushpuppy aprende que para sobreviver no seu mundo, ela precisa de coragem, seja para enfrentar o temperamento do pai, seja para enfrentar criaturas pré-históricas que estão à solta.


Misturando pitadas de comédia, muito drama e até um pouco de fantasia, “Indomável Sonhadora” parece um pouco non-sense à primeira vista, sobretudo na parte dos animais pré-históricos, mas aos poucos as peças vão se encaixando. A principal liga de todos esses elementos é Quvenzhané Wallis, que consegue transmitir uma conexão muito forte com o seu personagem. Se por um lado, “Amor” nos fazia ficar no lugar do casal de idosos, imaginando as complicações naturais dessa faixa etária, “Indomável Sonhadora” nos faz lembrar de como é ser criança e de como elas enfrentam tanta coisa em seu mundo particular, sem muitas vezes serem levadas a sério. É com isso que Hushpuppy precisa conviver, já que por vezes parece ser muito mais adulta do que o seu pai.


Na tentativa de tornar seu filme uma fábula sobre coragem e sonhos, o diretor Benh Zeitlin constrói um mundo fantástico e um tanto assustador para dar vazão aos sonhos de Hushpuppy, mas isso pode dificultar a compreensão do filme, já que algumas coisas não fazem muito sentido nem são explicadas. Porém, com um pouco de paciência e compreensão do espectador de que se trata de uma experiência vivenciada por uma criança, “Indomável Sonhadora” se transforma em um filme muito bonito e encantador.

Nota: 8,0

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A Hora Mais Escura

Zero Dark Thirty
(EUA, 2012) De Kathryn Bigelow. Com Jessica Chastain, Jason Clarke, Joel Edgerton, Chris Pratt, Kyle Chandler e Mark Strong.

A morte de Osama Bin Laden aconteceu em meio a circunstâncias suspeitas e pegou o mundo de surpresa. A ausência de um corpo que pudesse atestar a veracidade das coisas também contribuiu para que a operação do governo americano ficasse cheia de dúvidas. No entanto, “A Hora Mais Escura” ignora todos esses fatores para contar, através do ponto de vista de uma agente da CIA, como a morte do ex-terrorista mais procurado do mundo foi planejada desde os ataques de 11 de setembro de 2001. Ao mesmo tempo em que soa ufanista, o filme se compromete ao assumir um tom negativo, ao ‘confirmar’ o uso de tortura contra prisioneiros no Oriente Médio. Controverso até a alma, o filme fez sucesso apesar de tudo já que conta um dos mais importantes capítulos da história americana e revive o momento em que o principal inimigo dos Estados Unidos é morto. Imagino que, para um americano nativo, da mesma forma que foi com “Lincoln”, a história tenha um apelo maior, mas nada que impede que o público em geral possa apreciar o filme.

O filme acompanha as investigações da CIA desde 2002, quando a agente Maya descobre uma pista que pode levar ao mensageiro pessoal de Osama Bin Laden, revelando o seu paradeiro. Claro, o jogo político não é fácil, além da difícil investigação no Oriente Médio. Em meio aos piores cenários possíveis, Maya continua com os seus instintos e precisa seguir firme na investigação, antes que novos atentados aconteçam.

A história é atraente e reúne os mesmos elementos do filme antecessor de Bigelow, “Guerra ao Terror”. Os diálogos são ágeis, mas a estratégia de contar dez anos de uma vez torna o filme lento e um pouco arrastado em alguns momentos, mesmo para os padrões de Bigleow. No entanto, as cenas de ação, que envolvem tiros e explosões em pleno Paquistão, compensam o clima tenso e devolvem a agilidade que o filme precisa.

Dividido em capítulos, o roteiro de Mark Boal tenta condensar os principais acontecimentos que culminaram na morte do terrorista sem entrar em consequências políticas mais profundas. No entanto, Kathryn Bigelow mexeu em um vespeiro ao apelar para as cenas que envolvem tortura de uma forma tão explícita. Não pelas cenas em si, que nem são tão pesadas, mas pelo simples tom de denúncia. Aliás, não dá pra saber se o filme condena ou apoia a forma como a operação foi conduzida.


Principal estrela do filme, Jessica Chastain constrói uma mulher aparentemente frágil, mas que amadurece e se transforma a cada ano que passa na operação. A atriz mostra competência, mesmo que o público não conheça nada de sua personagem, nada do seu passado, família, nada, apenas o seu afinco com a profissão.

Longe de ser um “Guerra ao Terror”, este novo filme de Kathryn Bigelow tem seu apelo, mas não deve ir longe nas premiações. Nem mesmo deve ser levado em consideração como fonte segura, como já afirmaram autoridades americanas. Porém, revela mais a capacidade de Bigelow de se relacionar com temas fortes e que mexam com o público, sem medo de tocar em feridas e mexer em egos de políticos ou militares. Ponto pra ela.

Nota: 8,5

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Porque “Valente” não deve ganhar o Oscar


Difícil uma torcida contra um filme da Pixar, que mantem uma hegemonia no quesito Animações no Oscar. Mas a verdade é que o filme de 2012, “Valente”, não está mesmo entre os favoritos da competição.

Feito sob encomenda da Pixar para incluir mais meninas em seu público-alvo, e entrar de vez no seleto grupo de Princesas da Disney, o filme acabou derrapando no roteiro e ficando mais fraco, digamos, que seus pares em anos anteriores como “Toy Story 3”, “Up” e “Wall-e”.

Esse pequeno descuido da Pixar abriu espaço para filmes como “Frankenweenie” e “Detona Ralph”. O primeiro já chama atenção simplesmente por ter sido dirigido por Tim Burton, a estética do filme acompanhando o estilo do diretor. Contribui ainda mais para isso o fato de ele ter sido feito em preto e branco e o roteiro em si, falando de um menino que consegue trazer o seu cachorro de volta dos mortos. Mórbido, porém fofo. 

Já “Detona Ralph” conseguiu um apelo ainda mais popular por conta do universo dos games retratado no filme. Ao levar às telas a história de um vilão de jogo de fliperama que não queria mais ser um vilão, a Disney acertou em cheio o coração de crianças e adultos do mundo todo que, em algum momento da vida, passaram pelo mundo dos games.

Outro que já é um queridinho da Academia e que ganhou visibilidade foi Peter Lord com seu “Piratas Pirados”. Conhecido por “A Fuga das Galinhas” e por “Wallace e Gromit – A Batalha dos Vegetais”, esse último vencedor do Oscar de Animação em 2005, ele desponta mais uma vez na categoria com um filme que pode surpreender na cerimônia do dia 24.

“ParaNorman” é o representante da Focus Features e dos estúdios de animação Laika e deve correr por fora na disputa.

De qualquer forma, mesmo que “Valente” não corresponda às expectativas, os favoritos continuam residindo na Disney, que deve coletar mais um Oscar. “Frankenweenie” continua como favorito ao lado de “Detona Ralph”, produções que devem trazer de volta para a Disney um pouco do prestígio em prêmios de animação que outrora ela sustentava sozinha.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Críticas dos indicados ao Oscar de Melhor Filme

Dia 24 é a maior festa do cinema e aqui no blog já estamos comemorando há algum tempo. Clique nas imagens abaixo para conferir as resenhas sobre os indicados a Melhor Filme em 2013.














Amor


Amour
(Áustria, 2012) De Michael Haneke. Com Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva e Isabelle Hupert.

Não se deixe levar pelo título. Mesmo se tratando de Michael Haneke, o aviso se faz válido. “Amor” é sobre amor? De certa forma sim. Ao contar a história de um casal de idosos que sofre com uma doença degenerativa que afeta a mulher, Haneke joga um drama que afeta o espectador de uma forma irreversível. Afinal, como assistir impassível a uma mulher definhando bem em frente dos nossos olhos? “Amor” é um drama profundo, onde é preciso ter estômago para aguentar aquilo que, muitas vezes, nós não queremos ver. E esse é o principal trunfo do filme. Mesmo com algumas cenas truncadas e uma narrativa que, convenhamos, precisa de certa paciência no início, o filme prende por conseguir extrair de quem assiste uma reflexão interna, não só do seu próprio futuro, como também de seu passado. São poucos os longas que conseguem essa proeza e, talvez, resida aí a razão do sucesso de “Amor”, que, surpreendentemente, chegou à categoria de Melhor Filme no Oscar.

Anne é uma ex-professora de piano que mora sozinha com seu marido, Georges. Após um incidente em casa, ela é submetida a uma cirurgia que deixa danos irreversíveis, como uma paralisia completa do lado direito do seu corpo. Aos poucos, Anne se torna mais e mais dependente de Georges, que passa a ter que lidar com as pressões da filha para que Anne seja cuidada em um hospital ou numa casa de repouso. Ao mesmo tempo, as lembranças da vida saudável da esposa e a pressão de ter que conviver com a doença serão uma prova de fogo ao casamento, ao amor e a sanidade do próprio Georges.


Com um estilo que já é inerente à sua filmografia, Michael Haneke constrói um filme que provoca a reflexão com a sua narrativa, embora algumas passagens arrastadas e cortes inusitados possam prejudicar o entendimento do espectador que não esteja muito acostumado com a estética do cinema europeu. Mesmo assim, o estilo simples de filmar, com planos que priorizam o ambiente, mostrando como os personagens se comportam no espaço (no caso, o apartamento dos dois, basicamente a única locação de peso do filme), ajudam ao espectador a entrar no clima do filme, a submergir na história e ser tragado pelo turbilhão de emoções que o casal atravessa.

Aliás, não deve mesmo ter sido fácil para Emmanuelle Riva atravessar essas emoções todas. Interpretar uma mulher com uma doença grave como Anne requer atenção a detalhes e uma competência que, mal interpretada, pode mais chocar e ofender do que comover. A atriz entrega uma performance memorável. Nas cenas em que Anne aparece saudável podemos ver a diferença quando ela já está doente. A cada expressão de Emmanuelle nas telas, sentimos a dor e confusão que a personagem está passando. Não por acaso, ela está entre as favoritas ao Oscar desse ano. 


Apesar de menos lembrado pela crítica, o veterano ator Jean-Louis Trintignant também ganha destaque como Georges, o principal pilar de Anne na família e principal razão para o título do filme. Isabelle Hupert, como a filha do casal, completa o elenco.

Haneke não deve levar o Oscar de Melhor Filme, embora a história mereça. É um filme que mexe com os sentimentos de quem assiste ao filme e evoca tantos temas que fica difícil elencar aqui. É complicado estabelecer por quais deles você se emociona e comove mais. Filmes assim não aparecem todo dia.

Nota: 9,0

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Emmanuelle Riva, o Bafta e o Oscar



Meus amigos leitores, desculpem a ausência de Carnaval. Afinal, eu também preciso de um descanso. Mas eis que eu me deparo com a notícia de que Emmanuelle Riva, a veterana atriz francesa, de 85 anos, venceu o Bafta – o Oscar britânico – de melhor atriz por “Amor”, deixando para trás Jennifer Lawrence ("O Lado Bom da Vida"), Hellen Mirren ("Hitchcock"), Jessica Chastain ("A Hora Mais Escura") e Marion Cotillard ("Ferrugem e Osso").

E aí que isso mexe as coisas na corrida pelo Oscar, no próximo dia 24. Com o Bafta de Emmanuelle, Jennifer Lawrence deixa de ser a favorita. Apesar de ter ganhado o Globo de Ouro de Melhor Atriz – Comédia e o prêmio do SAG, Lawrence desce alguns degraus na escada do favoritismo porque Emmanuelle não foi indicada em nenhum desses prêmios. E, convenhamos, um Bafta conta, e muito, para a corrida ao Oscar.

Então, a batalha ficaria entre Jennifer Lawrence, a nova queridinha de Hollywood, e a atriz francesa, que parece ter entregado a melhor atuação da temporada (não, o blogueiro ainda não viu “Amor” – shame on me!).

Emmanuelle Riva é francesa e se tornou a mais velha a ser indicada à categoria de Melhor Atriz no Oscar. Se vencer, pode tomar o lugar de Jessica Tandy, que ganhou um Oscar aos 81 anos, por seu papel em “Conduzindo Miss Daisy” (1989). Riva também poderá ser a terceira mulher, na história do Oscar, a ganhar o prêmio por um filme falado em uma língua diferente do inglês, feito alcançado apenas por Sophia Loren ("Duas Mulheres", 1962) e Marion Cotillard ("Piaf - Um Hino Ao Amor", 2008).

Entre seus principais papeis no cinema estão a protagonista de “Hiroshima, Meu Amor”, de 1959, e um papel no cultuado “A Liberdade é Azul”, um dos três filmes da chamada “Trilogia das Cores”, de Krzystof Kieslowski. No entanto, foi ao estrelar “Amor”, de Michael Haneke, que a atriz conseguiu relevância e reconhecimento mundial na sua carreira.



Além do Bafta, Emmanuelle venceu vários prêmios de Melhor Atriz por “Amor” em diversos festivais. No filme, ela interpreta uma idosa vítima de uma paralisia parcial do corpo depois de uma cirurgia mal sucedida.

Vale lembrar que Jessica Chastain ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz – Drama e o Critics Choice Award, o que a faz correr por fora na disputa. Ela pode ser a zebra da competição, já que é uma jovem atriz de talento em ascensão (nunca se esqueçam do episódio “Gwyneth Paltrow” em 1999, ok?). Ao que tudo indica, Naomi Watts deve levar a indicação apenas como mais um reconhecimento na carreira e Quvenzhané Wallis não deve ser premiada, dado ao pouco costume de se premiar crianças, embora isso não seja impossível de acontecer. 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O Lado Bom da Vida


 Silver Linings Playbook
(EUA, 2012) De David O. Russell. Com Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Jacki Weaver e Chris Tucker.

É difícil tentar entender o universo de alguém que sofre algum transtorno mental quando você não está vivendo diretamente o problema. Ainda mais um problema tão desconhecido como o transtorno bipolar. Muitas vezes utilizamos o termo ‘bipolar’ somente para qualificar mudanças bruscas de humor, quando na verdade o transtorno bipolar é um problema sério, que vai bem além de só ficar irritado com nada. O que o diretor David O. Russell faz em “O Lado Bom da Vida” é, justamente, inserir o espectador na rotina de uma família que acompanha o problema de perto, com o personagem de Bradley Cooper. O assunto ganha um viés cômico através das situações, o que empobrece um pouco o assunto, uma vez que a intenção (ao que parece) é justamente falar da bipolaridade. É quando resolve ser o que não é, uma comédia romântica, é que o filme perde um pouco da qualidade, mas ainda assim se mantém em um bom ritmo.

Patrick sofre de transtorno bipolar e ficou por 8 meses internado em uma clínica após flagrar a esposa com outro homem. Sua mãe decide tirá-lo da clínica, sob responsabilidade judicial, para que seu tratamento seja mais eficaz em casa. Só que Pat ainda é obcecado pela ex, mesmo sendo alvo de uma ordem de restrição. Como ele não consegue entrar em contato, Pat tem várias crises, e quem mais sofre com isso são os seus pais, Dolores e Pat Sr., um homem que sofre de TOC e aposta constantemente nos resultados de jogos de futebol. É quando Pat conhece Tiffany, uma mulher traumatizada após a perda do marido, mas tão louca quanto o próprio Pat, que as coisas prometem mudar. Se para melhor ou pior, ninguém sabe.



O ponto forte de “O Lado Bom da Vida” são as atuações, sobretudo dos protagonistas. É de longe o melhor papel de Bradley Cooper, que mistura situações cômicas com dramáticas, o que faz com que nos afeiçoemos de cara com o seu personagem. Já Jennifer Lawrence se prova uma atriz madura para sua idade e se consolida como uma das melhores da nova geração, justificando sua nova indicação ao Oscar e os prêmios que tem recebido pelo papel.

Robert De Niro, em uma de suas melhores atuações em anos, comove igualmente como o pai de Pat, sobretudo nas cenas em que ele e Bradley Cooper atuam juntos. Podemos claramente perceber a relação pai e filho entre os personagens e isso se dá pelo envolvimento e comprometimento dos atores com os papéis.

Outro ponto positivo é a química entre Bradley e Jennifer, mas é quando o roteiro ensaia uma comédia romântica é que as coisas ficam piegas (como as comédias românticas) e o trem desanda um pouco. Como isso acontece bem mais da metade para o final do filme, o resultado fica comprometido, mas não escapa de deixar um gostinho de ‘quero mais’ no espectador.

“O Lado Bom da Vida” recebeu 8 indicações ao Oscar e reúne vários bons atributos que justificam essa receptividade. A história é comovente e atrai os espectadores de cara para o drama dos personagens, além de ser, também uma boa opção de diversão. No fim das contas, é uma comédia romântica não muito convencional, com uma pitada de inteligência no roteiro, e que deu muito certo.

Nota: 8,0

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

600 POSTS!!!!!


Há pouco mais de cinco anos eu comecei a escrever aqui no blog. Tudo não passava de um exercício de texto e veja só onde estamos agora!! Tem até página no Facebook, gente!

A crítica do filme "Os Miseráveis" marca o post de número 600 aqui no CINEMARCOS. Eu agradeço a todo mundo que dedica um pouco do seu tempo para ler a minha opinião sobre os filmes, entre tantos e tantos outros profissionais claramente mais qualificados do que eu. Se você me lê regularmente, só lê de vez em quando ou só está passando aqui por acaso e lendo essa postagem (a de n° 601), obrigado!

Hoje, por acaso, tive uma discussão com uma amiga e ela me perguntou se eu ainda consigo ficar impressionado vendo filmes, depois de ter visto tantos (ou quase isso, não me lembro direito rs). A verdade é que eu assisto os filmes com a mesma paixão de sempre. Me emociono com uma boa história, boas atuações, bons efeitos especiais, boa trilha sonora, uma cena bem feita. E me indigno sim quando o filme é uma bosta. A paixão é a mesma. A escrita no blog é que mudou e eu só cresci.

Então, obrigado a você que lê e que presta atenção aqui no blog. Saiba que cada texto é feito com a mesma paixão que eu assisto a um filme.

Obrigado!

Marcos Nascimento

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Os Miseráveis


Les Misérables
(EUA, UK 2012) de Tom Hooper. Com Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Eddie Redmayne, Samantha Barks, Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen.

“Os Miseráveis” é uma das mais conhecidas e cultuadas histórias do mundo. Já foi representada várias vezes e já serviu de inspiração para diversas mídias, desde novela da Globo a episódio de desenho animado. A versão musical tem canções que já participaram de séries de TV e também de programas de calouros. Recontar esta história no cinema, com base justamente no bem sucedido musical – além da versão original escrita por Vitor Hugo em 1862 -, foi o desafio do diretor Tom Hooper, recém-saído de um Oscar de Melhor Diretor por “O Discurso do Rei”. De fato, quem já gosta do musical vai adorar o filme de cara. Quem não conhece nada ou pouco, também consegue se envolver facilmente na história, mas “Os Miseráveis” está longe de ser um filme impecável. É um filme lindo que é salvo por ótimas atuações, mas que tem uma narrativa um pouco desconexa e sem sentido, piorado ainda pela decisão de fazê-lo todo cantado. Uma experiência notável no cinema, mas que ainda requer algum aperfeiçoamento para cativar ainda mais o gosto do público e para evitar que o filme saia do drama e caia acidentalmente na comédia.

Após ser preso por roubar um pão para a sua irmã, Jean Valjean consegue liberdade condicional, mas acaba caindo novamente no delito. Auxiliado por um bispo, ele consegue fugir e começa uma vida nova, mas não deixa de ser seguido pelo oficial Javert, que fica obstinado em sua captura. Mais tarde, conhecido como o Prefeito, ele esbarra com a pobre Fantine, uma ex-operária de sua fábrica que foi demitida injustamente e que acabou tendo que se prostituir para conseguir sustento para sua filha, Cosette. Sentindo-se responsável, Jean Valjean encontra Cosette e passa a criá-la, até que anos mais tarde a moça descobre o amor no meio de uma revolução em Paris, se apaixonando pelo jovem Marius.


Por ser inteiramente cantado, “Os Miseráveis” pode soar um pouco cansativo, mas isso acaba prejudicando mais ainda a sua narrativa. Algumas coisas perdem o sentido e situações ficam sem respostas plausíveis. A opção do diretor por closes nos rostos dos atores também é um fator determinante. Se por um lado essa técnica destaca o sofrimento e angústia de Anne Hathaway quando canta “I Dreamed a Dream”, ou em Samantha Barks, com “On My Own”, completamente favorecendo a atuação das duas, por outro lado, isso prejudica quando a performance não é tão boa cantando. Russell Crowe é, notadamente, o mais prejudicado e sua cantoria não convence tanto como os outros atores.


Hugh Jackman, como Jean Valjean, consegue a melhor performance da sua carreira, dando vida a um personagem sofrido, mas que é atormentado por sua própria consciência por ter fugido enquanto devia prestar contas com a lei. Outro grande destaque é Anne Hathaway, que estampa o sofrimento da personagem Fantine em todos os momentos em que aparece. A cena de “I Dreamed a Dream”, sem focar no cenário ou mudança de câmera, mostrando apenas o rosto de Anne Hathaway, é um dos melhores momentos do filme, se não o melhor.

Mas uma das grandes revelações de “Os Miseráveis” é Samantha Barks, atriz que já havia participado da montagem teatral e que reprisa o papel de Eponine, uma moça que também é apaixonada por Marius, mas é preterida por Cosette. Embora não tenha tanto destaque na trama, Barks mostra uma enorme potência em suas cenas, apagando, inclusive, a própria Cosette, vivida por Amanda Seyfried. Eddie Redmayne como Marius e os jovens da revolução também se destacam. O alívio cômico fica por conta de Helena Bonham Carter e Sacha Bahron Cohen.


Indicado a 8 Oscars, “Os Miseráveis” tem uma produção caprichada e impressiona por contar a história clássica com boas atuações. O roteiro tem furos (alguns momentos que são um tiro no pé), o que não chega a comprometer seu resultado final, demonstrando a força dos musicais nos últimos anos. O filme é a prova de como uma boa e caprichada produção pode dar vida a uma história tão bela, encantando plateias em pleno século 21 com uma história do século 19.

Nota: 8,0