(EUA, 2011)
De Martin Scorsese. Com Asa Butterfield, Ben Kingsley, Sasha Bahron Coen, Chloe
Grace Moretz, Helen McCroy, Christopher Lee, Francis de la Tour, Emily Mortimer
e Richard Griffiths.
Não sei se foi coincidência, mas dois filmes indicados ao
Oscar e lançados no Brasil na mesma época são sobre o início do cinema. Se “O
Artista” fala da era de ouro do cinema mudo e sua transição para os filmes
falados, “A Invenção de Hugo Cabret” vai ainda mais longe, nos primórdios do
cinema, prestando uma homenagem ao homem que começou tudo o que sabemos hoje.
George Meliés pode não ter inventado a técnica, mas foi um dos pioneiros a
perceber que o cinematógrafo poderia ser usado para contar histórias. Por ser
ilusionista, Méliès acreditava que o cinema era um novo tipo de ilusão, capaz
de fazer as pessoas se transportarem para dentro dos sonhos. E esses sonhos
eram vistos na tela, através de filmes feitos por ele. Esses bastidores da
época são tratados divinamente por Martin Scorsese, um dos diretores mais
aclamados da atualidade. Ninguém melhor do que ele para voltar ao passado e
contar as origens da sétima arte, lá pelos idos de 1900. Ah, e o Hugo?
Hugo Cabret é um garoto órfão que mora em uma estação de trem,
consertando os relógios e fugindo do inspetor da estação. Ele guarda consigo um
boneco mecânico achado pelo pai, que morreu em um incêndio. As pistas de como
fazer o boneco funcionar estão em um caderno feito pelo pai, mas Hugo acaba
perdendo o caderno para o vendedor de brinquedos da estação. Para recuperar o
caderno, Hugo conta com a ajuda de Isabelle, uma menina que trabalha com o
vendedor e que adora aventuras. Os dois acabam se envolvendo em um mistério
sobre o porquê o vendedor não quer devolver o caderno ou deixar Isabelle
assistir a filmes, coisa que Hugo adora. Os dois acabam descobrindo que o
vendedor é ninguém menos que George Méliés, um dos primeiros diretores de
cinema do mundo que, no passado, viveu momentos de glória e diversão com sua
mulher, Jane. George se recusa a lembrar o passado, mas Hugo e Isabelle vão em
busca da história para mostrar que sempre é possível relembrar os sonhos e
vivê-los mais uma vez.
Martin Scorsese viaja em um mundo de fantasia pela Paris
pós-Primeira Guerra Mundial para contar a história de Hugo Cabret, sua relação com o pai e sua
visão do mundo, pensando sempre em como consertar as coisas, já que seu pai era
relojoeiro. A partir daí embarcamos em uma viagem de nostalgia para conhecer a
história de George Meliés, sem nunca desviar o foco do próprio Hugo. Para quem
gosta de cinema e conhece a história, ver tudo retratado na tela, imaginar como
teria sido os bastidores de “Viagem à Lua”, por exemplo, e outros clássicos dos
primórdios do cinema é de deixar os olhos brilhando.
O diretor usa efeitos especiais na medida certa (é o filme
de Scorsese com o maior uso dos efeitos) e o 3D, sem apelar para poluição
visual dos filmes do gênero, dão o contraste certo entre um filme que usa alta
tecnologia e os filmes mudos de 1900. Imagina quando poderíamos pensar em
assistir “Viagem à Lua” em 3D? Nem mesmo Méliés poderia prever isso. Esse
mistura de tecnologia atual com a forma de se fazer cinema antigamente é a
chave do sucesso de “A Invenção de Hugo Cabret”, que se apropria da inocência
infantil presa em cada um de nós e nos mostra um filme soberbo, terno e mais
uma obra prima de Scorsese.
“A Invenção de Hugo Cabret” tem atuações maravilhosas de
todos os atores, é leve e envolvente em todos os aspectos. A mágica em torno do
boneco mecânico, do cinema e da história do próprio Hugo leva o espectador –
sobretudo os fãs de cinema – a viajar dentro dos próprios sonhos e se deixar
levar por um tempo que não volta mais, mas que pode ser visto todos os dias,
sempre que quisermos, em uma sala de cinema, já que os filmes nos permitem
conhecer novas histórias e realizar nossas próprias aventuras e ver os sonhos
se tornarem realidade.
Nota: 10
Efeitos 3D: 10