Contracorriente
(Peru/Colombia, 2009) De Javiér Fuentes León. Com Manolo Cardona, José Chacaltana e Tatiana Astengo.
Curioso como filmes como "Contra Corrente" conseguem entrar em cartaz. Geralmente produções com temática gay ficam totalmente esquecidas no limbo cinematográfico, raramente vendo a luz do dia. Até que isso vem mudando conforme essas produções ganham o mundo em festivais, contando com a participação de nomes de peso, como Julianne Moore, Annette Benning, Jim Carey, entre outros que se aventuraram no gênero. "Contra Corrente" foi assim. O longa correu os principais festivais de cinema, inclusive o Festival do Rio, e ganhou fortes admiradores que o assistiram via internet. Ganhou prêmios importantes, como a Escolha do Público do Festival de Sundance, e tem um enredo belíssimo sobre religião, espiritualidade, cultura e, claro, o romance dos personagens principais. Por isso, o filme merece ser apreciado por todo mundo.
Miguel vive em uma colônia de pescadores que ainda segue à risca costumes e tradições antigos, como o ritual de entregar o corpo de um falecido a Deus através do mar, para que sua alma descanse em paz. Ele é casado com Mariela e está prestes a ser pai de um menino. Só que ele tem um envolvimento com Santiago, um pintor que se mudou para a vila há pouco tempo, especialmente para viver seu romance com Miguel, que mantém tudo em absoluto sigilo. Quando Santiago começa a questionar o relacionamento dos dois e as pessoas da vila começam a desconfiar de sua sexualidad, ele vai embora em um barco, deixando Miguel sozinho. Acontece que o barco de Santiago sofre um acidente e ele morre no mar. Como sua alma não foi encomendade, ele passsa a ficar como um espírito vagando pela terra, tendo que recorrer à unica pessoa que consegue vê-lo: Miguel. É então que Miguel se dá conta de que perdeu o amor de sua vida, mas que pode ter uma chance de viver com ele, mesmo que Santiago esteja em outro plano. Mas até quando seu ato egoísta irá deixar Santiago sem descansar em paz?
Não fosse por algumas variações, o filme seria a perfeita versão gay para "Dona Flor e Seus Dois Maridos". Uma bela construção sobre sentimentos confusos, "Contra Corrente" mostra a realidade de muitos homens que tem esposa e filhos, amam suas esposas e filhos, mas não conseguem esconder o desejo que carregam. O filme também acerta por mostrar o pequeno vilarejo de pescadores, estampando costumes de pessoas mais simples e fazendo o espectador entrar em contato com um outro mundo, diferente do seu. Com ternura, o diretor Javier Fuentés León retrata o amor dos protagonistas sem chocar ou apelar para o erotismo exagerado e apelativo. Antes de tudo, "Contra Corrente" é uma história de amor proibido, egoísmo, expectativas e comportamento humano, independente de ser homo ou heterossexual.
Com um roteiro leve, que tem pitadas de comédia e drama no ponto certo, o filme merecia ser apreciado por mais pessoas. A fotografia de Maurício Vidal destaca a paisagem maravilhosa das praias do Peru (sem trocadilhos), onde a história toma forma. A calmaria de uma vila de pescadores, mesmo quando tomada por um burburinho em torno dos personagens, transpassa a tela e chega até o espectador. Destaque para a trilha sonora e para as atuações do trio de protagonistas, Manolo Cardona ("A Mulher do Meu Irmão"), José Chacaltana ("Che - Parte 2: Guerrilha") e Tatiana Astengo.
Nota: 9,0
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sexta-feira, 22 de abril de 2011
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Minhas Mãs e Meu Pai
The Kids Are All Right
(EUA, 2010) De Lisa Chodolenko. Com Annette Bening, Julianne Moore, Mark Rufallo, Mia Wasikowska e Josh Hutcherson.
"Minhas Mães e Meu Pai" foi o primeiro filme a fazer barulho em 2010 na temporada pós-Oscar. Ganhou o Teddy de Ouro no Festival de Berlim, o Urso de Ouro gay. E todo o burburinho foi por conta das atuações de duas grandes atrizes do cinema americano contemporâneo, que agora se colocavam em papéis bem familiares de uma forma não muito convencional. Julianne Moore e Annette Bening formam um casal de lésbicas, que tiveram seus dois filhos por meio de inseminação artificial. O mais interessante é que essa situação está se tornando cada vez mais comum, devido a uma maior aceitação popular com o caso. Filmes com essa temática ganham cada vez mais as telas do cinema comercial, desde que Ang Lee lançou "O Segredo de Brokeback Mountain".
Nic e Jules são duas mulheres que vivem juntas há mais de 20 anos. Elas são as mães de dois adolescentes, gerados por inseminação aritificial, cada um no ventre de uma delas. Joni, a mais velha, agora tem 18 anos e está prestes a ir para a faculdade. Seu irmão Laser insiste na ideia de que eles devem procurar o pai biológico e os dois descobrem seu paradeiro através da clínica de fertilidade. Quando eles conhecem o cara, Paul, um solteirão convicto que aprendeu as coisas por si mesmo, nem imaginam que ele está prestes a mudar suas vidas, entrando discretamente na sua família, para o desespero de suas mães. Mas quem entra mais em pânico na situação é Nic, que cada vez mais vê o controle de sua casa - e de sua companheira - fugir de suas mãos.
Todo mundo já fala da atuação extraordinária das atrizes principais, considerando até uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz para Annette Bening, como Nic. E é verdade, o elenco adulto está brilhante. Julianne Moore encarna este tipo familiar com perfeição há anos, então já está enquadrada, mesmo que o personagem seja tão pouco comum. Bem, na verdade nem tanto comum, já que ela estrelou o filme "O Preço da Traição", onde viveu um affair com Amanda Seyfried. Já Benning reina às vezes absoluta se entrgando em mais um papel desafiador de sua carreira. Agora, quem se destaca, e muito são os dois atores jovens. Mia Wasikowska mostra que pode sair muito mais do buraco em que Alice caiu no País das Maravilhas, e Josh Hutcherson, agora crescido, também tem um futuro promissor, baseando-se nesse filme. Pena que ele perdeu a chance de faturar o papel de Peter Parker no novo "Homem-Aranha".
No mais, o roteiro do filme e a direção de Lisa Chodolenko tem um tom muito leve, todo ele com momentos engraçados, provando ser uma comédia de primeira linha, ao mesmo tempo que desenha traços de romance e drama. Como é um dos chamados "filmes independentes", e eles estão com tudo em Hollywood, as chances de "Minhas Mães e Meu Pai" chegar ao Oscar do ano que vem são mesmo grandes.
Nota: 8,5
sábado, 25 de setembro de 2010
A Boca do Lobo
La Bocca Del Lupo
(Italia, 2009) De Pietro Marcello. Com Mary Monaco e Vicenzo Motta.
Não dá pra entender certas coisas conceituais que saem da Europa de vez em quando. Uma delas é esse filme que já passou por festivais como Berlim e Turim, e que agora chega ao Festival do Rio. Uma pena é que o filme não tem muito propósito, a não ser encaixotar um monte de imagens sem sentido encartadas com cenas da história principal, o que ao invés de criar uma linha narrativa, confunde o espectador.
Vamos ao que eu entendi do filme: O matador Enzo e a transsexual Mary se conheceram na prisão e desde então construiram uma vida juntos. Quando Mary saiu da prisão, ela e Enzo continuaram a se corresponder, através de cartas e fitas gravadas por ambos. Um dia ele sai da cadeia e se junta a Mary em um barraco numa região precária de Gênova. E é isso.
O filme se contrói toda com imagens de Enzo se arrastando pelas ruas italianas enquanto uma voz em off vai contando aspectos da vida do casal. É quase como se o diretor Pietro Marcello estivesse tentando filmar uma poesia, mas desse tudo errado. Porque, por mais que a ideia de o espectador ter que adivinhar tudo sozinho seja legal, as peças no quebra-cabeças estão jogadas demais pra serem entendidas, inclusive intercaladas com cenas nada a ver, como pássaros voando por um longo tempo ou vários homens pulando num rio.
Nota: 3,0
(Italia, 2009) De Pietro Marcello. Com Mary Monaco e Vicenzo Motta.
Não dá pra entender certas coisas conceituais que saem da Europa de vez em quando. Uma delas é esse filme que já passou por festivais como Berlim e Turim, e que agora chega ao Festival do Rio. Uma pena é que o filme não tem muito propósito, a não ser encaixotar um monte de imagens sem sentido encartadas com cenas da história principal, o que ao invés de criar uma linha narrativa, confunde o espectador.
Vamos ao que eu entendi do filme: O matador Enzo e a transsexual Mary se conheceram na prisão e desde então construiram uma vida juntos. Quando Mary saiu da prisão, ela e Enzo continuaram a se corresponder, através de cartas e fitas gravadas por ambos. Um dia ele sai da cadeia e se junta a Mary em um barraco numa região precária de Gênova. E é isso.
O filme se contrói toda com imagens de Enzo se arrastando pelas ruas italianas enquanto uma voz em off vai contando aspectos da vida do casal. É quase como se o diretor Pietro Marcello estivesse tentando filmar uma poesia, mas desse tudo errado. Porque, por mais que a ideia de o espectador ter que adivinhar tudo sozinho seja legal, as peças no quebra-cabeças estão jogadas demais pra serem entendidas, inclusive intercaladas com cenas nada a ver, como pássaros voando por um longo tempo ou vários homens pulando num rio.
Nota: 3,0
quinta-feira, 20 de maio de 2010
O Preço da Traição
Chloe
(Canadá, 2009) De Atom Egoyan. Com Julianne Moore, Amanda Seyfried e Liam Neeson.
Parece que Amanda Seyfried está no auge de sua carreira. Depois de despontar para o estrelato em "Mamma Mia!", ela já esteve em diversas produções. Ano passado foi a mocinha de "Garota Infernal" e só agora, no Brasil, nada menos do que três filmes em cartaz levam o seu nome. "Querido John", de Lasse Halstrom e "Cartas para Julieta", ainda inédito, mas que deve estrear logo, são os filmes em que ela é a romântica da vez. Mas, de todos esses, pode-se dizer sem sobra de dúvida, que seu maior desafio até agora foi "O Preço da Traição", onde nem de longe ela lembra as mocinhas indefesas que interpretou até agora.
Catherine Stewart (Julianne Moore) é uma ginecologista que desconfia que seu marido, o professor David, tem um caso fora do casamento. Para tirar a prova, ela decide contratar Chloe, uma prostituta que conhece por acaso em um banheiro de hotel. O papel de Chloe, a princípio, é apenas se insinuar para o marido e checar a sua reação. Porém, o jogo começa a ficar cada vez mais complicado e até Catherine se envolve profundamente com Chloe. Quando ela pede que a prostituta se afaste do marido, é aí que Chloe se infiltra mais ainda na família de Catherine, o que pode levar a uma série de desastrosas consequências.
"O Preço da Traição" é um daqueles filmes que enganam você. Quando você acha que a história é simplesmente um caso extra-conjugal do marido, o filme te leva para um outro caminho completamente diferente. Ela envereda pelos sentimentos sombrios da prostituta de luxo Chloe, que não poderia ser melhor interpretada por Seyfried. Um desafio e tanto para uma atriz em ascenção. E o que dizer então do papel igualmente desafiador de Julianne Moore, que mostra toda a sua maturidade, tanto na idade quanto na interpretação. Sua personagem é uma mulher na meia-idade que começa a questionar a sua existência e o seu casamento. Seu envolvimento com Chloe tenta, ao mesmo tempo, salvar o seu casamento e resgatar um pouco da sua própria juventude.
O filme choca um pouco por falar de sexo tão abertamente, mesmo sem cenas explícitas. Com exceção de uma cena de sexo lésbico entre as protagonistas femininas (que chocou os desavisados!), tudo fica em uma insinuação debochada, o que faz o filme ficar mais bonito de ser assistir. Pena que do meio para o final ele caia na obviedade com um final previsível. Pena também que Liam Neeson pareça o único ali que não faria falta, se houvesse outro ator qualquer em se lugar. Seu talento deve ter ficado engavetado para ser todo ele usado nas gravações de "Esquadrão Classe A". O saldo é positivo, mas o filme me lembra muito as sessões do Supercine, da Rede Globo. Sabe, quando o filme é bom demais para passar despercebido, mas não o bastante para estar na Tela Quente? É assim. Bom, mas não o bastante.
E que venham mais filmes com Amanda Seyfried. Afinal, Chapeuzinho Vermelho vem aí...
Nota: 8,0
(Canadá, 2009) De Atom Egoyan. Com Julianne Moore, Amanda Seyfried e Liam Neeson.
Parece que Amanda Seyfried está no auge de sua carreira. Depois de despontar para o estrelato em "Mamma Mia!", ela já esteve em diversas produções. Ano passado foi a mocinha de "Garota Infernal" e só agora, no Brasil, nada menos do que três filmes em cartaz levam o seu nome. "Querido John", de Lasse Halstrom e "Cartas para Julieta", ainda inédito, mas que deve estrear logo, são os filmes em que ela é a romântica da vez. Mas, de todos esses, pode-se dizer sem sobra de dúvida, que seu maior desafio até agora foi "O Preço da Traição", onde nem de longe ela lembra as mocinhas indefesas que interpretou até agora.
Catherine Stewart (Julianne Moore) é uma ginecologista que desconfia que seu marido, o professor David, tem um caso fora do casamento. Para tirar a prova, ela decide contratar Chloe, uma prostituta que conhece por acaso em um banheiro de hotel. O papel de Chloe, a princípio, é apenas se insinuar para o marido e checar a sua reação. Porém, o jogo começa a ficar cada vez mais complicado e até Catherine se envolve profundamente com Chloe. Quando ela pede que a prostituta se afaste do marido, é aí que Chloe se infiltra mais ainda na família de Catherine, o que pode levar a uma série de desastrosas consequências.
"O Preço da Traição" é um daqueles filmes que enganam você. Quando você acha que a história é simplesmente um caso extra-conjugal do marido, o filme te leva para um outro caminho completamente diferente. Ela envereda pelos sentimentos sombrios da prostituta de luxo Chloe, que não poderia ser melhor interpretada por Seyfried. Um desafio e tanto para uma atriz em ascenção. E o que dizer então do papel igualmente desafiador de Julianne Moore, que mostra toda a sua maturidade, tanto na idade quanto na interpretação. Sua personagem é uma mulher na meia-idade que começa a questionar a sua existência e o seu casamento. Seu envolvimento com Chloe tenta, ao mesmo tempo, salvar o seu casamento e resgatar um pouco da sua própria juventude.
O filme choca um pouco por falar de sexo tão abertamente, mesmo sem cenas explícitas. Com exceção de uma cena de sexo lésbico entre as protagonistas femininas (que chocou os desavisados!), tudo fica em uma insinuação debochada, o que faz o filme ficar mais bonito de ser assistir. Pena que do meio para o final ele caia na obviedade com um final previsível. Pena também que Liam Neeson pareça o único ali que não faria falta, se houvesse outro ator qualquer em se lugar. Seu talento deve ter ficado engavetado para ser todo ele usado nas gravações de "Esquadrão Classe A". O saldo é positivo, mas o filme me lembra muito as sessões do Supercine, da Rede Globo. Sabe, quando o filme é bom demais para passar despercebido, mas não o bastante para estar na Tela Quente? É assim. Bom, mas não o bastante.
E que venham mais filmes com Amanda Seyfried. Afinal, Chapeuzinho Vermelho vem aí...
Nota: 8,0
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