The Hunger Games
(EUA, 2012)
De Gary Ross. Com Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Woody Harrelson, Donald Sutherland, Liam Hemsworth, Elizabeth
Banks, Stanley Tucci, Lenny Kravitz, Alexander Ludwig, Isabelle Fuhrman e Wes
Bentley.
“Jogos Vorazes” já nasceu com um peso nas costas. Todos
colocam o filme, baseado no primeiro livro da trilogia de Suzanne Collins, como
o sucessor natural da Saga Crepúsculo – que por sua vez, tentou ser a sucessora
de Harry Potter. O problema ao comparar ambas as franquias está justamente...
na comparação. Porque apesar dos elementos comuns (o triângulo amoroso, os
protagonistas adolescentes, situações de perigo), “Jogos Vorazes” não lembra em
nada a história dos vampiros brilhantes de Stephenie Meyer. Só pelas primeiras
cenas, filmadas com um estilo ‘câmera na mão’, já presenciamos uma
superioridade que se confirma na maturidade da história ao longo do filme. Com
um enredo improvável, a disputa sangrenta entre adolescentes seduz justamente
por seu aspecto improvável e por sua protagonista, cheia de elementos que
determinam a retidão da moral, a coragem e a destreza dignos de uma heroína. Um
abismo necessário que separa Katniss Everdeen da insossa Bella Swann.
Em um futuro apocalíptico, o único país restante é Panem,
região onde antes ficavam os Estados Unidos e que foi dividida em doze
distritos, mediante sua área de atividade econômica. Todos os anos, para manter
a ordem, a Capital ordena que os distritos enviem um casal de adolescentes
escolhido em um sorteio, onde eles serão oferecidos como tributos em um torneio
chamado Jogos Vorazes, um espetáculo televisivo assistido por toda a Panem. Mistura
de campeonato com reality show, os Jogos, no entanto, consistem na luta dos
jovens entre si, até a morte, até que apenas um sobreviva. Habitante do
Distrito 12, o mais pobre de todos, Katniss Everdeen não aceita a escolha de
sua irmã como tributo e se voluntaria para os Jogos. Ela é a escolhida ao lado
de Peeta Mellark e ambos seguem para a Capital, para serem treinados pelo bêbado
Haymitch e se enfrentarem nos Jogos, onde é cada um por si.
O mérito de “Jogos Vorazes” é nunca se entregar como um
filme adolescente. É claro que a simpatia destes é o objetivo, mas o filme se
leva muito a sério, sobretudo quando se trata da matança de verdade. Tanto que
só percebemos a crueldade dos acontecimentos quando estes são mostrados na
tela, com os jovens matando uns aos outros, literalmente! Aí se vê uma
verdadeira caça, onde todas as artimanhas para a eliminação do oponente são
válidas. Avessa à violência, Katniss prefere a estratégia para se manter viva
nos Jogos e seu caráter reto, aliado a um suposto affair com Petta, é explorado
pelos produtores do jogo e mostrado no programa de TV.
A produção espetacular do filme ajuda o espectador a se
situar, de fato, e perceber como Panem se transformou, mas é quando visitamos
os Distritos (11, 12 e a Capital) é que temos a noção de como ficou o futuro e
como é injusto controle da maioria apenas pelos mais ricos. Daí fica mais fácil
se afeiçoar à Katniss Everdeen, em um papel que destaca o talento de Jeniffer
Lawrence e a coloca de vez no mapa de Hollywood. Apesar de já conhecida por
seus papeis em “Inverno da Alma” (indicado ao Oscar) e “X-Men: Primeira Classe”,
o papel de Lawrence legitima sua posição como uma das atrizes mais requisitadas
da atualidade. Assim como seu companheiro, Josh Hutcherson, que cresceu diante
das câmeras.
-Será que vão gostar mais da gente que de Crepúsculo? |
Talvez o maior pecado de “Jogos Vorazes” seja o de não
explicar muito bem como Panem funciona, as regras do jogo e o seu próprio
sistema, deixando o expectador ser jogado no meio da informação. Essa falta de informação faz com que toda a
narrativa fique sem propósito, com o objetivo apenas de mostrar os jogos
violentos ao espectador (leia-se os habitantes de Panem) que os assiste com
passividade (o mesmo também vale para o espectador do filme). Se essa era a
intenção de Collins ao escrever o livro e roteirizado o filme, isso deveria ter
ficado mais claro. No fim, Katniss leva o filme na boa e nada disso abala o
resultado final.
“Jogos Vorazes” é um
bom filme, com uma ótima trama e merece o sucesso que faz, muito em função de
sua heroína. Porém, me preocupa o fato de que um best-seller mundial e um
blockbuster sejam baseados em uma matança entre adolescentes – e que o público
vibre com esse tipo de coisa por escolha própria. Quando aceitamos ver na tela
o assassinato dos adolescentes, é hora de repensar as coisas, porque deve ter
algo de muito errado com o mundo. Tudo bem que a trama é de ficção e que
Suzanne Collins faz uma grande crítica ao sistema capitalista dos Estados
Unidos e prevê o que o mundo pode se tornar no futuro. Daí a alimentar mentes
adolescentes com mais violência gratuita é outra história. Bom, mesmo assim,
fica o entretenimento, já que não esperamos que comecem a criar Jogos Vorazes
de verdade por aí.
*Preste atenção em quantos egressos adolescentes de outros
filmes retornam aqui: Alexander Ludwig (“A Montanha Enfeitiçada”), Isabelle
Fuhrman (“A Órfã”), Josh Hutcherson (“Zathura”, “Viagem ao Centro da Terra”),
Liam Hemsworth (“A Última Música”) e a própria Jennifer Lawrence (“X-Men: Primeira
Classe”).
Nota: 8,5
Nenhum comentário:
Postar um comentário