360
(UK/França/Brasil, 2012) De Fernando Meirelles. Com Anthony
Hopkins, Rachel Weisz, Jude Law, Maria Flor, Juliano Cazarré, Dinara Drukarova,
Jammel Debbouze, Vladimir Vdovichenkov, Ben Foster, Marianne-Jean Baptiste e Lucia
Siposová.
Fernando Meirelles se tornou internacional de vez. A prova
disso é o seu mais novo trabalho, “360”, filmado em diversas partes do mundo,
com atores de vários países, entre eles EUA, Inglaterra, França, Rússia e,
claro, Brasil. Talvez os brasileiros estranhem a presença da atriz Maria Flor e
do até ontem desconhecido Juliano Cazarré ao lado de nomes como Rachel Weisz e
Anthony Hopkins. Porém, a discrepância entre os atores mostra justamente um
lado cultural de cada país. Se por um lado temos uma pequena introspecção dos
parisienses e americanos, por outro lado, os brasileiros mostram mais
desenvoltura e os ingleses tentam se manter no mesmo espírito conservador. Em
um dado momento do filme, uma psicóloga diz ao paciente que “já viu as pessoas
se esconderem nas mais diferentes máscaras, mas conseguem realizar todos os
seus desejos secretos”. “360” se mostra uma reflexão sobre a vida, mais do que
apenas contar como a vida de várias pessoas é influenciada pelas atitudes de
outras.
Atenção, este parágrafo pode conter spoilers!: A eslovena Mirka acaba de ingressar em um mundo de
prostituição através de uma rede na internet. Sua irmã Anna desaprova, mas
ajuda a irmã a manter a identidade escondida da família. Sendo assim, Mirka
assume a identidade de Blanka. Seu primeiro cliente, o britânico Michael Daly
desiste do encontro ao pensar na esposa, Rose, que tem um caso com o fotógrafo
brasileiro Rui. A namorada de Rui, Laura, foge para o Brasil após descobrir a
traição do namorado e encontra John, um senhor que está à procura da filha. John
se encanta por Laura, mas a garota está magoada e desiste de um jantar com John
no aeroporto quando conhece Tyler, que está sendo transferido para uma casa de
reabilitação. Sem saber que Tyler é um maníaco sexual, Laura tenta seduzir o
rapaz, enquanto John voa ao que parece ser o encontro com a filha. Do outro
lado do mundo, a russa Valentina, que frequenta os AA junto com John, se
encanta pelo patrão, um dentista algeriano mulçumano que também se encanta por
ela, mas Valentina é casada com Sergei, que trabalha para um mafioso russo, que
se torna o próximo cliente de Blanka.
A história, contada pelo roteirista Peter Morgan (“A Rainha”),
dá uma volta ao redor do mundo para mostrar como pessoas diferentes podem ser
influenciadas por decisões de desconhecidos. As histórias mostradas comovem o
espectador, com uma narrativa soturna e triste, mas que em nenhum momento perde
a vivacidade e se torna algo cansativo. Apesar do clima pesado, Fernando
Meirelles consegue tornar as histórias leves, mas talvez esse seja o seu maior
erro, o de não entrar no íntimo dos personagens o suficiente, deixando-os
sempre na superfície.
O trabalho fica, então, por conta da interpretação dos
atores, que concedem aos seus personagens as características que os cercam. Jude
Law, Rachel Weisz e Anthony Hopkins são os perfeitos britânicos, enquanto Maria
Flor exala uma brasilidade que os brasileiros conhecem tão bem – sobretudo os
cariocas, tão receptivos a qualquer estranho. O elenco internacional varia
desde o brilhante francês Jammel Debouze (“O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”),
interpretando um muçulmano confuso com seus sentimentos, até a tcheca e
desconhecida Lucia Siposová, como a aventureira Blanka.
Meirelles trabalha mais uma vez com Daniel Rezende na
montagem e aposta na fotografia do também brasileiro Adriano Goldman, que já
trabalhou tanto em filmes nacionais como “O Ano em que Meus Pais Saíram de
Férias” quanto em internacionais como “A Condenação” e “Jane Eyre”. Ambos
ajudam a construção da narrativa ágil. Apesar de ser um bom filme, “360”
permanece raso em toda a projeção, deixando para o espectador imaginar mais a
fundo a alma dos personagens e os dramas vividos.
Nota: 8,0
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