sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Festival do Rio - Dançando com o diabo

09/outubro/2009
Dancing with the devil
(EUA, Brasil, 2009) De Jon Blair.

O documentário "Dançando com o diabo" ganhou certa força no Brasil após ser exibido trechos do filme em uma reportagem do "Fantástico". O boca a boca no dia seguinte foi geral, eu lembro. Afinal, como um americano qualquer entra nas nossas favelas, na polícia e no interior de uma igreja desse jeito, desmascarando facetas de bandidos, policiais e gente comum que, no fundo, todos conhecemos mas temos vergonha de admitir? Aí é que entram as controvérsias. Jon Blair não é um americano qualquer, tendo ganhado o Oscar de melhor documentário por "Anne Frank Remmbered". E outra: o filme foi, simplesmente, o melhor filme que eu assisti no Festival.

O documentário narra a guerra do tráfico em comunidades da Zona Oeste do Rio de Janeiro, sob o ponto de vista de três homens diferentes: o inspetor da polícia federal Leonardo Torres, o chefe do tráfico da favela, Aranha, e o pastor Dione, que além do trabalho de evangelização dos bandidos, cuida de outros que foram espancados e violentados por seus "companheiros".

O interessante do documentário não é só mostrar a realidade do Rio de Janeiro, que já foi explorada no cinema de várias formas. É confrontar as versões dos três personagens, que mostram cada um sua visão das coisas. 1- O bandido que culpa a polícia e se vê como o redentor da comunidade. Aranha faz concursos culturais para as crianças, distrbui alimentos, presta assistência a moradores e chega a recriminar crianças que brincam de bandidos. Culpa o governo por tudo chegar onde chegou e quer se libertar a todo custo e aceitar Jesus. 2- o policial que tem ódio de todos os bandidos e quer a punição. O comandante Leonardo descreve o risco de sua profissão e a falta de piedade de bandidos na hora de matar policiais. Eles miram com a intenção de matar. 3- O pastor que enxerga o melhor das pessoas e sabe que tem esperança para todos nos caminhos de Deus. Ao mesmo tempo, o pastor Dione age como um pacificador da comunidade, intervindo diretamente na ação dos bandidos de facções rivais. Ele chegou a ir em uma comunidade vizinha pedir trégua ao dono do morro. As ações realizadas por ele e sua igreja se estende a outros pontos do Rio de Janeiro e ele tenta a todo custo cuidar de Aranha e aconselhá-lo a largar o tráfico.
Jon Blair capta cada segundo com profissionalismo e a montagem e a trilha sonora ajudam a dar o tom perfeito para o documentário. Tudo é um tapa na cara de quem assiste - a plateia do Festival chegou a aplaudir a declaração de Aranha, quando ele diz que a culpa é do governo, que poderia investir muito mais na saúde e na educação ao invés de gastar em carros blindados. No fim das contas, quem são os culpados? O filme não justifica nenhuma ação, tanto dos bandidos quanto dos policiais. Só mostra os dois lados. O julgamento fica para a população que convive com isso todos os dias. A mesma população que vai ao cinema, na premiére do filme, bem vestida e saída de seus carros importados e suas luxuosas casas na Zona Sul. A mesma população que ajuda o tráfico a se manter, que elege maus governantes, que compactuam com a corrupção, quando elas levam vantagens. A mesma população que aplaude um incrível e belíssimo documentário, mas sai da sala de projeção de mãos atadas, querendo mas não podendo agir.

Nota: 10++

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