Chega de enrolação. Tá na hora de uma vez por todas dizer quais foram os meus melhores filmes de 2009. E 2009 foi um ano maravilhoso. Tudo bem que tivemos que encarar produções pífias, roteiros fracos e disputas monetárias. Mas também vimos nascer grandes clássicos e tivemos muitos marcos históricos. Um ano que, antes de tudo, já entrou para a história. Assim como seus filmes.
MELHOR FILME Bastardos Inglórios
Me desculpe a população azul de Pandora ou os tripulantes da Enterprise. Ou ainda os moradores da Índia. Quando um gênio do cinema atinge sua maturidade, a gente tem que reconhecer. E se teve um filme corajoso a ponto de mudar os rumos da história - e deixar coerente! - foi "Bastardos Inglórios". Um projeto que estava há anos engavetado e que só foi filmado porque Quentin Tarantino queria colocar logo um fim nele para esquecê-lo de vez. Bem, esquecer é a última coisa que o diretor vai fazer, já que essa pode ter sido a sua melhor obra de arte, comparada inclusive com o intocável "Pulp Fiction". O filme de guerra definitivo, como muitos falaram? Acho que não. O Tarantino definitivo? Esperamos que não. O melhor filme do ano passado? Com certeza!
MELHOR ATOR
Sean Penn - Harvey Milk em "Milk - A Voz da Igualdade"
Esse a Academia já tinha proclamado como o melhor, mesmo quando tudo parecia a favor de Mickey Rourke. Também não é para menos. Só um ator com a ousadia e despreendimento de Sean Penn conseuiria interpretar a figura de Harvey Milk. E não é o seu lado gay que é desafiador, e sim o ativista político que lutou pelos direitos homossexuais, foi perseguido e ainda assim teve que se manter com a cabeça erguida para defender seus ideais. Penn entrega um personagem não apenas carismático mas instigante, fazendo você repensar suas próprias questões. E é isso que queremos de um bom ator.
MELHOR ATRIZ
Kate Winslet - Hannah Schmitz em "O Leitor"
É muito ruim ir junto com a maioria, mas Kate Winslet foi uma unanimidade no ano passado. Dois filmes seus saíram de uma só vez. Com "Foi Apenas Um Sonho" vimos seu lado sonhador e libertador no papel da típica dona de casa americana. Mas em "O Leitor" vemos uma face extremamente madura de Winslet, ao interpretar uma ex-oficial nazista que não tem muito remorso pelo que cometeu simplesmente por sua ingenuidade. Hannah Schmitz é de longe o melhor personagem da atriz - e olha que bons personagens não lhe faltam. Me emocionei com Angelina Jolie, estremeci com Meryl Streep, me encantei com Audrey Tatou e me espantei com Charlotte Gainsboury. Mas Kate Winslet provou neste filme porque é uma das melhores de sua geração.
MELHOR ATOR COADJUVANTE Christoph Waltz - Hans Landa em "Bastardos Inglórios"
Mais um ponto pros Bastardos. E dessa vez para a alma do filme. O coronel Hans Landa é mesquinho, tem sangue frio, é um calhorda sem limites, falso, fingido, faz de um tudo para sempre estar por cima da carne seca. Mas ele é tudo isso sendo um dos mais carismáticos, simpáticos e inteligentes vilões da fimografia de Tarantino, senão do cinema. A personalidade foi escrita por Tarantino, mas a alma é inteira de Christoph Waltz, que deu um salto gigante para as portas abertas das oportunidades graças ao diretor, que o aprovou no filme porque queria um ator legitimamente alemão. Quem o aprova mesmo é o seu talento.
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Mélanie Laurent - Shosanna Dreyfuss em "Bastardos Inglórios"
Tá aí a versão feminina da alma do filme. Particularmente adoro Melanie neste filme e achei uma injustiça ela ter sido pouco reconhecida nesta temporada de premiações. Ela é praticamente o elo do filme, o que junta as duas partes e a força motora do principal desfecho do filme. A sede de vingança de Shosanna Dreyfuss fica nítida ao espectador no instante em que a atriz aparece, logo no terceiro ato do filme, como a dona do cinema onde tudo está prestes a ser Kaput! Melanie Laurent passa ainda a ousadia das moças francesas de uma época em que ser ousado, mesmo na França, custava a sua cabeça.
MELHOR DIREÇÃO
Quentin Tarantino - "Bastardos Inglórios"
Quando um diretor tem um estilo único, seu legado é sempre reconhecível. O que dizer quando um mestre se torna mais maduro do que nunca? Foi o que aconteceu com Tarantino em 2009. Vimos um filmão de um cara que antes brincava de cultura pop e dava certo. Com roteiro próprio, Tarantino foi à luta e mostrou que já tinha atingido um nível muito mais alto do que as pessoas julgavam. Ele provou que é um mestre no que faz e porque é um dos diretores mais cultuados de todos os tempos.
MELHOR COMÉDIA/MUSICAL
(500) Dias com Ela
Quando a comédia sensação do ano passado estreou, "Se Beber, Não Case", eu me perguntei onde é que estava a sensação toda, porque, por mais que a história seja mirabolante, não havia muita coisa de diferente. A comédia definitiva (e original) do ano passado é mesmo "(500) Dias com Ela", que pode nem ser tão engraçada quanto a ressaca do filme aí de cima, mas é bem mais leve e apaixonante, com todo o mérito dado ao diretor Marc Webber. Muito mais gente precisa se deixar levar por 500 dias com Summer.
MELHOR FILME DE AÇÃO
Star Trek
Reinventar uma série como "Jornada nas Estrelas", uma das obras da ficção com fãs mais ferrenhos, agradar a quem não gostava da série original e ainda colocar cenas de ação sem mexer no ritmo do roteiro deve ter sido um desafio imenso para J.J. Abrams. Mas o diretor deve ter uma cabeça incrível, sendo o "geek" que é. Afinal, o cara é também um fã da série original, mas sabe como ninguém como conduzir cultura pop contemporânea (vide "Lost"), além de ter vivido uma experiência em ação com "Missão Impossível 3". Mistura tudo isso de bom que dá "Star Trek".
MELHOR FILME DE TERROR/SUSPENSE
Arrasta-me Para o Inferno
Me diz uma coisa. Você riu pra caramba com "Arrasta-me Para o Inferno", não riu? Mas vai pensar duas vezes em negar favores a uma velhinha suspeita, não vai? É esse o espírito de um bom filme de terror, como esse grande achado de Sam Raimi, que não insere piadas sem graça no filme - elas estão lá desde o início e convivem harmoniosamente com o suspense que cerca a trama. Com um desfecho de deixar qualquer um boquiaberto e com toda a tortura que passou a personagem Christine Brown, não tinha como verificar duas vezes se tinha alguém no seu quarto antes de dormir, depois de assistir ao filme.
MELHOR DRAMA
A Troca
Christine Collins perdeu o filho na Los Angeles dos anos 1920, nunca o recuperou de volta, mas também não perdeu a esperança. Essa história foi contada magistralmente por Clint Eastwood, com uma atuação impecável da maravilhosa Angelina Jolie, indicada ao Oscar pelo papel. O sofrimento da personagem está estampado de uma forma mais do que comovente, mas que faz despertar todos os instintos paternais de cada um. Uma frase que entrou para a história. "Stop saying that! You're not my son! I want my son back! I WANT MY SON BACK!".
MELHOR ROMANCE
(500) Dias com Ela
Comédia romântica é tudo igual né? O casal principal passa por alguns percalços durante o filme todo, daí eles percebem que se amam mas brigam por alguma razão. Até que o cara percebe o quanto é burro por deixar uma mulher como ela escapar e eles fazem as pazes no fim, geralmente com uma declaração de amor bonitinha. E de preferencia o filme tem que ter um pôster em branco, preto e vermelho. Bom, "(500) Dias com Ela" não tem nada disso e ainda assim é a melhor comédia romântica que eu já assisti, eu acho. Não dá pra não se encantar com as personagens de Zooey Deschanel e Joseph Gordon-Levitt. São realistas e irreais demais para caber num filme só, mas cabem.
MELHOR CANÇÃO
"Jai Ho", Música: A.R. Rahman, letra: Gulzar & Tanvi Shah - "Quem Quer Ser Um Milionário"
Falando a verdade, o ano passado foi o ano da Índia. Mesmo fora da Índia. Mais precisamente aqui no Brasil. Tivemos novela sobre a Ìndia, um filme sobre a Índia vencedor do Oscar e uma canção que não dá pra tirar da cabeça. "Jai Ho", tocada ao fim do filme, mostra como mesmo depois de uma grande e sofrida batalha, a comemoração pela vitória é sempre melhor. Quero deixar lembrado também o quanto "The Climb", de "Hannah Montana - O Filme" ficou marcado também esse ano que passou na minha memória.
MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
Up - Altas Aventuras
Nem precisa de justificativa, mas vamos lá. Todo mundo já disse isso, mas a Pixar arriscou muito ao lançar um filme para crianças - teoricamente - com um personagem idoso. Mais do que isso, nos trailers, Carl Fredericksen não era mostrado como uma pessoa amável, e sim como um velho rabugento que, cansado da vida, se manda pro Paraíso das Cachoeiras na casa içada por balões. Bom, todo o resto tá certo no filme, menos a parte do velho rabugento! Justamente para explicar a natureza do personagem, no primeiros minutos do filme somos apresentados a toda a história do velhinho, o que por si só já é suficiente pra nos deixar encantados.
MELHOR FILME DE FICÇÃO CIENTÍFICA / BASEADO EM HQ Avatar
Você pensou que "Avatar" estaria fora né? Confesso, sou muito fã do filme. Mas com o tempo fui percebendo a canastrice dele, o suficiente para concordar com a Academia e não dar o filme como o melhor do ano. Mesmo assim, o fenômeno é inegável e dentro de sua categoria "Avatar" é único. James Cameron criou um mundo próprio, com um ecossistema que funciona em harmonia e com uma linguagem própria que realmente faz sentido. Junta tudo com questões ambientais plausíveis, máquinas futuristas e toda a tecnologia presente no filme. Quer mais ficção científica do que isso?
MELHOR FILME ESTRANGEIRO NÃO NORTE-AMERICANO
A Teta Assustada (La Teta Assuatada) - Peru
Quantos filmes peruanos conseguem destaque fora do Peru? Eu só consigo lembrar de um de cabeça e é justamente "A Teta Assustada", que não só conseguiu o feito de colocar o país em evidência como tem uma das histórias mais surpreendentes do cinema latino-americano dos últimos tempos (sem exagero). Prova é a indicação dele ao Oscar de melhor filme estrangeiro, ao lado do vencedor "O Segredo de Seus Olhos", da Argentina, que só não está na minha lista porque só estreou por aqui em 2010. Aprende, Brasil.
MELHOR CENA DE EFEITOS ESPECIAIS Bombardeio da Casa da Árvore (e o resto do filme) - Avatar
Se tem uma unanimidade é a mudança que "Avatar" representou na indústria cinematográfica. Não só o 3D vai ser largamente utilizado daqui pra frente como técnicas de filmagem, uso de CGI, captura de performance, enfim, um mundo de coisas vai ser usado, graças ao grande "dever de casa" de James Cameron. A cena do bombardeio da casa da árvore, onde só uns 5% era real (apenas alguns atores de carne e osso, como Stephen Lang), mostra como o filme todo pode copiar a realidade de uma tal forma que conduza o espectador a aceitar aquilo como verdade mesmo.
MELHOR FILME NACIONAL
Se Nada Mais Der Certo
Esqueça "Se Eu Fosse Você 2", nossa maior bilheteria (grrrrr). "Salve Geral" é um bom filme, mas nem de longe deveria ter preenchido a vaga do Brasil no Oscar. O ano foi repleto de filmes-musicais e nesse gênero "Simonal - Ninguém Sabe o Duro Que Eu dei" é o melhor. Mas, por alguma razão aqui no Brasil os filmes ousados são deixados de lado por uma coisa mais clichê. Pra mim, o melhor nacional é o vencedor do Festival do Rio de 2008, "Se Nada Mais Der Certo", longa que revelou uma grande jovem atriz, Caroline Abras, vencedora do prêmio de melhor atriz no mesmo Festival, e me fez ver que Cauã Reymond é mais do que um rosto bonito, mas tem mesmo uma grande veia de atuação. Um grande trabalho do diretor José Eduardo Belmonte.
MELHOR ATOR NACIONAL
Daniel de Oliveira - Santinho em "A Festa da Menina Morta"
Mais uma vez o ator Daniel de Oliveira mostra o assombro que é uma atuação sua no cinema nacional. Ele já havia mostrado seu talento em filmes como "Cazuza" e "Zuzu Angel", mas seu personagem no filme de estreia de Matheus Nachtergaele na direção extrapola os limites do aceitável socialmente e entra numa realidade impensável pra algumas pessoas. Seu personagem é um milagreiro de um vilarejo numa região ribeirinha do interior do Brasil. Ele mostra que o nosso país tem mais coisas que nós não sabemos do que aquilo que nós queremos acreditar que exista. Intenso e profundo. Desafio vencido, embora o filme seja um embrulho no estômago.
MELHOR ATRIZ NACIONAL
Andréa Beltrão - Lúcia em "Salve Geral"
Ela já foi uma grande atriz de dramas em novelas e uma de suas personagens mais marcantes foi na novela "A Viagem". Porém o talento inegável de Andréa Beltrão na comédia faz com que nós estejamos acostumados com papeis como a Radical Chic ou a Marilda de "A Grande Família". Imagina então o assombro de ver a atriz voltando ao drama com tudo em dois filmes. "Verônica", onde ela é uma professora que enfrenta o tráfico para proteger um aluno testemunha de um crime, e "Salve Geral", pelo qual ela ganha aqui, interpretando a mãe de um presidiário em pleno ataque do PCC à cidade de São Paulo. Simplesmente fenomenal. Menção honrosa para Lília Cabral, que ganhou definitivamente minha admiração depois de "Divã".
FILME DE VAMPIROS DO ANO
Deixa Ela Entrar
Quem gritou horrores nas filas quilométricas que levavam às sessões de "Lua Nova" não faz ideia de que raio de filme é esse. Mas esse exemplar vindo da Suécia mostra um drama vampiresco único, que surpreendeu em festivais em todo o mundo. "Deixa Ele Entrar" mostra a amizade entre um menino, Oskar, e sua nova vizinha, que é normal quando está alimentada, mas vira uma fera quando está com fome. Ou seja, de mal a mal, temos vampiros de verdade! Tente assistir em DVD porque vale a pena. Agora, falando a verdade, "Lua Nova" nem é filme de vampiros, é de lobisomens...
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