segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Os Miseráveis


Les Misérables
(EUA, UK 2012) de Tom Hooper. Com Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Eddie Redmayne, Samantha Barks, Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen.

“Os Miseráveis” é uma das mais conhecidas e cultuadas histórias do mundo. Já foi representada várias vezes e já serviu de inspiração para diversas mídias, desde novela da Globo a episódio de desenho animado. A versão musical tem canções que já participaram de séries de TV e também de programas de calouros. Recontar esta história no cinema, com base justamente no bem sucedido musical – além da versão original escrita por Vitor Hugo em 1862 -, foi o desafio do diretor Tom Hooper, recém-saído de um Oscar de Melhor Diretor por “O Discurso do Rei”. De fato, quem já gosta do musical vai adorar o filme de cara. Quem não conhece nada ou pouco, também consegue se envolver facilmente na história, mas “Os Miseráveis” está longe de ser um filme impecável. É um filme lindo que é salvo por ótimas atuações, mas que tem uma narrativa um pouco desconexa e sem sentido, piorado ainda pela decisão de fazê-lo todo cantado. Uma experiência notável no cinema, mas que ainda requer algum aperfeiçoamento para cativar ainda mais o gosto do público e para evitar que o filme saia do drama e caia acidentalmente na comédia.

Após ser preso por roubar um pão para a sua irmã, Jean Valjean consegue liberdade condicional, mas acaba caindo novamente no delito. Auxiliado por um bispo, ele consegue fugir e começa uma vida nova, mas não deixa de ser seguido pelo oficial Javert, que fica obstinado em sua captura. Mais tarde, conhecido como o Prefeito, ele esbarra com a pobre Fantine, uma ex-operária de sua fábrica que foi demitida injustamente e que acabou tendo que se prostituir para conseguir sustento para sua filha, Cosette. Sentindo-se responsável, Jean Valjean encontra Cosette e passa a criá-la, até que anos mais tarde a moça descobre o amor no meio de uma revolução em Paris, se apaixonando pelo jovem Marius.


Por ser inteiramente cantado, “Os Miseráveis” pode soar um pouco cansativo, mas isso acaba prejudicando mais ainda a sua narrativa. Algumas coisas perdem o sentido e situações ficam sem respostas plausíveis. A opção do diretor por closes nos rostos dos atores também é um fator determinante. Se por um lado essa técnica destaca o sofrimento e angústia de Anne Hathaway quando canta “I Dreamed a Dream”, ou em Samantha Barks, com “On My Own”, completamente favorecendo a atuação das duas, por outro lado, isso prejudica quando a performance não é tão boa cantando. Russell Crowe é, notadamente, o mais prejudicado e sua cantoria não convence tanto como os outros atores.


Hugh Jackman, como Jean Valjean, consegue a melhor performance da sua carreira, dando vida a um personagem sofrido, mas que é atormentado por sua própria consciência por ter fugido enquanto devia prestar contas com a lei. Outro grande destaque é Anne Hathaway, que estampa o sofrimento da personagem Fantine em todos os momentos em que aparece. A cena de “I Dreamed a Dream”, sem focar no cenário ou mudança de câmera, mostrando apenas o rosto de Anne Hathaway, é um dos melhores momentos do filme, se não o melhor.

Mas uma das grandes revelações de “Os Miseráveis” é Samantha Barks, atriz que já havia participado da montagem teatral e que reprisa o papel de Eponine, uma moça que também é apaixonada por Marius, mas é preterida por Cosette. Embora não tenha tanto destaque na trama, Barks mostra uma enorme potência em suas cenas, apagando, inclusive, a própria Cosette, vivida por Amanda Seyfried. Eddie Redmayne como Marius e os jovens da revolução também se destacam. O alívio cômico fica por conta de Helena Bonham Carter e Sacha Bahron Cohen.


Indicado a 8 Oscars, “Os Miseráveis” tem uma produção caprichada e impressiona por contar a história clássica com boas atuações. O roteiro tem furos (alguns momentos que são um tiro no pé), o que não chega a comprometer seu resultado final, demonstrando a força dos musicais nos últimos anos. O filme é a prova de como uma boa e caprichada produção pode dar vida a uma história tão bela, encantando plateias em pleno século 21 com uma história do século 19.

Nota: 8,0 

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