Les Misérables
(EUA, UK 2012) de Tom Hooper. Com Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway,
Amanda Seyfried, Eddie Redmayne, Samantha Barks, Helena Bonham Carter e Sacha
Baron Cohen.
“Os Miseráveis” é uma das mais conhecidas e cultuadas histórias
do mundo. Já foi representada várias vezes e já serviu de inspiração para
diversas mídias, desde novela da Globo a episódio de desenho animado. A versão
musical tem canções que já participaram de séries de TV e também de programas
de calouros. Recontar esta história no cinema, com base justamente no bem sucedido
musical – além da versão original escrita por Vitor Hugo em 1862 -, foi o
desafio do diretor Tom Hooper, recém-saído de um Oscar de Melhor Diretor por “O
Discurso do Rei”. De fato, quem já gosta do musical vai adorar o filme de cara.
Quem não conhece nada ou pouco, também consegue se envolver facilmente na
história, mas “Os Miseráveis” está longe de ser um filme impecável. É um filme
lindo que é salvo por ótimas atuações, mas que tem uma narrativa um pouco
desconexa e sem sentido, piorado ainda pela decisão de fazê-lo todo cantado.
Uma experiência notável no cinema, mas que ainda requer algum aperfeiçoamento
para cativar ainda mais o gosto do público e para evitar que o filme saia do
drama e caia acidentalmente na comédia.
Após ser preso por roubar um pão para a sua irmã, Jean
Valjean consegue liberdade condicional, mas acaba caindo novamente no delito.
Auxiliado por um bispo, ele consegue fugir e começa uma vida nova, mas não
deixa de ser seguido pelo oficial Javert, que fica obstinado em sua captura.
Mais tarde, conhecido como o Prefeito, ele esbarra com a pobre Fantine, uma
ex-operária de sua fábrica que foi demitida injustamente e que acabou tendo que
se prostituir para conseguir sustento para sua filha, Cosette. Sentindo-se
responsável, Jean Valjean encontra Cosette e passa a criá-la, até que anos mais
tarde a moça descobre o amor no meio de uma revolução em Paris, se apaixonando
pelo jovem Marius.
Por ser inteiramente cantado, “Os Miseráveis” pode soar um
pouco cansativo, mas isso acaba prejudicando mais ainda a sua narrativa.
Algumas coisas perdem o sentido e situações ficam sem respostas plausíveis. A
opção do diretor por closes nos rostos dos atores também é um fator determinante.
Se por um lado essa técnica destaca o sofrimento e angústia de Anne Hathaway
quando canta “I Dreamed a Dream”, ou em Samantha Barks, com “On My Own”,
completamente favorecendo a atuação das duas, por outro lado, isso prejudica
quando a performance não é tão boa cantando. Russell Crowe é, notadamente, o
mais prejudicado e sua cantoria não convence tanto como os outros atores.
Hugh Jackman, como Jean Valjean, consegue a melhor performance da sua carreira, dando vida a um personagem sofrido, mas que é atormentado por sua própria consciência por ter fugido enquanto devia prestar contas com a lei. Outro grande destaque é Anne Hathaway, que estampa o sofrimento da personagem Fantine em todos os momentos em que aparece. A cena de “I Dreamed a Dream”, sem focar no cenário ou mudança de câmera, mostrando apenas o rosto de Anne Hathaway, é um dos melhores momentos do filme, se não o melhor.
Mas uma das grandes revelações de “Os Miseráveis” é Samantha
Barks, atriz que já havia participado da montagem teatral e que reprisa o papel
de Eponine, uma moça que também é apaixonada por Marius, mas é preterida por
Cosette. Embora não tenha tanto destaque na trama, Barks mostra uma enorme
potência em suas cenas, apagando, inclusive, a própria Cosette, vivida por
Amanda Seyfried. Eddie Redmayne como Marius e os jovens da revolução também se
destacam. O alívio cômico fica por conta de Helena Bonham Carter e Sacha Bahron
Cohen.
Indicado a 8 Oscars, “Os Miseráveis” tem uma produção
caprichada e impressiona por contar a história clássica com boas atuações. O
roteiro tem furos (alguns momentos que são um tiro no pé), o que não chega a
comprometer seu resultado final, demonstrando a força dos musicais nos últimos
anos. O filme é a prova de como uma boa e caprichada produção pode dar vida a
uma história tão bela, encantando plateias em pleno século 21 com uma história
do século 19.
Nota: 8,0
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