De importante mesmo, Christopher Nolan só venceu o Writers Guild Award, o prêmio do sindicato dos roteiristas. “A Origem” foi indicado em 8 Oscars e só deve vencer mesmo em áreas mais técnicas. O diretor não foi lembrado na categoria que o comporta, Melhor Direção. E mesmo em Roteiro Original, única categoria em que talvez se resida um reduto de esperança para o filme, o páreo está duro. “Cisne Negro”, “Another Year”, “O Vencedor” e “O Discurso do Rei”.
Mesmo assim, sem o favoritismo que lhe parecia óbvio quando do lançamento, “A Origem” teve o reconhecimento devido – oito indicações não são pra qualquer um. Se o filme não chega correndo na frente pelas estatuetas, isso se deve a fatores que vão desde outros filmes com igual ou superior potencial até questões políticas mesmo (Nolan é o homem que mudou as regras da Academia, praticamente).
Uma trama muito bem arquitetada, muito mais pelo visual e pelo roteiro, do que pela interpretação dos atores. Todo o mundo dos sonhos construído por Nolan faz parte de uma orquestra dirigida com maestria por ele. Apesar de os sonhos dentro dos sonhos causarem uma espécie de confusão mental no espectador, que nem se lembra lá pelas tantas em que camada de sonhos eles estão, o filme é um thriller de ação eficiente e que te deixa com o coração perto da goela. Sem falar que, como de costume nos filmes do diretor, um mistério paira no ar e deixa você com aquela cara de "WTF?".
O mais interessante sobre "A Origem" é a reflexão sobre sonho e realidade. Um discurso muito próximo ao que "Matrix" já tinha plantado nas aulas de filosofia há dez anos atrás. Nolan explorou cada pedaço milimétrico de questões que sempre intrigaram a humanidade. Porque sonhamos? Pra que servem os sonhos? Wes Craven já tinha percebido que esse é o nosso estágio mais vulnerável quando criou o serial killer Freddy Krueger. É quando sonhamos que a nossa mente está mais livre, protegida dos olhares alheios e talvez o único lugar onde podemos ser 100% nós mesmos. Não dá pra se esconder em sonhos. "A Origem" fala disso, fala de realidade, mas não a de dentro do sonho: a realidade que tentamos esconder neles. Danem-se os puristas do cinema que não entenderam que esse não é um filme qualquer. É um filme de Nolan. Não importa quem ganhe a estatueta, o maior filme do ano passado foi “A Origem”, e ponto final.
*Indicado ao Oscar de Melhor Filme, Roteiro Original, Efeitos Visuais, Trilha Sonora, Fotografia, Direção de Arte, Mixagem de Som e Edição de Som.
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