(Brasil, 2012). De Marcos Prado. Com Nathália Dill, Luca
Bianchi, Lívia de Bueno, César Cardadeiro, Bernardo Melo Barreto.
De tudo que pode ter sido feito no Brasil recente, “Paraísos
Artificiais” é, no mínimo, original. A história foge de tramas convencionais
comuns no nosso cinema e envereda pelo mundo das raves, das drogas e de uma juventude confusa e perdida, situação cada
vez mais frequente na nossa sociedade. No entanto, o filme peca ao perder a
originalidade em certo ponto e cair no clichê da história de amor bobinha,
sobretudo quando tal história é sustentada por personagens vazios e sem
objetivo na vida a não ser “zoar”, curtir o momento, viver a vida enquanto se
está vivo. Aqui, acabo por colocar um tom pessoal na crítica do filme – coisa que
raramente faço. Para quem veio de uma realidade um tanto quanto diferente da
mostrada do filme, é difícil conceber que existam tantos filhinhos de mamãe e
papai, que não gastam um centavo do próprio dinheiro (uma vez que ele não existe)
e caem no mundo atrás da onda perfeita, participando de festas Brasil afora, a
ponto de não ter um pingo de responsabilidade com a própria vida ou futuro. E
se o filme nos obriga a entrar em contato com esse mundo, onde ir para Amsterdã
“dar uma volta” é comum, é de se envergonhar que um filme insista em apresentar
esse mundo, sem um pingo de crítica social. Mas eu divaguei. Sobre o quê é o
filme mesmo?
Nando acaba de sair da cadeia e retorna ao convívio da
família, um pouco destruída após a prisão dele e da morte do pai. Com seu
retorno, ele começa a relembrar o passado, como a viagem para Amsterdã que
proporcionou o encontro com Érika, uma DJ brasileira em turnê pela Europa. Lá,
Érika sabe que já viu Nando anteriormente, mas o rapaz não se recorda. É quando
entramos em um flashback, que mostram eventos de quatro anos antes, quando
Érika ainda era uma DJ iniciante tocando em uma rave brasileira numa praia nordestina e apaixonada por Lara, sua
amante e melhor amiga. Nando está na mesma festa, regada a bebidas, drogas,
música eletrônica e meditação. O destino de Érika, Nando e Lara muda com essa
festa, provocando uma série de eventos que nenhum dos três jamais imaginara.
Bem filmado e montado, com uma trilha sonora baseada na música eletrônica que embala bem a trama, “Paraísos Artificiais” impacta o espectador com a história dos protagonistas, mas esquece de aprofundar a história e o caráter dos personagens. Do elenco, Nathália Dill se destaca como a perturbada Érika, despindo-se de qualquer pudor para encarnar as cenas mais picantes exigidas pelo roteiro. Sim, há nudez mas ela não é gratuita, um dos pontos positivos do filme. O problema é a própria personagem, a desconjuntada Érika, que se aventura por drogas alucinógenas e se perde nos próprios pesadelos, que mais confundem do que ajudam o espectador.
Filme de estreia do produtor Marcos Prado, parceiro de José
Padilha em filmes como “Ônibus 174” e “Tropa de Elite”, “Paraísos Artificiais”
dá o seu recado de forma eficiente, mostrando de forma incisiva as consequências
de se deixar levar pelo dinheiro fácil e pelas drogas. Porém, ao romantizar a
história, o sentido se perde fazendo com que a trama termine sem um desfecho
apropriado.
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