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terça-feira, 22 de maio de 2012

Paraísos Artificiais

 Paraísos Artificiais
(Brasil, 2012). De Marcos Prado. Com Nathália Dill, Luca Bianchi, Lívia de Bueno, César Cardadeiro, Bernardo Melo Barreto.

De tudo que pode ter sido feito no Brasil recente, “Paraísos Artificiais” é, no mínimo, original. A história foge de tramas convencionais comuns no nosso cinema e envereda pelo mundo das raves, das drogas e de uma juventude confusa e perdida, situação cada vez mais frequente na nossa sociedade. No entanto, o filme peca ao perder a originalidade em certo ponto e cair no clichê da história de amor bobinha, sobretudo quando tal história é sustentada por personagens vazios e sem objetivo na vida a não ser “zoar”, curtir o momento, viver a vida enquanto se está vivo. Aqui, acabo por colocar um tom pessoal na crítica do filme – coisa que raramente faço. Para quem veio de uma realidade um tanto quanto diferente da mostrada do filme, é difícil conceber que existam tantos filhinhos de mamãe e papai, que não gastam um centavo do próprio dinheiro (uma vez que ele não existe) e caem no mundo atrás da onda perfeita, participando de festas Brasil afora, a ponto de não ter um pingo de responsabilidade com a própria vida ou futuro. E se o filme nos obriga a entrar em contato com esse mundo, onde ir para Amsterdã “dar uma volta” é comum, é de se envergonhar que um filme insista em apresentar esse mundo, sem um pingo de crítica social. Mas eu divaguei. Sobre o quê é o filme mesmo?


Nando acaba de sair da cadeia e retorna ao convívio da família, um pouco destruída após a prisão dele e da morte do pai. Com seu retorno, ele começa a relembrar o passado, como a viagem para Amsterdã que proporcionou o encontro com Érika, uma DJ brasileira em turnê pela Europa. Lá, Érika sabe que já viu Nando anteriormente, mas o rapaz não se recorda. É quando entramos em um flashback, que mostram eventos de quatro anos antes, quando Érika ainda era uma DJ iniciante tocando em uma rave brasileira numa praia nordestina e apaixonada por Lara, sua amante e melhor amiga. Nando está na mesma festa, regada a bebidas, drogas, música eletrônica e meditação. O destino de Érika, Nando e Lara muda com essa festa, provocando uma série de eventos que nenhum dos três jamais imaginara.

Bem filmado e montado, com uma trilha sonora baseada na música eletrônica que embala bem a trama, “Paraísos Artificiais” impacta o espectador com a história dos protagonistas, mas esquece de aprofundar a história e o caráter dos personagens. Do elenco, Nathália Dill se destaca como a perturbada Érika, despindo-se de qualquer pudor para encarnar as cenas mais picantes exigidas pelo roteiro. Sim, há nudez mas ela não é gratuita, um dos pontos positivos do filme. O problema é a própria personagem, a desconjuntada Érika, que se aventura por drogas alucinógenas e se perde nos próprios pesadelos, que mais confundem do que ajudam o espectador. 

Filme de estreia do produtor Marcos Prado, parceiro de José Padilha em filmes como “Ônibus 174” e “Tropa de Elite”, “Paraísos Artificiais” dá o seu recado de forma eficiente, mostrando de forma incisiva as consequências de se deixar levar pelo dinheiro fácil e pelas drogas. Porém, ao romantizar a história, o sentido se perde fazendo com que a trama termine sem um desfecho apropriado.


Nota: 6,5


terça-feira, 29 de março de 2011

VIPs


VIP’s
(Brasil, 2010) De Toniko Melo. Com Wagner Moura, Roger Gobeth, Milhem Cortaz, Jorge D’Elia, Gisele Fróes, Juliano Cazarré.

Marcelo Nascimento passou quatro dias fingindo ser o filho do dono da empresa de aviação Gol, durante o Recifolia de 2001. Enganou um monte de gente, inclusive os atores Carolina Dieckman, Marcos Frota e Ricardo Macchi. Essa é a história que ficou conhecida do grande público, até porque o pilantrão fez questão de dar uma entrevista histórica para Amaury Jr. O resto pode ser conferido em “VIP’s”, longa de estreia de Toniko Melo que se aproveita de parte da história para narrar uma trama fictícia. Alguns fatos foram distorcidos (até mesmo para preservar a imagem de quem se viu vítima do golpe), mas a maioria se mantém fiel ao livro “Histórias Reais de um Mentiroso”, de Mariana Caltabiano. O longa venceu o Festival do Rio 2010, inclusive com prêmios de Melhor Ator para Wagner Moura, Melhor Ator Coadjuvante para Jorge D’Elia e Melhor Atriz Coadjuvante para Gisele Fróes.

Louco por aviação, o jovem Marcelo, apelidado de Bizarro por alguns conhecidos, decide fugir de casa em busca do sonho de se tornar piloto de avião, como o pai. Perito na arte de imitar e enganar os outros, ele se mete com um cartel paraguaio de drogas para conseguir sua habilitação. Depois de ser preso e depois liberado, ele retorna ao Brasil ainda com o sonho de ser alguém importante. É quando ele planeja dar um golpe maior do que ele mesmo imaginara. Ele não sabia, porém, era o quanto esse golpe daria certo, e se não fosse por alguns deslizes, nem daria errado no fim.


Confesso que esperava mais de “VIP’s”. Vencedor do último Festival do Rio, com sessões disputadas a tapas, o longa de Toniko Melo se limita apenas a tentar fazer com que o espectador se afeiçoe ao “bandido problemático” com uma trilha sonora bem amarrada e imagens bem filmadas. Porém o roteiro é fraco e sem vida. Como todo mundo já sabe da história, o diretor apenas conduziu a narrativa. Até o que deveria ser surpresa todo mundo já saca bem antes do final do filme.

O filme tem boas piadas, além de fazer lembrar de que essa foi uma história real e aí sim o espectador se pega pensando em como alguém conseguiu bolar uma trama dessas. A forma como foi trabalhado o conflito interno do personagem, de parecer não saber quem é e “não fazer isso por mal” também merece destaque. Sem falar que Wagner Moura salva qualquer cena em que apareça, mostrando um personagem altamente fragilizado por traumas que não são explicados. Aliás, nada é muito explicado no filme, você tem que deduzir sozinho como alguém consegue um helicóptero, um quarto de hotel luxuoso, seguranças e entrada numa área VIP simplesmente na base do nome e da lábia. Pensando bem, nem é tão difícil assim. A famosa carteirada acontece o tempo todo, mas enfim, isso é outra história.



“VIP’s” parecia mais. No fim, fica uma história interessante que com certeza se encaixa em um nível diferente do cinema nacional, em que pelo menos se tenta fazer uma história de verdade. Só me chama a atenção o fato de não terem conseguido nenhum adolescente mais cabeludinho pra fazer o Marcelo nessa faixa etária. O próprio Moura (tentou) interpreta(r) o garoto. Tinham que colocar o Wagner Moura emo? Se bem que, em se tratando do ator, que já interpretou até uma mulher na TV, qualquer papel é bem realizado.



Nota: 6,0

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Tropa de Elite 2


Tropa de Elite 2
(Brasil, 2010) De José Padilha. Com Wagner Moura, Irandhir Santos, André Ramiro, Maria Ribeiro, Thainá Muller, André Mattos, Milhem Cortaz e Seu Jorge.

Em 2007, um dos maiores filmes brasileiros estava sendo lançado. Isso em outubro, depois de um imenso barulho que o filme já estava fazendo havia meses, devido à venda de cópias piratas, em um camelô perto de você. Bravamente, contra toda a corrente que já esbravejava bordões como "Pede Pra Sair", "Faca na Caveira", "Bandido Bom é Bandido Morto" e afins, eu assiti ao filme apenas na sua estreia no cinema. Lembro do arrepio que deu quando começam os créditos iniciais e toca a música tema do filme, "Tropa de Elite", do Tijuana. Três anos depois, o burburinho é o mesmo, mas não por causa da pirataria, e sim por causa do combate a ela. "Tropa 2" chegou aguçando a mesma multidão que anos atrás aclamou Capitão Nascimento como ícone. O filme começa. Créditos iniciais com a mesma música tema. Arrepios.

Na continuação do filme de 2007, Roberto Nascimento, agora Coronel Nascimento, comanda o serviço de inteligência da Polícia Militar, após um incidente em Bangu 1 que o tirou do BOPE. Neste novo serviço, ele vai continuar a sua luta contra o tráfico, dando mais artilharia e condições para o BOPE, o que favorece um outro sistema corrupto, que se aproveita da expulsão do tráfico para ocupar as comunidades, cobrando por serviços: as milícias. Nascimento vai agora combater um inimigo que se encontra dentro da polícia, além de ter que resolver suas próprias questões familiares. Seu filho de 15 anos está cada vez mais distante e sua ex-mulher se casou novamente com um dos adversários de Nascimento, o ativista dos Direitos Humanos, Diogo Fraga. O problema é que Nascimento nem desconfia que o sistema corrupto que tem que combater tem proporções muito maiores do que imagina.


Nem dá pra dizer o quanto "Tropa 2" conseguiu se superar ao original. Talvez porque agora os eventos do filme estão muito mais próximos da realidade atual do Rio de Janeiro, fazendo com que todos os cariocas tenham aquela sensação de deja-vú. É muito dificil não relacionar cada personagem da ficção com os personagens da vida real, e ao mesmo tempo, não tem como você dizer que não é ficção. Mérito de José Padilha e Bráulio Mantovani, roteiristas do filme, que construiram um longa com uma ótima narrativa. Padilha também é mestre na direção, com imagens e angulações de câmera muito melhores do que em "Tropa 1".



Se por um lado a narrativa é a base para o filme funcionar, as atuações são a execução perfeita. Wagner Moura sustenta com perfeição o personagem que nasceu pra fazer, o osso-duro-de-roer e cismado Coronel Nascimento, que sempre busca fazer o bem e combater quem não faz. Todo o elenco se encaixa perfeitamente em seus papeis, ajudando o filme a ter um a carga dramática muito maior do que o primeiro. Mas é Wagner quem sempre traz de volta a essência do filme, quando o espectador acha que já está vendo um documentário.



Mesmo sem ter tantas referências que devem ficar na cultura pop brasileira, como o primeiro tinha, "Tropa de Elite 2" acerta ao trazer uma conotação profundamente política, como nunca antes vista no cinema nacional. É um filme que faz pensar e refletir sobre quem é quem no nosso cotidiano. Uma pena que o longa não tenha saído antes do primeiro turno das eleições. Muito deputado ia perder voto. Pena também que a maior parte da plateia que estava comigo no cinema (lotado) ficou decepcionada ao ver que não tinha tanta ação nesse segundo filme, e preferia ver mais balas comendo, mais vagabundo morrendo, ao invés de uma reflexão do nosso tempo*. É um erro achar que a franquia "Tropa de Elite" é só pra entreter as massas. Quem tem ouvidos, ouça.

Nota: 10



*Observação feita a partir dos comentários ouvidos ao término da sessão, feitos por espectadores do filme no UCI Kinoplex Norteshopping, no dia 10/10/10.

sábado, 8 de maio de 2010

Segurança Nacional


Segurança Nacional / S.O.S. Brasil
(Brasil, 2010) De Roberto Carminati. Com Thiago Lacerda, Milton Gonçalves, Ângela Vieira, Viviane Victoretti, Gracindo Jr., Joaquín Cosio, Aílton Graça e Sônia Lima.

"Segurança Nacional" tem os seus pontos fortes. É um filme completamente nacionalista e ufanista e são poucos os filmes assim no nosso país. Acho que o último assim foi "Policarpo Quaresma". Afinal, vemos em filmes americanos a bandeira deles ostentada a torto e à direito e seus soldados mostrados como bravos heróis de guerra. O problema com o filme é levar esse ufanismo faltante no cotidiano do brasileiro e elevar à enésima potência, fazendo um filme tosco e completamente desconjuntado, tanto que dá vontade de rir.

No filme, Thiago Lacerda é Marcos, um agente da ABIN, a Agência Brasileira de Inteligência - que existe mesmo - que investiga pontos de entrada de drogas de países como a Colômbia nas fronteiras amazônicas. Para isso, a ABIN inventou o SIVAM, o Sistema de Vigilância da Amazônia, que funciona como um radar do narcotráfico. Quem não está contente com isso é Hector Gasca, chefe de um cartel colombiano que ataca o Brasil de todas as formas que ele conhece: sequestrando políticos, atacando militares e, por último mas não menos importante, lançando duas bombas atômicas. Quem frustra esses planos todos é o agente Marcos, que com o apoio da diretora da ABIN, Gloria, e do presidente da República Ernesto Dantas, comanda o Exército e a Força Aérea na luta para acabar com o tráfico. Quando Gasca decide explodir uma bomba atômica no meio de Florianópolis, e sequestra a namorada de Marcos, Fernanda, que, pasmen!, é filha da Dra. Gloria mas que ele não sabia, é Marcos quem tem que resolver o problema, tendo consigo o apoio das invencíveis Forças Armadas Brasileiras.

O filme parece ter sido roteirizado por algum agente do Ministério da Defesa, porque ele está muito mais focado em mostrar o trabalho do exército do que em criar um filme de ação. Mesmo quando essas cenas de ação acontecem, à lá Hollywood, elas não tem nenhum tipo de adrenalina e não prendem o espectador. Sem falar que os traficantes colombianos são bem fraquinhos e o Exército, aparentemente pode resolver tudo. Principalmente o agente interpretado por Thiago Lacerda, que parece ter sido uma mistura de Jack Bauer com alguém do seriado "Força-Tarefa" (que por sinal, é melhor que esse filme).

E eis que no meio do caminho está uma trama piegas do romance de Marcos e Fernanda (embalada pela trilha sonora brega com músicas cantadas por Marina Elali). Os dois formam o casal mais sem graça do cinema nacional em décadas. O elenco é fraco. Milton Gonçalves nao convence como presidente, apesar de eu achar que esse grande ator merecia o papel de presidente uma vez na vida, assim como Morgan Freeman em "Impacto Profundo". Quem salva mesmo no quesito atuação é Ângela Vieira, que parece ser a mais à vontade no papel e, vejam só, Sônia Lima, em participação especial, também faz bonito.


No mais, o que vemos são bandeiras tremulando, um espetáculo verde-amarelo com direito a hino nacional e tudo e um roteiro formal demais para a nossa linguagem tipicamente brasileira. Ninguém fala daquele jeito na vida real, mesmo que em termos oficiais do exército. "Segurança Nacional" é bem produzido, tem um visual bacana, e merece ser no mínimo reconhecido por conseguir colocar tantos aviões oficiais em operação num filme nacional. Só que peca pelo excesso. Fica a lição para os próximos filmes: mais ação, menos propaganda.

PS: Se você fosse um narcotraficante colombiano, fulo da vida com o Governo Brasileiro, de posse de uma bomba atômica, e resolvesse dizimar uma grande cidade do nosso país, qual delas você destruiria?

a) Rio de Janeiro
b) Brasília
c) São Paulo
d) Florianópolis

Fala sério, nada contra Florianópolis, mas se é pra chamar a atenção, tem outras cidades pra destruir.

Nota: 5,0

sábado, 13 de março de 2010

Os Inquilinos

Os Inquilinos
(Brasil, 2009) De Sérgio Bianchi. Com Marat Descartes, Ana Carbatti,Umberto Magnani, Lennon Campos, Cássia Kiss, Caio Blat, Ana Lúcia Torre, Aílton Graça, Sidney Santiago, Leona Cavalli.

Ás vezes você vai ao cinema e tem algumas surpresas. Fui para assistir "Direito de Amar" mas o cinema estava sem luz. Tive que ir em outro cinema no bairro carioca de Botafogo (que aliás eu amo) tentar ver se o filme estava passando lá. Não estava. Decidi ver "O Segredo de Seus Olhos", mas só ia passar muito tarde. O jeito foi assistir a "Os Inquilinos", que estava passando no horário. O que era quase uma punição se tornou uma experiência interessante, que faz ver que no cinema brasileiro existe vida além de "Se Eu Fosse Você", Xuxas e Didis afins. "Os Inquilinos" mostra que o brasil pode ir além no seu cinema, mesmo que o filme seja falho e pouco satisfatório. No fim, esse filme foi um dos casos onde o que contou foi a intenção.

Valter é um homem comum, pacato e trabalhador que mora em uma comunidade de São Paulo com a mulher e os dois filhos. O vizinho é obrigado pela ex-mulher a alugar a casa dos fundos para três homens misteriosos e suspeitos. Eles são bagunceiros, barulhentos, desordeiros e aos poucos começam a mudar a rotina e os pensamentos da família do lado. Valter começa a se preocupar mais ainda com sua família ao mesmo tempo que precisa manter um olho bem aberto na casa do lado.

A princípio, pelo trailer, "Os Inquilinos" dá aquele ar de suspense, mas vai muito além disso. É basicamente uma crítica social à violência e ao caos urbano que vemos todo dia no cotidiano. Pipocam ônibus queimados, tiros dados a esmo e até menção à pedofilia. O filme é bem produzido e filmado, mas todas essas tramas paralelas estão lá apenas para encher linguiça, já que o próprio filme se encarrega de dizer que o foco da trama não são esses e sim o tal causo dos vizinhos indesejados. Aí sim, quando o filme toma esse rumo as coisas degringolam, tomando forma. Faz até você pensar no seu próprio vizinho barulhento que quase todo mundo tem ao lado. A história se desenrola mesmo do meio para o fim, quando tudo quanto é diálogo sobre a sociedade se dissipa e a trama se concentra.

Cheio de coadjuvantes de luxo, como Cássia Kiss, Caio Blat e Aílton Graça, o filme perde metade da graça quando vemos o casal de protagonistas, interpretados por Marat Descartes e Ana Carbatti. Eles não tem química e ele é o típico marido banana. A gente se pergunta porque uma mulher forte como ela quis ficar com um frouxo como ele. Não dá, simplesmente eles não funcionam juntos. Separados até que ganham outras conotações, como quando Valter toma uma injeção de "seje homi" e enfrenta os inquilinos suspeitos. Fica a crítica social e a boa produção de Sérgio Bianchi, mas se era para fazer um filme desse tipo, ele podia ser mais focado e menos alegórico.

Nota: 6,5

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Lula - O Filho do Brasil

Lula, O Filho do Brasil
(Brasil, 2010) De Fábio Barreto. Com Glória Pires, Cléo Pires, Milhem Cortaz, Juliana Baroni e Ruy Castro Dias.

2010 começou no cinema e aqui vamos nós finalmente comentar um dos mais aguardados filmes brasileiros. Antes de qualquer coisa, é preciso esquecer que o filme pode ser usado de alguma maneira como campanha política. De outra forma, sua singularidade nunca poderá ser apreciada por completo. Apesar de ser um filme com falhas, "Lula, o Filho do Brasil" apresenta uma história comovente de um homem comum que se viu no meio de uma luta que ao mesmo tempo era e não era dele. Ele teve que fazer uma esolha e escolheu lutar. Não interessa se você gosta do Lula ou não: tem que admitir que é uma história e tanto.

O filme começa em 1945. Dona Lindu, no interior de Pernambuco dá a luz a um menino chamado Luiz Inácio. Depois de o marido se mudar pra São Paulo, ela vai para a cidade grande com os filhos, onde eles podem ir à escola e se tornar alguém. A história do menino que viria a se tornar o maior líder sindical do Brasil - e, mais tarde, presidente da República - se confunde com a luta de sua mãe, que teve de aturar todo tipo de privação para que os filhos tivessem alguma dignidade. Com os ensinamentos de sua mãe em mente, Lula se engaja na luta dos metalúrgicos numa época em que lutar por algum ideal era proibido no Brasil.
A história é bonita, mas o filme tem algumas falhas. O diretor se apóia muito no fato de que Lula é uma figura conhecida e passa muito batido por algumas histórias. O espectador acompanha num piscar de olhos Lula e sua família deixar suas casas e, plim, ele já é grande e torneiro mecânico. Tudo isso faz com que a história fique longa e perdida, você nunca sabe quando o filme vai terminar. Apesar disso, a riqueza de detalhes ajuda a história a ganhar força, principalmente após a sua entrada na Força Sindical.

O elenco escolhido dá o ritmo certo ao filme. Mesmo o novato Ruy Castro Dias se sai bem, embora ainda carregue alguns traços oriundos do teatro. Mas a alma do filme é Glória Pires, que prova que é a verdadeira dama do cinema nacional. Ela é o porto seguro do protagonista, o lugar que todos nós sabemos que ele pode correr quando as coisas apertam. Não há quem não se conforte com a personagem Lindu.

O filme pode ser usado como propaganda política sim, mas quem se importa? Lula não sai candidato esse ano e não é um filme que vai aumentar a popularidade do PT, da Dilma ou de quem quer que seja. Além do mais, é um ótimo presente para o presidente que está em fim de mandato e tem o maior índice de aprovação da história da República Brasileira. Os incomodados que se mudem - ou que não vão ao cinema. Propaganda política? Talvez. Mas que é uma história danada de bonita - mesmo que seja exageradamente romantizada - isso é.

Nota: 8,0

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Glóra Pires pode se tornar a recordista de bilheteria no cinema nacional


Por Mauro Ventura, para O Globo Online

Falta pouco para Glória Pires se tornar a nova rainha do cinema brasileiro, título conferido informalmente a Xuxa no último Festival de Gramado, quando ganhou um Kikito especial em homenagem ao conjunto de sua obra. Por enquanto, a apresentadora é a recordista de público de 1995 para cá, a chamada Retomada, com 14,7 milhões de espectadores, contra 13,5 milhões da atriz de "Se eu fosse você".

Mas, a partir de 1º de janeiro, quando estreia "Lula, o filho do Brasil" (assista ao trailer) , tudo deve mudar. É bem verdade que dia 25 de dezembro será lançado "Xuxa em O mistério de Feiurinha", baseado no best-seller de Pedro Bandeira. Mas a expectativa do mercado é que o filme sobre a vida do presidente ultrapasse os cinco milhões de espectadores, transformando Glória no grande chamariz atual do cinema brasileiro.

Nada mau para uma atriz que sempre foi mais identificada com a TV, graças a papéis marcantes em novelas como "Dancin' days", "Cabocla", "Vale tudo" e "Mulheres de areia". Somente no ano passado ela rodou três filmes: "Se eu fosse você 2", que se tornou a maior bilheteria da Retomada, com 6.093.200 espectadores, "Lula, o filho do Brasil" e "É proibido fumar" (assista ao trailer) , que estreia esta sexta-feira. Glória vive mesmo uma fase gloriosa.

Do Começo ao Fim

Do Começo ao Fim
(Brasil, 2009) De Alouizio Abrantes. Com Julia Lemmertz, Fábio Assunção, Gabriel Kaufmann, Lucas Cotrim, Rafael Cardoso e João Gabriel Vasconcelos.

Antes de qualquer coisa, é importante dizer que "Do Começo ao Fim" é um filme corajoso. Só de o diretor ter pensado em contar a história que conta é preciso muita, mais muita coragem. O cinema brasileiro, apesar de escrachado em nudez e sensualidade, ainda não está preparado para quebrar paradigmas e encarar relações normais entre indivíduos do mesmo sexo, sem toda a pompa de uma parada gay. Pra piorar a situação, o diretor ainda fala de incesto homossexual, um assunto que não passa perto nem das mentes mais mirabolantes. Com tudo isso, é lógico que o filme iria gerar a polêmica que gerou. O problema com o filme não é nem com a questão do incesto, ou do homossexualismo. O problema do filme é que ele é só isso, mais nada. Nada de interessante.

Tomáz e Franciso são meio-irmãos criados sob o mesmo teto, vivendo com a mãe e o padrasto. Na infância, os dois são ligados e conectados de uma forma inexplicável, o que faz a mãe refletir sobre a intimidade dos dois. Quando crescem e se tornam homens livres, os dois assumem a paixão que sentem um pelo outro e deixam aflorar o amor que sentiam em um relacionamento puro e verdadeiro. Quando Tomaz, que é nadador, recebe um convite para treinar na Rússia, os dois vem a chance de se separarem pela primeira vez na vida, e precisam encontrar um modo de vencer a distãncia, sem perder o a mor e a fidelidade um do outro.

A história é polêmica sim, mas depois que os dois crescem, não há mais nada com o que se preocupar. Depois que o público se encontra com os personagens Tomaz e Francisco adultos, não adianta mais formular problemas ou soluções: o mundo se torna perfeito pros dois. Pense: eles são irmãos que se amam. Mas a mãe aceita, o pai aceita, eles não enfrentam nenhum problema de homofobia ou choque de realidade com a sociedade, não enfrentam problemas com a legalização do casamento gay, não tem amigos íntimos dando satisfação. Então, qual o propósito do filme? Que discussão ele levanta? Beleza, o garotos são irmãos e se amam, transam loucamente o dia inteiro e tudo mais. E?


O filme está até certo em deixar de lado as questões de certo ou errado. O problema é que não há problema! É tudo muito passivo (sem trocadilhos). O único graaande problema é quando os dois se separam e percebem que nao podem mais viver sem o outro. Mas tudo isso é solucionado facilmente pelo espectador na mesma hora em que o problema aparece pra eles na tela. E eles demoram mais uma hora inteira de filme para chegar a um resultado óbvio.

Dou todos os méritos ao diretor por contar a história e ainda mais mérito aos atores por fazerem esses papeis tão controversos - mesmo que pareça que eles vivem numa bolha. Mas contar uma história só pela história não tem muita graça. Apimentar o público com tórridos romances entre dois homens só funciona com gays - héteros não preconceituosos não vão achar muita graça. Um roteiro infelizmente sem profundidade para uma história que poderia render muito mais coisa. Mesmo a proposta de falar das várias formas de amor se perde. É chato dizer que a história é até até bonita, mas foi só barulho.

Nota: 5,0