sexta-feira, 31 de maio de 2013

Terapia de Risco

Side Effects
(EUA, 2013) De Steven Soderbergh. Com Rooney Mara, Jude Law, Catherine Zeta-Jones e Channing Tatum.

Steven Soderbergh havia perdido um pouco o rumo em seus filmes. Pelo menos nos três últimos lançamentos no cinema (“Contágio”, “À Toda Prova” e “Magic Mike”), o cineasta vinha realizando longas-metragens que pouco chegaram perto de filmes como “Traffic”, “Erin Brocovich” ou “Che”, pra citar apenas alguns de seus títulos bem sucedidos. Com “Terapia de Risco” o diretor mostra um novo fôlego, talvez apenas um reflexo do roteiro de Scott Burns, mas que resvala no ambiente mostrado em “Traffic”, por exemplo, em que o suspense e a crítica social se misturam. “Terapia de Risco” também se apoia em ótimas atuações de Catherine Zeta-Jones, Jude Law e, sobretudo, Rooney Mara, em seu primeiro papel de destaque depois de sua indicação ao Oscar, em 2011.

Depois que seu marido sai da prisão, após 4 anos, Emily Taylor tem dificuldades em lidar com a nova situação e entra em depressão. Após um incidente suicida, ela conhece o psiquiatra Jonathan Banks, que a estimula a fazer sessões de terapia e receita alguns remédios para lidar com a depressão. No entanto, Emily passa a desenvolver um dos efeitos colaterais do medicamento, o sonambulismo. A partir daí, a situação sai do controle, e o médico nem desconfia que a história tem muito mais detalhes a serem desvendados.

 O roteiro ágil de Scott Burns e a direção de Soderbergh dão um tom de filme de espionagem à trama. O filme ainda faz uma crítica embutida e velada ao uso de antidepressivos pela geração do século XXI e de como pacientes e médicos podem ser reféns de uma indústria que não para de crescer. No entanto, este é apenas pano de fundo para a trama que envolve Emily, o marido Martin e o médico, Jonathan Banks, interpretados por Rooney Mara, Channing Tatum e Jude Law.

-Meu doce!
Rooney Mara tem o dom de interpretar personagens misteriosas, como foi com “Os Homens que Não Amavam as Mulheres”. Neste filme, ela se divide entre a esposa dedicada e a paciente em depressão com muita facilidade, evocando várias facetas que podem, inclusive, surpreender os espectadores, sobretudo nos minutos finais. Jude Law, apesar de um pouco menos de versatilidade, também se sai bem como o médico investigador.

Apesar de soturna e séria, a personagem de Catherine Zeta-Jones também surpreende nos minutos finais, embora ela seja mais produto do roteiro do que de desempenho da própria atriz. Porém, é inegável a desenvoltura de Catherine, uma atriz veterana, numa cena que pode ser considerada um desafio (mais não digo, para evitar spoilers).


“Terapia de Risco” foi apontado como o último filme de Steven Soderbergh. O diretor já fala em se aposentar a alguns anos, então a noticia bem que poderia ser verdade. No entanto, ele já saiu com “Behind the Candelabra”, filme feito para TV que concorreu à Palma de Ouro este ano, ou seja, a promessa pode muito bem ter sido quebrada.


Nota: 8,0

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Homem de Ferro 3


Iron Man 3
(EUA, 2013) De Shane Black. Com Robert Downey Jr., Gwyneth Paltrow, Ben Kingsley, Don Cheadle, Guy Pearce, Rebecca Hall, James Badge Dale, Jon Favreau, Stephanie Szostak e Paul Bettany.

Enfim, inicia-se a fase 2 da Marvel. Depois do estrondoso e aguardado sucesso de “Os Vingadores”, chegamos ao início de uma nova etapa de desenvolvimento dos filmes da Marvel Studios e, o escolhido, claro, não podia deixar de ser o Homem de Ferro, o que deu início a tudo isso. “Homem de Ferro 3” faz referências tanto a seus antecessores como ao filme dos Vingadores. No entanto, essa terceira parte, apesar de muito melhor trabalhada, com efeitos de primeira e várias cenas de ação, deixa a desejar no roteiro, como se este não fosse importante para a compreensão da história. Há que se pensar qual foi o objetivo da Marvel ao lançar esse filme, pois ele não apresenta nada muito sólido além de muitas (e sucessivas) explosões. Uma aparente fraqueza de Tony Stark aparece recheada de piadas, o que não deixa o espectador mais atento satisfeito e convencido.

Após o ocorrido em “Os Vingadores”, algo mudou na consciência do bilionário Tony Stark. Ele passa a ter um desejo incontrolável por proteger aqueles que mais ama e passa tempo demais desenvolvendo novos trajes e armaduras de ferro, uma melhor que a outra. Tal obsessão pode interferir em sua vida pessoal, ao deixar que isso se meta entre ele e sua amada, Pepper Potts. No entanto, essa preocupação terá que ficar em segundo plano quando um novo terrorista aparece, realizando atentados na cidade e aparições na TV – o perigoso Mandarim. Com um aparentemente infinito poder de fogo, o Mandarim ameaça a soberania dos Estados Unidos e preocupa a população já aterrorizada por ataques constantes. Com isso, Tony Stark precisará sair da clausura e se dispõe a lutar contra o Mandarim, ao mesmo tempo em que se vê de frente com um passado não muito distante, e terá que reencontrar duas pessoas que podem ser a chave de todos os problemas, a cientista Maya e o ambicioso Aldrich Killian.


O diretor Shane Black (de “Beijos e Tiros”.) consegue conduzir bem a história, construindo sequências que prendem o espectador, como o ataque à mansão Stark e um arriscado resgate de passageiros de um avião em pleno ar. No entanto, é o roteiro quem deixa a desejar. Fica difícil acreditar que Tony Stark, um dos homens mais ricos do planeta (no universo Marvel), amigo de poderosos super-heróis, coisa que nem o próprio filme esconde, habilidoso construtor de armaduras igualmente habilidosas, não consiga descobrir o paradeiro de um terrorista como o Mandarim – ou lutar com ele.

 Tudo soa como mais um dia na vida de Tony Stark, nada que lembre os momentos marcantes como a prisão na caverna do primeiro filme, ou a conexão com um vilão que lhe remete diretamente a seu pai, como no segundo filme. O grande trunfo do filme, o vilão temerário que assombra os espectadores no trailer, não tem o desenvolvimento esperado e faz o filme parecer meio, desculpe o termo, boboca. Depois de uma cena onde muitos e muitos mísseis destroem a mansão Stark, você espera que o tal Mandarim seja muito imbatível, quando na verdade ... melhor parar por aqui para não revelar spoilers.

O outro arco do roteiro se apoia na ideia de que a cientista Maya Hansen (interpretada pela desperdiçada Rebecca Hall), anos atrás, apresentou a Tony Stark um meio de regenerar tecidos humanos. Isso é usado por Aldrich Killian, um então nerd abitolado, a se transformar em um empresário de tecnologia e ciência poderoso, que pode estar por trás dos planos do Mandarim. Para isso, ele usa seres humanos modificados geneticamente, cujo efeito colateral é, acredite, a elevação da temperatura corporal, algo que beira a combustão espontânea, mas que parece não afetar as cobaias, apenas os deixa com super força e com muito ódio. Nada muito explicativo.


No entanto, “Homem de Ferro 3” é um espetáculo audiovisual tão grande que chega a ser difícil reparar nessas coisas. Só com uma reflexão pós-filme é que se percebe que coisas não fazem sentido. Grande parte do espetáculo é mérito de Robert Downey Jr., que parece não conseguir mais sair do personagem Tony Stark – um efeito parecido com o Wolverine de Hugh Jackman há uns anos atrás. Apoiado por Don Cheadle, como o War Machine/Patriota de Ferro/Col. Rhodes, e Gwyneth Paltrow que, literalmente, veste a camisa do Homem de Ferro, o Stark de Downey Jr. é uma atração à parte do filme, com boas sacadas e piadas (algumas fora de hora e algumas sem graça). Robert Downey Jr. sendo Robert Downey Jr., mas na pele de Tony Stark.

Pessoalmente, eu defino “Homem de Ferro 3” como um bom filme. Até porquê, ninguém vai assistir a um filme desse tipo por uma convicção filosófica. E, se for, precisa mudar suas convicções filosóficas. O filme entretém na medida certa, mas peca por subestimar a inteligência dos seus espectadores com um vilão tão fraco e um desfecho tão xoxo. E retorno à pergunta do primeiro parágrafo desse texto: o que a Marvel pretende? Reunir mais espectadores comuns ou agradar fãs de quadrinhos? Parece-me que a vontade de ganhar mais dinheiro superou, pelo menos neste filme, o desejo expresso claramente no primeiro “Homem de Ferro” de ser fiel a seus fãs – esses sim com mais crítica a fazer do que eu fiz. Se a Marvel sempre conseguiu encontrar o meio termo, dessa vez ela fugiu à regra.

Nota: 7,5

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