segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Atividade Paranormal 3


Paranormal Activity 3
(EUA, 2011) De Henry Joost e Ariel Schulman. Com Katie Featherston, Sprague Grayden, Lauren Bittner, Christopher Nicholas Smith, Jessica Tyler, Chloe Csengery.

Por alguma razão, nunca fui com a cara de “Atividade Paranormal”. Sempre achei um filme bem mais ou menos, com poucas razões para ter conquistado o público daquela maneira, às vezes baseado em bobagens. Admiro sim o fato de terem um baixo orçamento e terem feito o que fizeram, mas nada que justificasse o estardalhaço. Daí veio o “2”. Explicando um pouco mais o contexto da história, o segundo trouxe mais sustos e cenas de dar medo – o que se espera de um filme de terror decente. Não assisti à “Atividade Paranormal em Tóquio”, nem sei dizer o quanto deste filme contribui para a franquia original, mas “Atividade Paranormal 3” é, sem dúvida alguma, melhor do que qualquer um desses três, de deixar os fantasmas do filme abobalhados.

Desta vez, voltamos aos anos 80 para conhecer a infância das irmãs Katie e Kristie e como começaram os efeitos paranormais com as duas. Kristie tem um amigo imaginário, Toby, e o comportamento da garota começa a ficar estranho demais. Paralelo a isso, eventos sem explicação começam a acontecer e então o padrasto das duas, Dennis (que trabalha com filmagens e edição de vídeo), coloca várias câmeras na casa para capturar o que está acontecendo. Os fenômenos começam a ficar cada vez piores, assim como o comportamento das duas irmãs.


O roteiro ainda é relativamente fraco, no mesmo nível dos dois primeiros, mas impressiona não só os sustos que são arquitetados na plateia, mas o detalhismo com algumas coisas referentes aos anos 1980. Também chama a atenção o cuidado com a filmagem, em uma locação real, para passar mais credibilidade aos eventos. E os próprios atos sobrenaturais em si estão mais decentes, dignos de espíritos zombeteiros e não coisas que podem ser confundidas com o vento. 

A saga que começou com Oren Peli desembolsando nada menos do que US$ 15 mil em 2007, se tornou maior do que se imaginava, atraindo a sofisticação de um grande estúdio, no caso a Paramount, e a produção executiva de (oooh!) Akiva Goldsman, de filmes como “Eu Sou A Lenda” e “Hancock”. O orçamento ainda é baixo (US$ 5 milhões), mas a qualidade subiu e toda a experiência fez bem a “Atividade Paranormal” que, agora sim, pode ser incluída no hall das grandes séries de horror, com um representante digno.

Nota: 8,5

terça-feira, 18 de outubro de 2011

50 anos de "Bonequinha de Luxo"


Imagine aquele vestido tubinho preto básico para qualquer ocasião, um artigo indispensável para uma mulher moderna. Pois talvez esse artigo do vestuário não tivesse a mesma importância hoje se não fosse o filme “Bonequinha de Luxo”. Talvez nem mesmo a expressão “pretinho básico” existisse. Mas não é apenas na moda que o filme de Blake Edwards, baseado no romance de Truman Capote, marcou gerações. O filme, que acaba de completar 50 anos, é um dos melhores da história do cinema, uma comédia romântica doce e com uma pureza inigualável, que vemos refletida nos olhos de anjo da sensacional Audrey Hepburn.

Era 5 de outubro de 1961 quando o filme estreou nos Estados Unidos. E se o mundo ainda não tinha se rendido ao charme e talento de Audrey Hepburn, em filmes como “Sabrina”, "Cinderela em Paris” ou “A Princesa e o Plebeu”, não tinha mais desculpas a partir deste filme. E olha que a personagem de Hepburn era um tanto quanto incomum para os papéis que a atriz estava acostumada a desempenhar. Holly Golithly, a moça que desce de um táxi com um saco de papel e um copo de café, e toma o seu ‘breakfast’ em frente à joalheria Tiffany & Co. (daí o nome do filme), mora sozinha e é o que se pode chamar de ‘acompanhante de luxo’. Aí o mundo vinha abaixo: estaria Audrey Hepburn interpretando uma prostituta?
 
Daí você pode tirar as suas conclusões, mas “Bonequinha de Luxo” é um dos filmes mais irresistíveis de todos os tempos. Ao mesmo tempo em que Holly é esperta o suficiente para se manter viva em meio ao mundo que vive, ela é ingênua a ponto de participar de um esquema de transferência de informações de um poderoso bandido que está na cadeia. É essa ambiguidade que Audrey Hepburn coloca nas telas com maestria, uma moça rude e sem certa educação, mas que aprendeu a ser refinada e sofisticada para vencer na vida.

Ao lado da personagem de Hepburn, vemos o escritor Paul Varjak, interpretado por George Peppard, que é um solteirão que não sente vergonha nenhuma ao ser sustentado por uma mulher. Isso até conhecer Holly e seu estilo de vida desprendido, queira mudá-lo completamente. A história de amor dos dois é, na verdade, uma contradição, uma vez que ambos são ambiciosos o suficiente para desistirem de tudo para ficar juntos.

A magia de “Bonequinha de Luxo” é resumida na metade do filme, quando, num momento de distração, Holly vai para a sua janela, puxa um violão e começa a cantar “Moon River”, canção composta por Henry Mancini que entrou para a eternidade ao colocar a suave voz de Audrey Hepburn nas telonas. Um efeito que nem “My Fair Lady” conseguiu anos mais tarde, e olha que era um musical!

“Bonequinha de Luxo” ganhou dois Oscars (Melhor Canção e Melhor Trilha Sonora) e foi indicado a outras três categorias (Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte – cores e Melhor Atriz). Difícil saber que naquele ano Hepburn perdeu o Oscar para Sophia Loren, a primeira a ganhar uma estatueta em um filme não falado em inglês. Mas o que importa é que o filme ganhou muito mais, entrando para o panteão dos clássicos, tornando Hepburn uma diva absoluta e mudando o ponto de vista do mundo sobre um simples vestido preto e um café da manhã numa joalheria.

Festival do Rio - Red State



Red State
(EUA, 2011) De Kevin Smith. Com Melissa Leo, Nicholas Braun, Michael Parks, John Goodman e Kevin Alejandro. 

Esse ano fui uma vergonha como cinéfilo. Sim, com tantos eventos acontecendo no Rio de Janeiro, mais a minha nova vida de adulto que inclui trabalhar pra pagar as contas, acabei deixando de lado uma das coisas mais importantes do ano, o Festival do Rio. Após cobrir por anos a fio com vários filmes em sequência, quase achei que não ia tirar nem uma lasquinha dele, mas consegui assistir a pelo menos um dos filmes mais aguardados. Trata-se de “Red State”, o comentado novo filme do diretor Kevin Smith, que alcançou notoriedade com “O Balconista” e desde então virou nome Cult.

“Red State” trata sobre uma seita religiosa que quer exterminar todas as pragas que contaminam o mundo com o poder da oração e de muitas e muitas armas. Por “pragas”, leia-se homossexuais e fornicadores. Uma onda de assassinatos cometidos contra gays chama a atenção da comunidade enquanto que três amigos combinam um encontro às escuras com uma mulher mais velha para uma noite de sexo. O encontro trata-se de uma armadilha do pastor da tal seita, que pretende matá-los em um dos rituais. Quando a polícia entra na história, a igreja se torna um campo de guerra, onde não há limites para a insanidade.


Kevin Smith tocou num ponto delicado de discussão, mas provoca muito mais risos do que indignação da plateia que assiste à história de intolerância religiosa. O enredo é tão absurdo que, se compararmos as barbaridades do pastor Abin Cooper, o maníaco do filme, com os homofóbicos enrustidos da TV, como nosso deputado Jair Bolsonaro ou o pastor Silas Malafaia, esses últimos seriam facilmente confundidos como patrocinadores da Parada Gay. 

Com vários truques de câmera e edição (feita por ele mesmo) e um roteiro apoiado em muito humor negro e várias coisas verídicas, Kevin Smith consegue um filme de suspense que choca ao mesmo tempo em que promove o debate sobre intolerância e fanatismo religioso, além de falar sobre os direitos dos homossexuais e também de todo mundo que participa de uma sociedade livre. Melissa Leo está fantástica e mostra versatilidade como a mulher que seduz os garotos – algo impensável para ela até então, já que se trata de uma senhora de 51 anos e ganhadora de um Oscar – e que se revela mais uma fanática da seita. 

No mais, “Red State” parece tão ficcional que fica difícil de acreditar que casos como esses existam na vida real. E não precisamos nem ir para o interior dos EUA e caçar fanatismo religioso: aqui mesmo, nas grandes cidades, pessoas matam as outras por intolerância a várias coisas. É só olhar no jornal. 

Nota: 8,5


Os Três Mosqueteiros


The Three Musketeers
(EUA/UK, 2011) De Paul W. S. Anderson. Com Mathew Macfayden, Luke Evans, Ray Stevenson, Mads Mikkelsen, Milla Jovovich, Christoph Waltz, Logan Lerman e Orlando Bloom. 

Um por todos e todos por um. Já se ouviu essa frase tantas vezes que pensar em mais um filme dos Três Mosqueteiros, uma das histórias mais refilmadas da...er, história, parecia uma brincadeira de uma Hollywood cansada demais para inventar novas tramas. E logo quem foi o responsável por trazer mais uma vez os heróis medievais à tona? O Sr. Resident Evil, Paul W. S. Anderson, que trouxe à tiracolo sua mulher, a Sra. Resident Evil Milla Jovovich. O que parecia estar fadado a mais um fracasso, até que funciona bem nas telonas, contrariando todo mundo que esperava um colapso total. Uma boa produção de época dá o tom certo da história, embora seja difícil não reparar que o filme acaba se tornando uma piada de si mesmo.

Athos, Portos e Aramis estão aposentados de suas vidas de mosqueteiros do rei da França quando são surpreendidos pela chegada de D’Artagnan, um jovem filho de um ex-mosqueteiro que está decidido a entrar para a gangue. Após fazê-los entrar em uma batalha com a guarda pessoal do Cardeal Richelieu, principal conselheiro do rei, os mosqueteiros e D’artagnan acabam recolocados ao posto nobre, mas se vêm envolvidos em uma trama bolada para colocar a França em guerra contra a Inglaterra e fazer o rei abdicar do seu trono – que seria usurpado pelo Cardeal. O plano é arquitetado pela espiã Milady de Winter, um antigo amor de Athos que agora trabalha como agente dupla, tanto do Cardeal como do intendente da Inglaterra, o Duque de Buckingham. Os mosqueteiros precisam arranjar uma maneira de acabar com o plano e se livrarem da guarda do Cardeal que está atrás deles.


A produção de época realmente está de parabéns. Valeu cada centavo dos US$ 75 milhões gastos com os detalhes e a conversão em 3D – que eu não conferi, mas imagino ter ficado boa, dada a quantidade de espadas, balas de canhão e fragmentos de coisas explodindo que vem na direção do espectador, mesmo no formato 2D. O que sobra na produção, falta no enredo rocambolesco que diverte, mas não convence. Christoph Waltz, o vilão ganhador do Oscar de “Bastardos Inglórios” é mal aproveitado demais, e até os mosqueteiros principais viram coadjuvantes ao lado do D’artagnan de Logan Lerman (“Percy Jackson e o Ladrão de Raios”) e da Milady de Winter, a sexy toda vida Milla Jovovich. 
 

Apesar disso, a versão 2011 de “Os Três Mosqueteiros” diverte para uma tarde, mas não tem o potencial de uma franquia como “Piratas do Caribe”, por exemplo, embora o final deixe bem claro de que a ideia é certamente produzir uma sequência. Veremos como o filme vai se sair, já que até agora só conseguiu arrecadar US$ 49 milhões nos cinemas mundiais. Vale lembrar que os Estados Unidos ainda não assistiram ao filme, que chegou primeiro ao Brasil, um caso raro. Se o filme for bem, Orlando Bloom pode comemorar mais um filme de época com espadas e lutas e navios e guerreiros e castelos... 

Nota: 8,0


Nota: O Filme dos Espíritos


O Filme dos Espíritos (Brasil, 2011)

Esse é talvez o pior filme que eu já tenha assistido na vida. Tramas paralelas em excesso e um desperdício de elenco numa trama tosca que pretende “homenagear” um importante livro espírita, “O Livro dos Espíritos”, escrito por Allan Kardec. Apenas a vontade de apelar para o tema do espiritismo, tão em voga no Brasil ultimamente, justifica a produção dessa bomba, que traz Nelson Xavier de novo no mesmo gênero. Destaque para a participação de Luciana Gimenez (sim!!) com uma maquiagem que a envelheceu totalmente (sim!!!²) interpretando a madrasta de um homem de mais de 30 anos (sim!!!!!!!!³). Podre.
Nota: 2,0