segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Oscar 2011 - "O Discurso do Rei" eleito o melhor filme


Não importa o que eu faça ou o que a Academia faça, a noite do Oscar sempre vai ser importante, fato. E enquanto eu estiver vivo e tiver uma noite do Oscar, lá estarei eu assistindo, fato. No entanto, bilhões de outras pessoas no planeta não pensam como eu. A cerimônia do Oscar sempre foi considerada chata, enfadonha, longa, injusta, enfim, um monte de outras coisas e os produtores do show de TV sempre procuram inovar para resgatar o glamour dos anos perdidos. Eles não tem conseguido, é verdade, mas nunca os esforços (que esforços?) foram tão em vão como em 2011. Eles quiseram resgatar o tradicional investindo na modernidade, assim poderiam ganhar todo mundo. O que realmente aconteceu foi que eles ficaram perdidos em uma dimensão paralela entre um e outro, não contagiando ninguém.

A cerimônia em si foi rápida e teve suas pitadas de humor e entretenimento, mas esses vindos dos apresentadores das categorias e dos convidados. Esse, em geral, é um trabalho dos hosts – os anfitriões da noite – que dessa vez foram Anne Hathaway e James Franco. O mundo estava de olho neles. Enquanto a crítica também, er, critica o desempenho de Hathaway, eu vou isentá-la de muita coisa. Imagina você, em relativo início de carreira – sim, porque ela ainda tem muita coisa pela frente – de pé com uma multidão física e não física diante dos seus olhos, tendo que apresentar o maior premio do cinema, e ainda cantar, dançar, sapatear, contar piadas e permanecer impecavelmente linda durante toda a noite? Anne Hathaway não foi lá essas coisas, mas ela se esforçou ao máximo pra salvar o show e, mesmo que sem sucesso, ela estava realmente adorando estar ali (pelo menos era isso que dizia suas expressões).

Anne Hathaway e James Franco, que twittou a cerimônia toda

O mesmo não se pode dizer de James Franco, que, sem trocadilhos, francamente, deve ter enfiado a sua alma em alguma garrafa, escondido em algum armário e foi apresentar o Oscar. Pô, cadê o sujeito boa praça de filmes como “Milk”, “Homem-Aranha” e até mesmo “127 horas”, o filme pelo qual estava indicado? Franco sequer demonstrava interesse e disposição de estar ali, como se ele estivesse cumprindo uma função básica na cerimônia – atrair o público jovem somente sendo jovem. Pois James Franco nunca esteve tão velho.

Três dos mil visuais de Anne Hathaway na cerimônia...

...e um dos de James Franco.

As aparições da noite também tentaram salvar a fraca cerimônia com algumas piadas como os casais Justin Timberlake/Mila Kunis e Scarlett (linda Johanson)/Matthew McGounaghey. Pra se ter uma ideia, os únicos realmente ovacionados pero no mucho da cerimônia foram o ex-host do Oscar Billy Cristal e o veterano ator Kirk Douglas, que, embora todo mundo tenha adorado ele ali, eu detestei.

Se era pra ser moderno, o Oscar falhou. Foi chato, conservador e retrógrado, dando seu prêmio principal para um filme bom, é verdade, mas medíocre, lento e por vezes chato. “O Discurso do Rei” levou na categoria Melhor Filme. Não sou fã de “A Rede Social” mas a certa altura já estava torcendo pelo longa de David Fincher.

A equipe de "O Discurso do Rei"

Queria poder falar de previsibilidade, mas não sei até que ponto posso estar certo ou errado. Afinal, se existiam favoritos, eles deveriam levar mesmo, não? Vejamos as categorias de atuação. Os quatro favoritíssimos levaram o prêmio, mas ninguém pode dizer que eles não mereceram. Apenas as atrizes enfrentaram certa polarização na categoria. Natalie Portman podia perder sua estatueta para Annette Benning por mera política e aí o mundo ia chiar. Já Melissa Leo poderia não ter dito aquele “fuck” no palco se Haillee Steinfeld tivesse ganho como atriz coadjuvante, isso sim uma surpresa digna de Oscar.

Natalie Portman

Colin Firth

O resto da noite foi bem corrido. Os buddies Javier Bardem e Josh Brolin apareceram vestidos de funcionários de hotel para lembrar o tempo em que a cerimônia acontecia em um hotel, em Hollywood. Billy Cristal saudou a cerimônia televisiva do Oscar, com o melhor host de todos os tempos, Bob Hope, num momento “aprendam como se faz”.

Celine Dion cantando “Smile” pros mortos. Mais clichê, brega e cafona, impossível.

E ainda não entendi porque Kirk Douglas foi o escolhido para entregar o Oscar de Atriz Coadjuvante. O cara é uma lenda e tudo o mais, ele não merecia uma categoria melhor? Melhor Filme, Melhor Direção, qualquer coisa.

Kirk Douglas e Melissa Leo

Como esperado, “Toy Story 3” levou o prêmio de Melhor Animação, caso contrário o mundo teria uma síncope muito maior do que a atual. A animação levou também Melhor Canção Original, por “We Belong Together”, do veterano Randy Newman. Todos agradecendo John Lasseter e Steve Jobs, que lindo. Lee Unkrich disse até que a Pixar é a melhor empresa para se fazer filmes. Alguém duvida?

Ah, e o Brasil ficou de fora mais uma vez. “Lixo Extraordinário” não levou o prêmio, mas honestamente, favorito mesmo ele só era no Brasil. Lá fora, onde o americanismo é gigante, o prêmio estava mesmo entre “Exit Through the Gift Shop”, do Banksy, e “Inside Job”, o vencedor. Falando em Banksy, ele não apareceu na cerimônia, ou eu to enganado e ele era realmente Justin Timberlake?

Esse ano o Oscar não foi mesmo um dos melhores. Foi bom ver as canções sendo interpretadas de novo no palco e as homenagens aos filmes clássicos da Academia, que poderia ter explorado isso melhor. Foi legal também ver o povo elegendo as canções mais marcantes da história do Oscar, com direito a depoimento de Barack Obama. Foi triste, brega e mais chato ver aquelas criancinhas sorrindo e balançando a cabeça num playback estranho de “Over The Rainbow” no fim. Foi legal ver “A Origem” faturando os prêmios técnicos, mas a cara de derrota de Christopher Nolan explica muita coisa que aconteceu esse ano. O Oscar não é mais o mesmo.

Veja os vencedores:

FILME – O Discurso do Rei

ATOR – Colin Firth, por “O Discurso do Rei”

ATRIZ – Natalie Portman, por “Cisne Negro”

ATOR COADJUVANTE – Christian Bale, por “O Vencedor”

ATRIZ COADJUVANTE – Melissa Leo, por “O Vencedor”

DIREÇÃO – Tom Hooper, por “O Discurso do Rei”

ANIMAÇÃO – Toy Story 3

FILME ESTRANGEIRO – Em Um Mundo Melhor (Dinamarca)

ROTEIRO ORIGINAL – David Seidler, por “O Discurso do Rei”

ROTEIRO ADAPTADO – Aaron Sorkin, por “A Rede Social”

MAQUIAGEM – Rick Baker, por “O Lobisomem”

EFEITOS VISUAIS – “A Origem”

EDIÇÃO DE SOM – “A Origem”

MIXAGEM DE SOM – “A Origem”

FIGURINO – “Alice no País das Maravilhas”

DIREÇÃO DE ARTE – “Alice no País das Maravilhas”

FOTOGRAFIA – “A Origem”

DOCUMENTÁRIO – “Trabalho Interno”

TRILHA SONORA – “A Rede Social”

CANÇÃO ORIGINAL – “We Belong Together”, por “Toy Story 3”

MONTAGEM – “A Rede Social”

DOCUMENTÁRIO–CURTA – “Strangers no More”

CURTA DE FICÇÃO – “God of Love”

CURTA DE ANIMAÇÃO – The Lost Thing

Fotos: Reuters

domingo, 27 de fevereiro de 2011

"O Último Mestre do Ar" eleito o Pior filme de 2010


E o mundo conta os segundos para a cerimônia do Oscar e assim conhecermos os melhores do ano. Só que já sabemos quais foram os piores. Neste sábado, foram entregues os prêmios do Framboesa de Ouro, para aqueles que fizeram por merecer o reconhecimento de um trabalho ruim.

"O Último Mestre do Ar", filme baseado no desenho "Avatar" da Nickelodeon, foi o grande vencedor da noite que premiou também "Sex And The City 2" e suas atuações. Parabéns a todos e também aos indicados, que tiveram um desempenho digno de os levar a essa premiação. Os ganhadores levaram uma singela framboesa de plástico sobre um rolo de Super 8 pintado de dourado. O troço todo está avaliado em mais ou menos 5 dólares.

Vejamos os "vencedores" (em vermelho):

Pior Filme
Caçador de Recompensas
O Último Mestre do Ar
Sex and the City 2
Saga Crepúsculo: Eclipse
Os Vampiros que se Mordam

Pior Ator
Jack Black / As Viagens de Gulliver
Gerard Butler / Caçador de Recompensas
Ashton Kutcher / Par Perfeito e Idas e Vindas do Amor
Taylor Lautner / Saga Crepúsculo: Eclipse and Idas e Vindas do Amor
Robert Pattinson / Lembranças e Saga Crepúsculo: Eclipse

Pior Atriz
Jennifer Aniston / Caçador de Recompensas e Coincidências do Amor
Miley Cyrus / A Última Música
Sarah Jessica Parker, Kim Cattrall, Kristin Davis & Cynthia Nixon / Sex and the City 2
Megan Fox / Jonah Hex
Kristen Stewart / Saga Crepúsculo: Eclipse

Pior Atriz Coadjuvante
Jessica Alba / The Killer Inside Me, Entrando numa Fria Maior Ainda com a Família, Machete and Idas e Vindas do Amor
Cher / Burlesque
Liza Minnelli / Sex and the City 2
Nicola Peltz / O Último Mestre do Ar
Barbra Streisand / Entrando numa Fria Maior Ainda com a Família

Pior Ator Coadjuvante
Billy Ray Cyrus / Missão Quase Impossível
George Lopez / Marmaduke, Missão Quase Impossível e Idas e Vindas do Amor
Dev Patel / O Último Mestre do Ar
Jackson Rathbone / O Último Mestre do Ar e Saga Crepúsculo: Eclipse
Rob Schneider / Gente Grande

Pior Uso do 3D (categoria especial para 2010)
Como Cães e Gatos 2
Fúria de Titãs
O Último Mestre do Ar
Nutcracker 3D
Jogos Mortais - O Final

Pior Casal / Elenco
Jennifer Aniston & Gerard Butler / Caçador de Recompensas
Josh Brolin’s Face & Megan Fox’s Accent / Jonah Hex
Todo o elenco de O Último Mestre do Ar
Todo o elenco de Sex and the City 2
Todo o elenco de Saga Crepúsculo: Eclipse

Pior Diretor
Jason Friedberg & Aaron Seltzer / Os Vampiros que se Mordam
Michael Patrick King / Sex and the City 2
M. Night Shyamalan / O Último Mestre do Ar
David Slade / Saga Crepúsculo: Eclipse
Sylvester Stallone / Os Mercenários

Pior roteiro
O Último Mestre do Ar
Entrando numa Fria Maior Ainda com a Família
Sex and the City 2

Saga Crepúsculo: Eclipse
Os Vampiros que se Mordam

Pior Prelúdio, Refilmagem, Paródia ou Sequência (categoria combinada para 2010)
Fúrias de Titãs
O Último Mestre do Ar
Sex and the City 2
Saga Crepúsculo: Eclipse
Os Vampiros que se Mordam

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Novidades da cerimônia do dia 27



Queria ter podido escrever mais sobre o Oscar 2011. Essa cerimônia, que muitos desdenham, é a mais importante do cinema, gostem ou não. É claro que há muito tempo os escolhidos pela Academia deixaram de ser referência para o melhor filme do ano, tendo-se apostado mais nos grandes Festivais espalhados pelo mundo, como Sundance, Cannes, Veneza e Berlim. Mas o Oscar é o Oscar e eu sou fascinado por ele. Esse ano não tem muita coisa de especial, mas a cerimônia também é um produto de entretenimento televisivo e, portanto, precisa de audiência. É com essa expectativa que os produtores prepararam um show à parte para o programa que vai ao ar no dia 27 agora.

A primeira é a duração. Todo mundo reclama da duração do Oscar, mas também pudera: são 22 categorias, mais as apresentações de homenagens e momentos especiais da história do Oscar e do cinema, mais DEZ clipes com os indicados a melhor filme... Mesmo assim, parece que o tempo vai ser diminuído.

Eles estão apostando tudo na dinâmica dos novos tempos. Cenários virtuais, participações pelo twitter e uma dupla de jovens atores apresentando a cerimônia. James Franco e Anne Hathaway são os mais jovens na função de anfitriões desde o início do Oscar. Ela já tinha se destacado em uma performance ao lado de Hugh Jackman, dois anos atrás, e todo mundo adorou. Ele é o ator bacana que todo mundo gosta de ver por aí, sem falar que está indicado esse ano.

Ah, e as interpretações dos indicados a Melhor Canção vão voltar! Sério, uma das maiores besteiras que eles fizeram na cerimônia passada foi cortar as canções e colocar um grupo de street dancers, sei lá o que, fazendo umas dancinhas meio desconexas. Então, sobem ao palco no dia 27 pra soltar a voz: Gwyneth Paltrow, que está badaladíssima no mundo musical após participação em Glee, vai cantar o tema de “Country Strong”; Mandy Moore e Zachary Levy, que cantam o tema de “Enrolados” com o compositor Alan Menkin; Randy Newman com seu violão irá cantar “We Belong Together”, de “Toy Story 3”; e Florence Welch, do Florence+The Machine substitui Dido na performance de “IF I Rise”, por “127 Horas”, ao lado de A.R. Rahman. Ainda na seção cantoria, vai ter um coral de crianças fofiinhas de Nova York vai apresentar “Over the Rainbow”, de “O Mágico de Oz”, a mais célebre canção ganhadora do Oscar de todos os tempos.

Se bem que, apesar de todo o esforço pra fazer a cerimônia mais trivial, é o tradicional glamour da festa que faz todo mundo querer assistir, não adianta mudar. No fundo, no fundo, o que conta são os discursos inflamados, as gafes, as coisas que acontecem fora do roteiro e, claro, se tiveram surpresas nas vitórias ou se tudo correu como o esperado. Como eu já repeti acima, o Oscar é o Oscar, e eu vou estar lá sentado pra ver, a partir das 23h deste domingo (ops! 22h, quando começa o pré-show com o tapete vermelho!).

E aí, quem vai levar o Oscar pra casa?

Essa pergunta parece meio óbvia dados os indicados a Melhor Filme deste ano, mas ainda tenho minhas dúvidas quanto ao prêmio. A disputa está polarizada, é fato. “O Discurso do Rei” só encontra um oponente à sua frente, “A Rede Social”. Os outros oito estão praticamente descartados, apesar de “Cisne Negro” ser superior aos dois favoritos e “A Origem” ser o mais ousado – mas já pensou Chris Nolan subindo ao palco pra ganhar o Oscar de Melhor Filme, que irado? Irado, mas quase impossível.

Entre as atrizes, o Oscar de Natalie Portman é praticamente certo, mas Annete Benning está no páreo duro. Se ela ganhar, não se assuste. Além da ótima atuação em “Minhas Mães e Meu Pai”, Benning é a presidente da seção dos atores na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Ou seja, tudo pode ser um golpe político no fim das contas e Portman pode ficar sem o seu Oscar, embora eu duvide muito disso.

Colin Firth é o franco favorito da noite na corrida pelo Melhor Ator. Apesar de todos os cinco entregarem atuações singulares – o menos forte é Jesse Eisenberg -, é o rei gago quem deve levar a estatueta pra casa. E isso quem explica é a lógica da Academia: Jeff Bridges e Javier Bardem já ganharam o seu e o Oscar até repete, mas é meio difícil, tem que ser excepcional pra isso acontecer; James Franco é o apresentador da cerimônia do dia 27 e Jesse Eisenberg é muito novo e desconhecido. Já Firth, além da boa atuação, foi um dos indicados no ano passado e perdeu para Bridges, e a Academia adora um prêmio de consolação (não que seja esse o caso, Firth merece mesmo o prêmio).

Melissa Leo e Christian Bale devem repetir a dose mais uma vez e garantir o Oscar para as coadjuvâncias de “O Vencedor”, embora Hailee Steinfeld e Geoffrey Rush possam surpreender e levar a estatueta por “Bravura Indômita” e “O discurso do Rei”, respectivamente.

“Toy Story 3” vai levar Melhor Animação, a não ser que um colapso nervoso tenha acometido a Academia, e se Deus é brasileiro mesmo, “Lixo Extraordinário” vai triunfar sobre o magnífico documentário de Bansky, “Exit Through the Gift Shop”.

Veja abaixo as minhas apostas:

FILME – O DISCURSO DO REI

ATOR – COLIN FIRTH

ATRIZ – NATALIE PORTMAN

ATOR COADJUVANTE – CHRISTIAN BALE

ATRIZ COADJUVANTE – HAILEE STEINFELD

DIREÇÃO – DAVID FINCHER – A REDE SOCIAL

ANIMAÇÃO – TOY STORY 3

FILME ESTRANGEIRO – EM UM MUNDO MELHOR (DINAMARCA)

ROTEIRO ORIGINAL – A ORIGEM

ROTEIRO ADAPTADO – A REDE SOCIAL

MAQUIAGEM – O LOBISOMEM

EFEITOS VISUAIS – A ORIGEM

EDIÇÃO DE SOM – TRON: LEGACY

MIXAGEM DE SOM – A ORIGEM

FIGURINO – O DISCURSO DO REI

DIREÇÃO DE ARTE – ALICENO PAÍS DAS MARAVILHAS

FOTOGRAFIA – A REDE SOCIAL

DOCUMENTÁRIO – LIXO EXTRAORDINÁRIO

TRILHA SONORA – A REDE SOCIAL

CANÇÃO ORIGINAL – “I SEE THE LIGHT” - ENROLADOS

MONTAGEM – 127 HORAS

Never Say Never


Justin Bieber: Never Say Never
(EUA, 2011) De Jon Chu. Com Justin Bieber.

Não eu não vi "Justin Bieber: Never Say Never" dublado e em 3D. E se eu fosse você, também não veria...

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

"O Lobisomem" e a Maquiagem no Oscar

“O Lobisomem” tem seus detratores e defensores. Após vários problemas na produção, que fizeram com que o longa estreasse quase 1 ano depois de pronto, o filme saiu e trouxe e volta uma aura mágica em torno dos lobisomens que já estavam ficando sem nenhuma moral depois dos descamisados bronzeados da Saga Crepúsculo. A intenção da Universal era trazer de volta não apenas o mito, mas o clássico do cinema de monstros da década de 1930, quando o estúdio fazia essa produção como ninguém.

Só que quando o filme estreou -sem muito barulho, é verdade – quase ninguém viu e os que viram não gostaram muito. Uma história corrida e sem sal demais, apesar da boa fotografia, direção de arte e, claro, a maquiagem, o assunto do texto.

Rick Baker, o homem por trás da maquiagem complexa de Benicio Del Toro, já ganhou seis Oscars em sua carreira, em doze indicações. Ele ganhou pela maquiagem magistral em “O Grinch” (2000), “MIB - Homens de Preto” (1997), “O Professor Aloprado” (1996), “Ed Wood” (1994), “Um Hóspede do Barulho” (1987) e, claro, a inspiração para o trabalho em “O Lobisomem”, o cultuado “Um Lobisomem Americano em Londres” (1981), cuja maquiagem impressiona até hoje. Tanto que o filme é considerado o melhor longa sobre lobisomens.

Baker também esteve envolvido com a maquiagem de filmes como “Norbit”, “Click”, “Amaldiçoados” (mais um com lobisomens), “Planeta dos Macacos” (o do Tim Burton) e, vejam só, ele também esteve na produção de “Thriller”, o curta/videoclipe de Michael Jackson, com mais lobisomens. Isso sem falar de trabalhos não creditados e filmes do tempo em que ele ainda era um funcionário de segunda unidade, como “Guerra nas Estrelas”.

Dá pra dizer que o trabalho em “O Lobisomem” ficou com quem realmente entende do assunto. Apesar de ter sido uma relativa bomba nas telas – custou US$ 100 milhões, mas só arrecadou US$ 139 milhões, isso no mundo todo! – pode ser que o filme seja mesmo laureado na noite do Oscar, dando mais uma estatueta a Baker e um motivo de orgulho para a Universal. “O Lobisomem” concorre a Melhor Maquiagem com Adrien Morot por “Minhas Versão para o Amor” e Edouard F. Henriques, Greg Funk, e Yolanda Toussieng por “Caminhos da Liberdade”. Vale lembrar que Baker divide a indicação pelo filme com o maquiador Dave Elsey, que também já foi indicado por “Star Wars – Episódio III: A Vingança dos Sith” (2005).

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Indicados ao Oscar de Melhor Canção


Esse ano, apenas quatro músicas foram indicadas para Melhor Canção no Oscar. A regra diz que o número de vagas depende do número de canções inscritas, porém tivemos canções suficientes inscritas esse ano, mas a Academia optou apenas por quatro, ao invés de cinco. Sim, eles podiam indicar outra de "Country Strong", que tem umas músicas legais além da indicada e sim, eles podiam indicar "You Haven't Seen The Last of Me" de "Burlesque". Mas como a música representa o que o filme é, vai se saber que lição a Academia quis dar em Diane Warren, que ganhou o Globo de Ouro com essa música.

Enfim, eis as quatro indicadas deste ano:

- "Coming Home", de Country Strong
Letra e Música de Tom Douglas, Troy Verges e Hillary Lindsay
Intérprete: Gwyneth Paltrow



- "I See The Light", de Enrolados
Letra de Glenn Slater e Música de Alan Menken
Intérpretes: Zachary Levy e Mandy Moore



- "If I Rise", de 127 Horas
Letra de Dido e Rollo Armstrong. Música de A.R. Rahman
Intérprete: Dido



-"We Belong Together", de Toy Story 3
Letra e Música de Randy Newman
Intérprete: Randy Newman



Páreo duro, porque "Toy Story 3" tem uma canção linda, mas "Country Strong" tem ganho alguns prêmios com essa música e A.R. Rahman já ganhou uma estatueta com a grudenta "Jai Ho". Já "Enrolados", mesmo com a fofa "I See The Light", deve correr por fora. As três primeiras são bem parecidas na melodia, então é a letra que deve fazer diferença (e/ou a preferência dos votantes por determinado filme). Já a de "Toy Story" tem um ritmo mais divertido.

É esperar pra ver.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

127 Horas









127 Hours

(EUA, 2010) De Danny Boyle. Com James Franco, Amber Tamblyn e Clémence Posey.

Filmes em que o protagonista passa por maus bocados sozinho o tempo inteiro não são novidade. “Náufrago” é o exemplo mais célebre, mas existem outros que, sendo bons ou ruins, se encaixam nesse gênero como “Mar Aberto”, “Eu Sou a Lenda” e “Pânico na Neve”. O problema está mesmo na narrativa que difere esses filmes. É bom ser levado em consideração também que o ator precisa ser muito bom pra segurar um espectador por duas horas assistindo a um só personagem. Tom Hanks conseguiu isso, Will Smith precisou de uma dose de ação, mas até que foi bem e o casal de “Mar Aberto”, bem, sem comentários. O que acontece em “127 Horas” é semelhante, com destaque para a forma como a narrativa intercala o sofrimento do personagem com flashbacks de sua vida. Ah, e claro, para a evolução diante dos nossos olhos de James Franco como ator.

O aventureiro Aron Ralston decide embarcar em uma empreitada arriscada: sair explorando o Grand Canyon sem avisar pra ninguém onde estava indo. No meio do caminho, ele conhece duas jovens e as apresenta ao lado bom do Canyon, com piscinas naturais escondidas no meio das pedras. Após a despedida das moças, Aron decide entrar numa fenda, mas acaba deslocando uma rocha que o derruba e prende o braço do alpinista. Começa então uma luta contra o tempo, onde Ralston precisa manter a calma para sobreviver. Preso com o braço na rocha, após tentar de tudo pra conseguir sair, ele começa a reviver momentos de seu passado, sua relação com os pais, a irmã e a ex-namorada, e com isso – e sem perder o bom humor – ganha esperança pra continuar lutando contra a morte.

Aron ficou preso por 127 horas, como o título sugere, óbvio, e isso o levou a uma atitude extrema. SPOILER ALERT: A essa altura, todo mundo sabe que ele corta o braço fora pra sair da rocha. Claro, todo mundo que se importou o suficiente para pesquisar sobre o filme. Alguns desavisados simplesmente entraram na sala do cinema em que eu estava e saíram de lá se contorcendo de nervoso com a tensão vivida pelo personagem. Ao redor do mundo, pessoas passaram mal e tiveram ataques de pânico, e teve até um marmanjo de uns 30 anos desmaiando aqui numa sala do Rio. A cena é forte, mas necessária.

Falar bem de James Franco chega a ser redundante, já que não existe filme sem a sua interpretação, que está simplesmente fantástica. Franco é um desses atores gente boa, que oscila entre drama e comédia, e não se entrega ao status de celebridade que acaba criando um invólucro em alguns atores. Ele se deixa levar pelas emoções incrustadas no personagem e retrata bem os momentos vividos pelo Ralston real na tragédia. A cena do braço, a mais comentada, só não é melhor do que a pós-cena-do-braço, quando ele se entrega cansado a uma poça de água suja e ao resgate. Atuação magnífica de um ator promissor.

Em relação a Danny Boyle, que voltou a um filme menor após seu Oscar com “Quem Quer Ser Um Milionário”, digamos que o filme encolhe devido à grandeza que o diretor tinha conseguido. Mas ele acha o timing correto da história, usando recursos que tornam o ritmo mais palatável, como os flashbacks, sonhos e ilusões do personagem, embalado por uma trilha sonora e uma montagem eficiente. Não fosse isso, “127 Horas” seria marcado simplesmente pelo óbvio fator da superação, assunto batido em um zilhão de filmes.

Nota: 9,0

*Indicado ao Oscar de Melhor Filme, Ator (James Franco), Trilha Sonora, Canção ("If I Run"), Roteiro Adaptado e Montagem.

Bravura Indômita

True Grit

(EUA, 2010) de Joel e Ethan Coen. Com Jeff Bridges, Hailee Steinfeld, Matt Damon e Josh Brolin.

Você não deve se assustar se em um filme dos irmãos Coen, do nada, acontece uma situação adversa, controversa e cheia de duplo sentido. Essa foi uma lição aprendida ao longo dos anos, já que quando se trata dos Coen pode-se (e deve-se) esperar de tudo. Curiosamente, esse pensamento não me passou pela cabeça ao assistir “Bravura Indômita”. Pode ser porque o longa é um faroeste, um remake ou por ter uma adolescente como protagonista, o sentimento de “inesperado” de um filme dos Coen não surgiu. Tudo parece ser orquestrado para ser como é, sem grandes surpresas, fugindo do estilo dos diretores. Então, o que há de tão bom pra se ver em “Bravura Indômita” e porque a Academia o escolheu como um dos dez melhores filmes do ano? A resposta: a própria história e a peculiaridade de uma personagem em especial – Mattie Ross.

Quando o pai de Mattie, que tem apenas 14 anos, é assassinado, ela veste a carapuça de “chefe da família” e passa a resolver todas as pendências deixadas pelo patriarca, inclusive fazer justiça com o homem que o matou traiçoeiramente, Tom Chaney. Para isso, ela contrata os serviços de um caçador de recompensas, o ex-federado Rooster Cogburn, que depois de muita insistência, aceita levar Mattie junto. Com eles viaja o policial do Texas LaBeouf, que também está atrás de Chaney, um bandido conhecido em vários estados e que sempre muda de identidade. Os três partem atrás do paradeiro do homem e se deparam com várias adversidades no caminho, que vai revelar a verdadeira bravura indômita de cada um.

“Bravura Indômita” não parece, mas é uma história sobre relacionamentos. Três pessoas que nada tem em comum se veem unidas por um único ideal e isso as torna mais próximas. Com um bom roteiro que poderia cair no óbvio, em se tratando da adaptação de um livro que já foi levado às telas, os Coen produzem uma história de perseverança, com uma agilidade e ação características de seus filmes. Como em outras produções, o sangue não é poupado e é mostrado sem pudor, porém um pouco mais contido do que em filmes como “Queime Depois de Ler”, por exemplo. Aliás, a carnificina é até esperada, já que se trata de um western, por isso ela não surte o mesmo impacto.

A fotografia e a direção de arte do filme impressionam, assim com as atuações dos protagonistas. Jeff Bridges é o perfeito valentão “avagabundado” do velho oeste e infelizmente não tenho como compará-lo a John Wayne (não por ele ser indigno de comparação, mas por não conhecer o filme original –shame on me!). Ao longo do filme, Cogburn se mostra mais sensível por trás da carapaça de durão assim como o companheiro de viagem/adversário LaBeouf, interpretado por um Matt Damon quase irreconhecível, despido dos playboys arrumadinhos que sempre interpreta – Jason Bourne na lista. Quando finalmente aparece, Josh Brolin também se sai bem como um bandido caipirão, tipo que ele aparentemente nasceu pra interpretar.

A pérola do filme, no entanto, é a protagonista esquecida. Passaram tanto tempo promovendo Jeff e Matt, que quase esqueceram Hailee Steinfeld, a verdadeira alma do filme. É Mattie Ross a responsável pelo fio condutor da história, a chave principal de “Bravura Indômita”. Steinfeld, que apenas com participações na TV em sua carreira, dá um banho de interpretação que deve ter deixado seus veteranos chocados, no mínimo. Mattie Ross passa a ser um dos personagens memoráveis da filmografia dos Coen e, do trio principal, a que mais tem bravura indômita.

Nota: 9,0

*Indicado ao Oscar de Melhor Filme, Melhor Ator (Jeff Bridges), Melhor Atriz Coadjuvante (Hailee Steinfeld), Melhor Direção (Joel e Ethan Coen), Direção de Arte, Figurino, Fotografia, Edição de Som, Mixagem de Som e Roteiro Adaptado.