segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

127 Horas









127 Hours

(EUA, 2010) De Danny Boyle. Com James Franco, Amber Tamblyn e Clémence Posey.

Filmes em que o protagonista passa por maus bocados sozinho o tempo inteiro não são novidade. “Náufrago” é o exemplo mais célebre, mas existem outros que, sendo bons ou ruins, se encaixam nesse gênero como “Mar Aberto”, “Eu Sou a Lenda” e “Pânico na Neve”. O problema está mesmo na narrativa que difere esses filmes. É bom ser levado em consideração também que o ator precisa ser muito bom pra segurar um espectador por duas horas assistindo a um só personagem. Tom Hanks conseguiu isso, Will Smith precisou de uma dose de ação, mas até que foi bem e o casal de “Mar Aberto”, bem, sem comentários. O que acontece em “127 Horas” é semelhante, com destaque para a forma como a narrativa intercala o sofrimento do personagem com flashbacks de sua vida. Ah, e claro, para a evolução diante dos nossos olhos de James Franco como ator.

O aventureiro Aron Ralston decide embarcar em uma empreitada arriscada: sair explorando o Grand Canyon sem avisar pra ninguém onde estava indo. No meio do caminho, ele conhece duas jovens e as apresenta ao lado bom do Canyon, com piscinas naturais escondidas no meio das pedras. Após a despedida das moças, Aron decide entrar numa fenda, mas acaba deslocando uma rocha que o derruba e prende o braço do alpinista. Começa então uma luta contra o tempo, onde Ralston precisa manter a calma para sobreviver. Preso com o braço na rocha, após tentar de tudo pra conseguir sair, ele começa a reviver momentos de seu passado, sua relação com os pais, a irmã e a ex-namorada, e com isso – e sem perder o bom humor – ganha esperança pra continuar lutando contra a morte.

Aron ficou preso por 127 horas, como o título sugere, óbvio, e isso o levou a uma atitude extrema. SPOILER ALERT: A essa altura, todo mundo sabe que ele corta o braço fora pra sair da rocha. Claro, todo mundo que se importou o suficiente para pesquisar sobre o filme. Alguns desavisados simplesmente entraram na sala do cinema em que eu estava e saíram de lá se contorcendo de nervoso com a tensão vivida pelo personagem. Ao redor do mundo, pessoas passaram mal e tiveram ataques de pânico, e teve até um marmanjo de uns 30 anos desmaiando aqui numa sala do Rio. A cena é forte, mas necessária.

Falar bem de James Franco chega a ser redundante, já que não existe filme sem a sua interpretação, que está simplesmente fantástica. Franco é um desses atores gente boa, que oscila entre drama e comédia, e não se entrega ao status de celebridade que acaba criando um invólucro em alguns atores. Ele se deixa levar pelas emoções incrustadas no personagem e retrata bem os momentos vividos pelo Ralston real na tragédia. A cena do braço, a mais comentada, só não é melhor do que a pós-cena-do-braço, quando ele se entrega cansado a uma poça de água suja e ao resgate. Atuação magnífica de um ator promissor.

Em relação a Danny Boyle, que voltou a um filme menor após seu Oscar com “Quem Quer Ser Um Milionário”, digamos que o filme encolhe devido à grandeza que o diretor tinha conseguido. Mas ele acha o timing correto da história, usando recursos que tornam o ritmo mais palatável, como os flashbacks, sonhos e ilusões do personagem, embalado por uma trilha sonora e uma montagem eficiente. Não fosse isso, “127 Horas” seria marcado simplesmente pelo óbvio fator da superação, assunto batido em um zilhão de filmes.

Nota: 9,0

*Indicado ao Oscar de Melhor Filme, Ator (James Franco), Trilha Sonora, Canção ("If I Run"), Roteiro Adaptado e Montagem.

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