terça-feira, 30 de setembro de 2008

A Duquesa

The Duchess (UK, 2008)
De Saul Dibb. Com Keira Knightley, Ralph Fiennes, Dominic Cooper.

Na abertura da mostra Foco UK do Festival do Rio, fomos brindados com um filme incrivelmente belo de se assistir, com uma fotografia perfeita, figurino impecável e roteiro que prende o espectador. Coisa de inglês. Por isso é bem cara de Oscar. Uma mistura de "Maria Antonieta", "A Outra" e "Desejo e Reparação". Ponho minhas mãos no fogo e corto fora se não vier uma indicaçãozinha que seja, nem que seja de figurino, para esse "A Duquesa". Nem por isso tudo, o filme deixa de ser bom.

O filme conta a história real da Duquesa Georgiana de Devonshire, que se tornou uma das mulheres mais respeitadas da Inglaterra do século XVIII por seu engajamento político e apelo popular. Quase uma Maria Antonieta inglesa, o que a duquesa fazia logo virava referência à corte inteira. Casada como Duque William, ela vê seu casamento de fachada se desmoronar quando seu marido se revela um mulherengo autoritário e acaba virando amante da melhor amiga da esposa. Some-se a isso o fato de Georgiana não poder dar filhos homens ao duque e um amor de juventude não correspondido, temos a maior fofoca da corte inglesa.

Um incrível filme inglês. Um hino à Inglaterra, pra ser mais preciso. A hstória torna-se rocambolesca como uma novela, mas prende o espectador, justamente por ter no texto uma fórmula que funciona. Keira Knightley convence como mocinha (em mais um filme de época, diga-se de passagem) mas não como duquesa de quase 30 anos com 5 filhos no currículo. Seu carisma funciona nas discussões políticas e no engajamento social, mas como mãe parece mais uma irmã mais velha.Fora isso, sua atuação não podia ser melhor (oscar???). Ralph Fiennes está meio apático, mas inglês, como sempre. Dominic Cooper mostra que tem algo a mais a oferecer que não o noivo apático e gostosão de "Mamma Mia!".

Um filme pra ser apreciado quando sair no circuito, mas ele não tem muitas surpresas. É visalmente bonito, o figurino realmente encanta e a história também. Keira Knightley consegue segurar o filme nas costas com sua presença e todos torcem para que ela faça uma revolução, num tempo em que mulheres mal podiam sair de casa. Coisa de inglês, mas veremos como vai se sai sozinho, batalhando nas premiações do começo do ano que vem. Bafta com certeza já é certo.

Nota: 8,0

"O Poderoso Chefão" em tela grande no Palácio


The Godfather (EUA, Itália, 1972)
De Francis Ford Coppola. Com Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, Robert Duvall, Diane Keaton, Talia Shire.

"Não é nada pessoal, são só negócios."
"Eu vou fazer uma oferta que ele não pode recusar".

Alguém pode ter a noção do que significa assistir a "O Poderoso Chefão" em tela grande? Isso nos dias de hoje é mais raro de achar, porque as pessoas que tiveram o privilégio de estar raciocinando na época que viram o filme já não se encontram mais tão disponíveis. A obra é tão emblemática, taão enigmática, tão cinema, que é impossivel descrever a sensação de, em pleno século XXI, era das projeções digitais, assistir a um filme em sua cópia original e um cinemão tradicional, no caso, o Palácio.

Baseado na obra de Mario Puzzo, o filme narra a saga da família Corleone no controle da Máfia Italiana infiltrada nos Estados Unidos. Enquanto Don Vito Corleone comanda como o "padrinho" de toda a comunidade, seus filhos vão tomando os mesmos rumos que o pai, com exceção de Michael, que quer levar uma vida normal. Quando o patriarca sofre um atentado e os "negócios" ficam arruinados, é hora de Michael deixar o orgulho de lado e lutar pela honra de sua família, como um legítimo Corleone.

O filme dispensa apresentações. O Don Vito de Marlon Brando entrou pra história, na sua interpretação mais profunda em todos os seus filmes. Brando está tão natural e tão ele mesmo que é impossível achar que ele está representando. Ele é Don Corleone e isso é inegável. Al Pacino está no seu melhor papel, talvez só igualado em "Scarface". Mario Puzzo assina o roteiro junto com Coppola, que entrega uma direção tão perfeita que chega a fazer chorar. Só mesmo num festival para se ter a honra de assistir a uma copia restaurada e original.

E é só o que eu posso escrever. A emoção de assistir a um filme desses num cinema de verdade. Não posso julgar, não cheguei nesse nível, e pra julgar Marlon Brando você precisa ser Marlon Brando, e isso acho que nunca daria pra mim. Sou um mero espectador que teve a honra máxima da sua vida num festival, que dentre tantas estréias e filmes aguardados do mundo todo, ainda venera um dos maiores clássicos da história.

Nota: Quem sou eu pra dar nota.

Meu Marlon e Brando - Da Turquia para Rio

Gitmek: My Marlon and Brando (Turquia, 2008)
De Huseyin Karabey. Com Ayca Damgaci e Hama Ali Kahn.

Deve ser incrivelmente difícil fazer um filme na Turquia. Assim como é dificil para a personagem Ayça fazer teatro e viajar com sua companhia nesse filme. Imagina que acabei assistindo por acaso a Meu Marlon e Brando e achei um filme incrivelmente leve e delicioso de se assistir, ao mesmo tempo que narra uma história triste do amor impossível entre um kurdo e uma turca, tudo por conta do regime estúpido das guerras do oriente. Deve ser incrivelmente dificil fazer um filme desse onde as guerras acontecem.

Ayça é uma moça da Turquia que está apaixonada por Hama Ali, que é um famoso ator iraquiano, sobretudo por interpretar a versão árabe do Superman. Para se corresponder com ela, Hama Ali manda sempre cartas com fitas de vídeos gravadas por ele onde ele mostra a sua rotina. Cansada das promessas de Ali para voltar á Turquia, Ayça decide enfrentar seu próprio calvário e ir ela mesma até o Iraque para encontrar seu amor. Só não esperava encontrar tantas barreiras como a guerra, a burocracia com a imigração e a religião do outro lado da fronteira.

Como não recebemos mais filmes como esse? Leve e muito bem conduzido, o filme não peca em quase nada, porque a história é tão envolvente que o espectador esquece de fazer as análises críticas e passa a torcer pela felicidade de Ayça, que só quer viver a sua vida da melhor maneira possível, sem ficar presa nas barreiras do Islã ou da política. Me pergunto se no Brasil, um filme feito na Turquia faria sucesso. A resposta é não, mas esse quadro deveria ser revertido. "Meu Marlon e Brando" até agora tem sido a grande surpresa, num festival de coisas óbvias.

Sem falar mais uma vez que fazer filme na Turquia deve ser quase impossível.

Nota: 8,5

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

21 anos, 21 filmes

Em busca do 21° nome para entrar para a seleta lista de filmes que marcaram a minha vida, vou tentar propor um esquema para tentar me decidir sobre qual deve ser mencionado. Escolher 21 apenas é muito dificil para o universo que é o mundo do cinema. Escolher 20 foi um sufoco, imagina ter que escolher mais um!!! Deixando bem claro que isso é por pura preferência pessoal e não uma escolha dos melhores de todos os tempos. São os filmes que mais mexeram comigo e cada um reage de uma forma. A lista completa e seus motivos de terem me emocionado você confere neste post: http://cinemarcos.blogspot.com/2008/03/20-anos-20-filmes.html

Vamos então aos 8 finalistas desse seleto grupo:

Batman - O Cavaleiro das Trevas
Com tantos filmes de quadrinhos sendo adaptados e heróis surgindo, foi um vilão que se denomina o agente do caos que roubou a cena em 2008. O Coringa ganhou quase que um filme solo jogando o Batman para escanteio. Não só isso, o filme é sublime, tem um roteiro bem desenvolvido e encanta visualmente. O melhor filme do ano? Talvez. Ou será que só achamos isso porque Heath Ledger virou um mártir do cinema?

Wall-e
Chorar no cinema é coisa rara pra mim. Mas esse filme, que é praticamente mudo, conseguiu essa façanha. A história de um robô que tem que se virar na Terra depois que os humanos se mandaram é encantadora demais pra não tocar uma pessoa. Em poucas palavras? Wall-e é lindo!! Oscar de melhor filme de animação, com certeza, se a academia nao puxar a sardinha de Hayao Myiazaki.

Ensaio Sobre a Cegueira
O filme que está prestes a consagrar Fernando Meirelles como o diretor brasileiro de maior sucesso comercial no mercado internacional. Além de ser uma obra-prima visual narrada com uma intensidade raramente vista no cinema. Agradando a alguns, desagradando a outros, o filme precisa ser visto com atenção e carinho, sem falar que é uma das melhores atuações de Julianne Moore desde Boogie Nights e Longe do Paraíso.

Mamma Mia!
Quem me conhece que diga. O musical não é um primor técnico, é constrangedor ver Meryl Streep beirando a terceira idade se requebrando em um telhado, mas o filme é incrivelmente divertido e engraçado. A trilha sonora embala qualquer pessoa que jure de pés juntos que não gosta do ABBA (Não tem quem não fique com a canção "Mamma Mia" na cabeça, isso foi comprovado). Só eu já vi três vezes, encaminhando-se para a quarta.

Cidadão Kane
Poxa, colocar Cidadão kane em disputa com Mamma Mia! é quase uma heresia, beirando a loucura. Aliás, porque esse filme já não estava na lista? Boa pergunta. Mas eis a chance de eu justificar a minha carreira de cinéfilo e ainda fazer o tributo ao jornalismo, profissão que eu amo. Sem falar que esse é simplesmente o melhor filme de todos os temps né...

Kill Bill Vol.1
Esse é do tipo ame-o ou deixe-o. Kill Bill é daqueles filmes que só quem entende a arte de se filmar desse jeito vai gostar. É empolgante, contagiante, as cenas de luta remetem a séries de tv japonesas dos anos 70, mas essa é a graça, o sange de mentira, a história absurda da noiva que foi morta mas volta para se vingar. Todo mundo queria matar Bill, fala sério.

Um Beijo Roubado
Wong Kar Wai entregou uma obra tão sensível no seu primeiro trabalho cinematográfico que é impossível resistir a ela. Quem não viu Um Beijo Roubado perdeu a oportunidade de se sentir apaixonado mesmo quando não está. E ter Norah Jones no papel de protagonista nem foi tão ruim assim, pelo contrário, foi uma grande escada para brilhantes atuações do resto do elenco.

Violência Gratuita
Naomi Watts de novo. Mas dessa vez ela está presa em um jogo onde o que vale é a sua própria vida. Tortura, física e psicológica, e muito terror marcam presença em Violência Gratuita, refilmagem de Michael Haneke do seu próprio filme. Uma obra prima perfeita que foge do convencional e choca e surpreende. É cinema, meus caros.

É isso, o resultado deve sair antes do dia 5 de outubro.

domingo, 21 de setembro de 2008

The Visitor - Festival do Rio 2008

The Visitor (EUA 2007)
De Tom McCarthy. Com Richard Jenkins, Haaz Sleiman, Danai Jekesai Gurira e Hiam Abbass.

O Festival do Rio 2008 pode não ter começado ainda, mas pelo menos quem é da imprensa pode ter um gostinho bom. Tudo bem, eu não sou totalmente da imprensa, pq TV Uerj Rules isso é verdade, mas nao sou formado ainda. Enfim, condições a parte, essa semana começam as exibições para a imprensa de alguns filmes do Festival do Rio. Apesar de ter perdido Rock'n Rolla, do Guy Ritchie, fiquei incrivelmente feliz em poder ter assistido a The Visitor.

O longa conta a história de um professor de Connecticut, Walter Vale, que tem de ir a Nova York para uma conferencia e acaba descobrindo que tem um casal vivendo no seu apartamento de lá. Tarek e Zainab são imigrantes ilegais que tocam suas vidas normalmente na Big Apple. Aos poucos o professor vai se envolvendo com essas pessoas e com o tambor sírio, instrumento que Tarek toca. Até que a prisão injusta de Tarek mexe com a estrutura de Zainab e de Walter e ele vai começar a entender como funciona o sistema de controle de imigrantes dos Estados Unidos.

O filme ganhou o prêmio máximo no Festival de Deauville esse ano e tem uma narrativa comovente e simples. Mais pra frente da história, Walter se envolve com a mãe de Tarek e redescobre sua vida nas emoções que encontra pelo caminho. Um ótimo filme que não encontra muito espaço nas salas de cinema, a oportunidade de ser assistido é agora no Festival do Rio. O filme é delicado ao tocar no caso de imigrantes ilegais,sobretudo árabes muçulmanos, como é o caso de Tarek. Mostra que a terra do Tio Sam anda preocupada demais depois do 11 de setembro.

Nota: 8,5

sábado, 13 de setembro de 2008

Mamma Mia!


Mamma Mia! (EUA, 2008)
De Phyllida Lloyd .Com Meryl Streep, Pierce Brosnan, Amanda Seyfried, Colin Firth, Stellan Skarsgard, Julie Walters.

O mais impressionante em Mamma Mia! não é o fato de ser um musical, uma adaptação de um grande sucesso da Broadway. Não é o fato de tocar músicas do ABBA tão bem sincronizadas na história. Não são as paisagens gregas, incrivelmente belas, que decoram todo o filme.O que mais impressiona no filme são os atores, que mesmo com a idade carregando nas costas, não se deixam levar por conta disso e entram no clima do filme e voltam todos a serem crianças, como se o mundo fosse uma pista de dança.

Mamma Mia! se passa numa ilha grega quando Sophie, que está prestes a se casar, descobre um antigo diário de sua mãe, Donna, e encontra os possíveis candidatos a seu pai. Confusa e ansiosa ao mesmo tempo, Sophie convida os três para que ela conheça seu verdadeiro pai e este o leva para o altar. Só que nem tudo fica tão fácil assim e a relação de Donna com seu passado e seu presente começa a ficar agitada pela visita dos três homens, Harry, Sam e Bill. Nem mesmo Donna sabe quem é o pai de Sophie! Junte-se a isso às canções mais populares do ABBA e performances incríveis dignas de Broadway.

O filme já vale a pena só por ver Meryl Streep mais solta do que nunca em toda a sua carreira. Esqueça as donas de casa amarguradas de Kramer Vs. Kramer e A Escolha de Sofia; esqueça também as mulheres fortes como em Leões e Cordeiros; esqueça ainda Miranda Priestly de O diabo Veste Prada. Meryl Streep no papel de Donna, cantando e dançando, está até reconhecível, mas você não vai acreditar no que seus olhos estão vendo. Destaque para as performances de "Mamma Mia", "Dancing Queen" e "The Winner Takes it All".

O resto do elenco desempenha sua parte harmoniosamente. Amanda Seyfried mostra que tem jeito pra coisa e segura as pontas contracenando com Streep. Pierce Brosnan (aliás, está velho) também surpreende cantando e da mesma maneira surpreendem Colin Firth (sempre como o inglês travado dos seus filmes) e Stellan Skarsgard. Destaque ainda para a dupla de amigas antigas de Donna, interpretadas por Julie Walters e Christine Baranski. Elas garantem boas risadas.
Mamma Mia! têm o mérito de trazer o musical da Broadway para o mundo de um jeito alegre, despretensioso e divertido. As paisagens da Grécia hipnotizam e mesmo quando fica cansativo ouvir tanta música do ABBA, você esquece e entra na onda. Só que às vezes parece que a trama vai cair no ridículo, sobretudo por aquilo que é o mais importante do filme: Meryl Streep cantando!. Algumas pessoas podem estranhar e muito (isso quando elas vão ao cinema sabendo o que vao assistir, o que quase nunca acontece). Pra assistir sem culpa de ouvir ABBA e simplesmente pra diversão. Nem se arrisque se não gosta de musicais, porque esse é um dos bons.

Nota: 8,0

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Violência Gratuita

Funny Games (EUA 2007)
De Michael Haneke. Com Naomi Watts, Tim Roth, Michael Pitt, Brad Colbert.

Depois de muito esperar, eis que finalmente Violência Gratuita, versão USA, estréia por aqui. São poucos os filmes que despertam tanta expectativa dessa maneira, e talvez o pôster de Naomi Watts chorando tenha sido o responsável imediato, já que prometi assistir a tudo o que Naomi fizer no cinema. Mas depois de já conhecer a sinopse e toda a história de desenvolvimento do filme, posso dizer que já entrei na sala de cinema com medo. Sim, estava com medo. Sabia o que ia acontecer, sabia que a cara de rapazes bem educados de Michael Pitt e Brad Colbert escondiam dois sádicos, mas nem assim deixei de ter medo pelo que iria acontecer.

Violência Gratuita conta a história de um casal e seu filho que vão passar o fim de semana numa casa de férias e são surpreendidos por dois rapazes bem educados e aparentemente santos e tranquilos. Os dois entram na casa e se recusam a sair, é quando começa a tortura dos dois com a família, que passa a ser vítima de jogos sádicos onde está em jogo a vida dos três. Agressões, espancamentos, terror psicológico, piadas com as vítimas e tudo sem a menor explicação. Tudo é mesmo gratuito.



O que diferencia o filme de Haneke de um filme tosco e sem explicações é a maneira como o filme é conduzido. Esse é um remake de uma obra sua de 1997, e todos os padrões do original foram mantidos, com exceção de uma ou outra cena que se adequou ao século XXI. Tudo na casa é branco, talvez para se contrastar com a violência que se instala no lugar. O filme tem planos longos, mas possivelmente para atraira a tenção do expectador para alguma coisa que possa acontecer. E acontece, o sofrimento de cada um dos personagens é acompanhado de perto em longas sequencias sem cortes, sobretudo quando (... censurado...).

Todo o elenco está muito bem, Naomi Watts é competente no papel da esposa, Tim Roth como o marido que se sente incapacitado de proteger mulher e filho dos agressores também está ótimo. Mas a dupla Michael Pitt e Brad Colbert não poderia estar melhor. A cara de anjo de Pitt e de criança de Colbert são a essência dos personagens e do filme como um todo. Um aviso de que a violência pode vir de onde menos se espera, de que não se pode confiar em todo mundo. Não fica muito claro o porqueê, lembra muito a abstração de "Onde os Fracos Não Tem Vez", mas de qualquer modo, a violência é gratuita, isso já foi avisado.

OBS: Um detalhe importante e incrivelmente interessante do filme é o fato de o personagem de Michael Pitt vez ou outra olhar para a câmera e conversar com o espectador na sala de cinema. Medo...

Nota: 8,5

domingo, 7 de setembro de 2008

Ensaio Sobre a Cegueira

Blindness
(EUA/Japão/Canadá/Brasil, 2008). De Fernando Meirelles. Com Julianne Moore, Mark Ruffalo, Danny Glover, Gael García Bernal e Alice Braga.

Pra quem não leu "Ensaio Sobre a Cegueira", do mestre José Saramago, porque nunca gostou de ler nenhum livro, é bom não passar nem perto do filme. Blindness não é um blockbuster. Não é pra ser visto só porque Fernando Meirelles é brasileiro. Mas pra quem não leu o livro porque simplesmente não teve oportunidade, o filme é um prato cheio. Não sei afirmar se o mesmo acontece com quem leu o livro, porque eu não li. Não li e me encantei. Entendi cada linha do livro de Saramago, do seu ''Ensaio", sem nunca ter lido nada além do título. Humanos reagindo por instinto são mais raivosos do que animais comuns, e talvez por isso Deus tenha escolhido essa espécie pra dar o raciocínio.

A história narra os acontecimentos decorrentes de uma epidemia inédita no mundo que deixa todos os contaminados com cegueira branca, apenas enxergando uma grande claridade branca e nada mais. À medida que a cegueira vai se espalhando, as pessoas vão sendo internadas em quarentena, pra evitar a proliferação do vírus (ou o que quer que seja). A única pessoa capaz de enxergar é a mulher do médico, que em meio ao caos que se forma quando muitas e muitas pessoas não param de chegar, se torna uma espécie de protetora de todos.

Não dá pra dizer onde a obra é de Saramago e onde é de Meirelles. Tudo no filme parece ter sido feito para que o livro fosse visualizado, incluindo sua narrativa (que é bem arrastada, como se estivéssemos lendo um livro). Algumas cenas fortes não impedem o envolvimento do espectador, que se engloba naquela situação de caos e animais vivendo em bando. Com certeza, a cena mais impactante é a do estupro das mulheres, que são exigidas em troca da comida quando um grupo de homens toma o poder do isolamento. Nenhum dos personagens tem nome próprio, o que desperta ainda mais o interesse.

Julianne Moore (a mulher do médico) está fantástica como há muito tempo não se via; Mark Ruffalo (o médico) mostra que definitivamente é um ator de talento; Danny Glover (o velho com a venda preta), ótimo como sempre; Gael García Bernal (o rei da ala 3) é Gael Garcia Bernal, ele sabe o que faz; Alice Braga (a mulher com óculos escuros), meio apagada, tenta achar o seu lugar e consegue; Fernando Meirelles mostra porque é um dos melhores diretores da contemporaneidade. Comentários para todos porque todos merecem. Saramago chorou, eu quase. E assim seguimos nós, não afetados pela cegueira física, porém mais cegos do que nunca.

Nota: 9,0

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O Procurado


Wanted (EUA, 2008)
De Timur Berkambetov. Com James McAvoy, Angelina Jolie, Morgan Freeman, Common.

É engraçado como todos estão dizendo que existe vida após o Batman. Claro que existe!!! Que Batman é o melhor filme do ano, isso ninguém tem mais dúvidas. Pelo menos até os oscarizáveis serem lançados. Mas podemos continuar seguindo nossas vidas construindo filmes baseados em HQ's que não necessariamente seja uma obra que subjetivamente signifique o caos de uma grande cidade gerada através da insanidade de um vilão. "O Procurado" é uma obra que pode ser meio antropológica também. Mas só que essa não é sua pretensão. O filme foi feito pra ser entretenimento do bom e acaba se tornando algo maior.

Uma fraternidade de assassinos surge há milhares de anos atrás e suas gerações vão cumprindo as missões de manter a ordem no mundo através das eras. Já na atualidade, o maior de todos os assassinos é morto por um dos membros que se bandeou da fraternidade e que agora está caçando os membros um a um. É quando eles decidem recrutar o filho do tal maior assassino de todos os tempos, que não só é alheio aos poderes que possui, como é um tremendo banana que vive uma vida inútil e sem graça. Sua vida muda completamente quando conhece a fraternidade e passa a treinar arduamente para se tornar um assassino e caçar o homem que matou seu pai. Só que nem tudo é o que parece.

O diretor russo Timur Berkambetov se mostrou competente no seu primeiro trabalho americano. Além da estética visual que é parecida com seu filme anterior, "Guardiões da Noite", o longa tem uma agilidade típica de filmes de ação e consegue ser explicativo, apesar de algumas falhas de roteiro e de ganchos. James McAvoy surpreende como protagonista de um filme de ação, depois de filmes profundos como "Desejo e Reparação" ou comédias bobas. Como o cara inútil, Wesley Gibson, até que se sai bem sem nenhum esforço. Angelina Jolie nunca foi tão Angelina Jolie, nem mesmo em "Sr. e Sra. Smith", em que ela é mesmo Angelina Jolie. Aliás, sua personagem é a aposta para divulgação do filme, apesar de ser secundária. E pela primeira vez em um filme eu senti ódio de Morgan Freeman num filme.

Um ótimo filme. Apenas entretenimento mas com uma moral incrível. Existe vida após Batman.

Nota: 9,0