quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Django Livre

Django Unchained
(EUA/2012) De Quentin Tarantino. Com Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Samuel L. Jackson e Kerry Washington.

Tarantino é daqueles diretores que, não importa qual o filme ele faça, você deve assistir. Esse foi um posto que ele conseguiu, anos atrás, com “Cães de Aluguel” e “Pulp Fiction”. Sendo assim, assistir a “Django Livre” não era uma opção. Era um dever. Nesse caso, podemos dizer que não há dever mais prazeroso do que assistir a uma obra prima. Sim, Tarantino se superou. Após fazer o inimaginável em “Bastardos Inglórios”, indicado ao Oscar de Melhor Filme, ele repete o mesmo feito em um longa metragem que, ao mesmo tempo, fala de racismo, trata de uma época histórica dos Estados Unidos e presta uma homenagem a todos os faroestes clássicos do cinema. Tudo com muito sangue, tiroteios e diálogos inigualáveis, que exigiram dos atores total comprometimento com seus papeis. Não são todos os diretores/roteiristas que conseguem criar (e manter) um estilo único de contar suas histórias e ainda manter a atenção de um público fiel ao longo dos anos. 

O caçador de recompensas King Schultz resgata o escravo Django para pedir que ele o ajude a reconhecer três bandidos que ele está atrás. Com a ajuda, Schultz promete a liberdade de Django e parte da recompensa. Como o ex-escravo se torna muito bom no ofício, ambos continuam em sua jornada de caçadores até que Django pede a ajuda de Schultz para resgatar sua mulher, traficada para a família de Calvin Candie, um famoso fazendeiro da região. Para resgatar a mulher, os dois terão que sustentar um plano que, ao menor sinal de falha, pode mandar tudo para os ares.


A reconstituição da época da escravidão no sul dos Estados Unidos impressiona. Desde figurino aos cenários, chama a atenção o apuro técnico com o qual o filme foi rodado. Apesar de alguns erros históricos (como constatado no IMDB), o filme não se corrompe pelas falhas, pois o visual convence o espectador, que imerge na situação vivida por Django e rapidamente se coloca ao seu lado. Outro detalhe que impressiona é a mansão de Calvin Candie que, imediatamente, me lembrou de filmes como “...E O Vento Levou” e “Assim Caminha a Humanidade”, com seus casarões no meio do deserto.

Claro que essa afeição ao personagem também se deve a outros fatores, como a interpretação fenomenal de Jamie Foxx como Django. É visível o ódio do personagem contra aqueles que lhe afligiram, mas também o ator passa a inocência dele, que viveu tanto tempo na escravidão. Isso é notório na cena em que Schultz diz a Django que ele pode escolher a própria roupa. Christoph Waltz repete a maestria em um filme de Tarantino. Não é à toa que ele está novamente indicado em Ator Coadjuvante no Oscar desse ano. 

Leonardo DiCaprio, como Calvin Candie, e Samuel L. Jackson, como o escravo Stephen, também estão fenomenais. Aliás, a sequência do diálogo entre os dois, quando fica ‘claro’ quem realmente manda em Candyland, a fazenda de Calvin Candie, é sensacional. E Leonardo DiCaprio se entregou tanto ao papel que se machucou de verdade em uma das cenas.

Com um roteiro espetacular, e uma reviravolta digna de Tarantino ao final, “Django Livre” se consagra como um dos melhores filmes do diretor (o que é redundante) e conta uma das melhores histórias sobre esse período em um filme. Para encerrar, caso você ainda não tenha visto o filme, repare na cena da emboscada de dezenas de homens encapuzados à carruagem de Django e King Schultz. Não apenas traz um diálogo peculiar, com um tipo de humor que só Tarantino sabe trazer a esses filmes (incluindo a presença de um ator em particular na cena), mas mostra o início do que viria a ser a Ku Klux Klan, alguns anos mais tarde. Realmente, ele sabe mexer nas feridas de forma única.

Nota: 9,5

Um comentário:

Suzi disse...

Bravo!
Acabamos de sair do cinema e na condição de fã incondicional de Tarantino concordo: é sua obra prima!