terça-feira, 26 de abril de 2011

Quando um ator se entrega demais a um papel...


Quando um ator se entrega demais a um papel, fica muito visível na tela a sua dedicação, pois ela transcende qualquer personagem que o mesmo ator já tenha feito antes na telona. Essa semana, uma declaração da Natalie Portman respondeu uma pergunta que há muito tempo estava na minha cabeça. A mulher acabou de ganhar um Oscar pelo seu papel mais profundo, a Nina de “Cisne Negro” e duas semanas depois me aparece ao lado de Ashton Kutcher fazendo “Sexo Sem Compromisso”, literalmente! Pois não é que ela deu uma explicação?

Segundo declaração da atriz ao tabloide britânico The Sun, ela aceitou participar de filmes como “Thor”, o inédito “Your Highness” e o já citado “Sexo Sem Compromisso” – filmes mais leves, psicologicamente – para evitar um colapso nervoso devido à sua personagem em “Cisne Negro”. Dá pra imaginar a cena: se nós, espectadores, nos contorcemos de nervoso na cadeira do cinema, imagina a própria Natalie que estava afogada nas emoções da personagem?

Após ter visto essa declaração dela (e ter ficado mais aliviado de saber que ela só queria aliviar a tensão fazendo um filme bobinho – como quando eu fui ver “Marmaduke” pra esvaziar a cabeça...), me veio na mente outro episódio: a morte de Heath Ledger. O que tem isso a ver? Tudo, oras.

Como todos sabem, o ator morreu devido a uma overdose de medicamentos. Há quem diga que esses “medicamentos” eram para aliviar o ator do estresse que foi interpretar o Coringa, no filme “O Cavaleiro das Trevas”. O personagem era a personificação do caos e decididamente mexeu com as estruturas de Ledger, que deu sua melhor interpretação ao cinema com o papel, que lhe rendeu um Oscar póstumo. Mas até que ponto um ator suporta as provações do seu personagem para lhe conferir um caráter mais real?

Assim como Ledger, Jack Nicholson também interpretou o Coringa no cinema e já havia percebido o potencial perigoso do personagem. “Eu bem que avisei a ele”, teria dito Nicholson à época da morte de Ledger, sobre o Coringa. Apesar disso, sua versão do vilão de Gotham City é muito mais caricata, apesar de também perturbadora, na versão de Tim Burton para “Batman”.

Outro ator que costuma se entregar de cabeça no personagem é Daniel Day-Lewis. Ele costuma se afastar da família e ficar recluso incorporando os movimentos e detalhes de seus personagens, razão pela qual não escolhe qualquer trabalho para fazer, apesar de relativos fracassos. Isso fica estampado quando vemos filmes tão diferentes como “Nine” e “Gangues de Nova York”, que trazem o mesmo ator, mas com formas completamente diferentes. Para se ter uma ideia, Day-Lewis levou um ano inteiro para se preparar para “Sangue Negro”, onde interpretou o petroleiro Daniel Plainview.

Christian Bale também passou por sérias transformações, nem tanto psicológicas, mas físicas. O ganhador do Oscar por “O Vencedor” passou por uma fase “efeito sanfona” na carreira, que deixou público e crítica boquiabertos. Começou em 2003, nas filmagens de “O Operário”, quando ele teve que perder 28 quilos para interpretar um homem drogado e com insônia profunda. Nem um ano depois ele teve que recuperar toda a massa muscular que ele nem tinha antes para dar vida a Bruce Wayne, em “Batman Begins”. Em 2006, foi a vez do longa “O Sobrevivente”, onde mais uma vez ele teve que emagrecer, voltando a engordar tudo de novo para a sequência de Batman. Haja metabolismo.

Se formos parar para pensar, a lista é longa. Os atores que conseguem passar incólumes pelo sacrifício que seus personagens exigem merecem ser louvados por seu esforço e laureados pela sua dedicação. Pena que nem todos conseguem, vide Ledger. Natalie Portman conseguiu dar um tempo antes de ter um ataque de nervos. Já pensou se o cisne negro se materializa nela?

3 comentários:

Bernardo disse...

A mesma coisa também aconteceu com o Michael Jackson. Adorei esse texto, parabéns!

Mateus Denardin disse...

Texto bacana e pertinente. Afinal, já até ouvi gente duvidando dos efeitos dessas devoções de certos atores a seus personagens. Acho que você lembrou dos melhores exemplos; há também os diretores que levam seus intérpretes a esses limites -- talvez von Trier seja um nome aqui.

alexandra disse...

E verdade nem todo mundo tem a capacidade de ser forte....