sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Cavalo de Guerra

War Horse
(EUA/UK, 2011). De Steven Spielberg. Com Jeremy Irvine, Peter Mullan, Emily Watson, Neils Arestrup, David Thewlis, Tom Hiddleston, Celine Buckens e David Kross.

Li em algum lugar que “Cavalo de Guerra” é o novo “ame-o ou deixe-o”. Não é muito difícil explicar essa expressão, mesmo sem ter visto o filme. Primeiro é a direção de Steven Spielberg, que dispensa comentários e coloca qualquer produção num alto nível de expectativa. O contraponto: é a história de um cavalo. Isso pode não chegar a atrapalhar, dado o número de produções que trazem o animal como protagonista (“Secretariat”, “Seabiscuit”, “Sonhadora”, só pra citar alguns). Aí vemos a sinopse: um menino que não descansa até reencontrar o seu cavalo, que foi recrutado para lutar na Primeira Guerra Mundial. Lágrimas à vista, do jeito que Spielberg é acostumado a fazer, sejam os personagens extraterrestres, judeus, soldados, caçadores de arcas perdidas ou meninos-robôs. E é esse o maior problema de “Cavalo de Guerra”, você já viu esse filme! O número de clichês é tão grande que é difícil comprar a história quando já se tem certa bagagem cinematográfica. Spielberg não pede que você se emocione, ele praticamente implora que você chore.

Albert Narracott vê o nascimento de um potro que, anos mais tarde, é comprado por seu pai por uma pequena fortuna, acreditando no potencial do cavalo arredio. Albert, que o batiza de Joey, insiste em querer domá-lo e ensinar o arado ao cavalo, que aprende, apesar de todas as expectativas contrárias. Só que com o fortalecimento do cavalo, o pai é obrigado a vendê-lo para o exército inglês, que o usará na Primeira Guerra Mundial. A partir daí, o cavalo passa por vários donos e situações e, ao saber que ele se encontra em apuros, Albert faz todos os esforços para trazer seu animal de volta.

A história em si é memorável. Realmente, o cavalo passa por um monte de coisas e, contrariando tudo, sobrevive a todas elas. A amizade que o dono e o animal possuem é comovente. Só que Spielberg força a mão em muitos pontos, carregando nas tintas de certos aspectos que o espectador não tem como engolir – a não ser que se deixe levar pelas paisagens belas e planos naturais que realçam a beleza do interior do Reino Unido, esses sim pontos altos do filme. 


Pra começar, o pai de Albert, vivido pelo ótimo ator Peter Mullan, parece sofrer certa crise de identidade. Uma hora ele é o homem que contraria todo mundo pra escolher o cavalo que quer e, em outra hora, ele muda radicalmente para um velho desanimado diante das adversidades que (SIM) ele sabia que iriam acontecer por escolher um cavalo “mais fraco”, digamos. Aí vem os argumentos para sustentar o porquê Albert deve confiar extremamente no exército. O oficial, vivido por Tom Hiddleston (o Loki, de “Thor”), olha pra Albert e diz: “Vou cuidar dele como se fosse meu e o trarei de volta quando a guerra acabar”. Aham. 

Depois somos apresentados a um zilhão de personagens em uma história que se arrasta por longos 140 minutos. A ideia é sim mostrar o que acontece com Joey e suas adversidades, mas o foco fica meio perdido no meio de tanta gente. De repente, nos envolvemos com vários personagens e o cavalo passa para segundo plano, voltando a ser o protagonista mais ou menos ao final da película. E aí tem mais um perigo.
Os momentos em que Joey é o centro das atenções acabam atraindo a atenção do espectador para as emoções do próprio cavalo. Se por um lado fica o mérito de Spielberg de nos fazer acreditar numa possível rivalidade entre Joey e outro cavalo, mais experiente na guerra, rivalidade essa que se transformaria em “amizade” mais tarde (?!), por outro é difícil acreditar nessa rede de sentimentos toda. Afinal, são cavalos. Pra se ter uma ideia, a animação “Spirit – O Corcel Indomável”, que traz um cavalo mais ou menos parecido, faz um trabalho mais interessante na construção da personalidade do animal (e olha que é uma animação, ele poderia falar se quisesse!). Aliás, em certos momentos, parece mesmo que todos os animais vão começar a falar, até o ganso da fazenda de Albert.


“Cavalo de Guerra” tem sim bons momentos. Só o estilo de filmar e a fotografia valem o ingresso, sem falar na espetacular sequência da batalha das trincheiras, filmada com o mesmo realismo de “O Resgate do Soldado Ryan”. Outra cena, a que mostra Joey correndo desembestado no campo de batalha, também é bastante comovente e convincente, já que o cavalo ali é todo digital. A trilha sonora de John Williams é marcante, apesar de também um pouco clichê, mas denota exatamente cada mudança de cenário, situação ou emoção do filme.

A sequência final, com um pôr do sol photoshopicamente laranja, é linda, mas encerra um filme comum, apesar de tudo. Spielberg construiu um dramalhão um tanto exagerado que funcionaria muito melhor se fosse mais enxugado, personagens não tão rotulados e com diálogos melhores. A história é boa, mas ele conseguiu deixá-la cansativa e piegas. E pode ser preconceito meu com filme de cavalos, mas pra me fazer acreditar que ele magicamente possa falar com outro cavalo e convencê-lo a puxar uma ambulância (?!), por favor, se vendam como um filme de fantasia e não um drama.


 Nota: 6,5

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