quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Inquietos


Restless
(EUA, 2011). De Gus Van Sant. Com Henry Hopper, Mia Wasikowska e Ryo Kase. 

Qual a melhor maneira de lidar com a morte? Na dúvida desta pergunta, quantas as pessoas simplesmente ignoram que a morte existe, justamente para não ter que lidar com ela? Se é difícil para adultos se acostumarem  com a ideia de morrer ou perder um ente querido, um jovem pensar nessa possibilidade é mais inaceitável ainda. Porque, com o tanto de vida que supostamente têm à frente para desfrutar, não faz sentido para os jovens pensar na morte. No entanto, ela existe. Então, qual a melhor maneira de lidar com a morte? É esse conjunto de ideias que Gus Van Sant coloca em “Inquietos”, acrescentando uma pitada de romance com todo o frescor de jovens e promissores atores. 

Enoch é um rapaz que perdeu os pais em um acidente de carro e não frequenta nenhuma escola. Desde o acidente, ele passou a enxergar o fantasma de Hiroshi, um piloto japonês que morreu na Segunda Guerra Mundial. Para passar o tempo, Enoch desenvolveu um hobby: acompanhar os velórios de gente desconhecida e analisá-los. Em um deles, conhece Annabel, uma garota incomum, mas que o chamou a atenção desde o princípio, justamente pela curiosidade em saber o porquê de ele visitar os funerais. Os dois se aproximam e Annabel revela que é uma paciente com câncer terminal. Apesar da gravidade da situação, a garota não se abala nem um pouco e vai levando a sua vida da melhor maneira possível. Enoch cada vez se aproxima mais da garota e tenta não deixar que a doença o abale, mesmo que ele saiba como a história irá terminar.

 

Ao longo de seus trabalhos, Gus Van Sant captou a alma dos jovens de diversas maneiras, mas sempre de maneira incomum. É muito improvável que vejamos retratados em um de seus filmes alguns dos fãs histéricos de Justin Bieber. Os jovens de seus filmes são maduros e, embora confusos com essa fase de suas vidas, esperam evoluir, encontrar um sentido na vida e buscar a felicidade, não importa o preço. Mesmo os perturbados de “Elefante” demonstraram isso. Com Annabel e Enoch não é diferente. A forma com que os personagens encaram a vida (e a morte) faz o espectador refletir involuntariamente. 

A atmosfera leve do filme quase não deixa transparecer que se trata de uma história sobre uma garota com câncer terminal, tamanha é a sutileza. No fim, o que salta é o romance dos protagonistas e o drama de Enoch, vivido por Henry Hopper, filho do ator Dennis Hopper, falecido no ano passado. A história comove, mas nem por isso podemos dizer que ela seja triste. Essa é a missão de Annabel, personagem da sensacional Mia Wasikowska. Mostrar que não existe apenas tristeza na morte, o importante é encará-la como o processo natural que espera todos os seres humanos. 

“Inquietos” é um filme brilhante, com excelente roteiro, fotografia, trilha sonora e um figurino muito charmoso. Gus Van Sant acerta em cheio mais uma vez. O diretor de “Paranoid Park” e “Gênio Indomável” mostra mais uma vez que conhece este universo e consegue contar uma história que emana beleza a cada quadro. Provavelmente, será um dos nomes figurando nas listas para o Oscar em 2012.

Nota: 10

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