27/junho/2009
"O Clube do Filme", de David Gilmour
Ed. Intrínseca
Como eu consigo tempo pra ler quando aparentemente eu não tenho tempo nenhum? Está sendo assim durante esse mês de junho, e provavelmente o será julho. Sabe essas tardes quando não se tem nada para fazer quando quer se distrair e nada mais vem à mente a não ser atender a um desejo compulsivo? (!!!) É, eu sei, é complexo. Mas, de vez em quando isso acontece comigo, um desejo incontrolável de sair, bater perna no shopping, ver um filme no cinema, comer no Mc Donald's (ou Habib's, ultimamente) e comprar. Comprar, gastar, torrar, sair do shopping com ao menos uma sacola. Geralmente são da Saraiva. Quando encontrei "O Clube do Filme", foi da Siciliano.
Justamente porque estava inteiramente atarefado, queria comprar apenas revistas que me dessem o que me distrair quando não estivesse lendo um texto sobre sensorialidades, afetividades ou qualquer coisa de comunicação. Encontrei o livro por acaso, estava guardando a minha atenção literária-ficcional para outro lançamento, "Amanhecer", de Stephenie Meyer. Que grata surpresa.
O livro em si não tem nada de especial no modo como foi escrito. É a história real de um crítico de cinema falido e sem emprego fixo que luta para criar o filho adolescente. David Gilmour é o crítico em questão e, quando seu filho Jesse vai mal nos estudos, ele propõe o seguinte ao garoto: Jesse pode sair da escola e fazer o que quiser da vida se não se envolver com drogas e, o melhor, assistir três filmes por semana com o pai, à escolha de David.
Realmente não há nada de muito extraordinário, mas à medida que conhecemos as desventuras de Jesse e os esforços de um pai zeloso, que se pergunta se fez algo de errado na criação do filho, vamos nos infiltrando na história de tal forma que, só chegando ao seu final rapidamente é possível ficar satisfeito. Toda a educação que Jesse recebe vem dos filmes, dividido em módulos, de "Os Incompreendidos", de Françoise Truffaut, passando por "Caminhos Perigosos", "O Poderoso Chefão", "Ishtar", "A Doce Vida", até "Rocky III", "O Exorcista" e "Showgirls". É nesses momentos, na análise de David sobre os filmes, que podemos pesar o quanto esses mesmos longas são importantes para nossas vidas.
Lendo esse livro me dei conta de que muito do que eu sei vem do cinema. Meu discurso, minha forma de escrever, meu olhar sobre o mundo, formas de interações amorosas, minha despretensão, minha forma de olhar as coisas. Tudo vem do cinema. O livro me mostrou que não sou nenhuma pessoa anormal por gostar de cinema: é uma forma linda e pessoal de ter um olhar sobre o mundo. No fim das contas, Jesse assistiu a tantos filmes que passa a assimilar o que aprende na sua vida. Assim também quem se dedica aos filmes. Me orgulho de saber que "Cidadão Kane" não ganhou o Oscar de melhor filme, que "Harry Potter" era pra ser com Haley Joel Osment (os "prazeres culpados" do livro) e que "Casablanca" teve dois finais gravados. Me orgulho de saber o que é nouvelle-vague. Me orgulho de entender o que foi o Dogma 95 e que ele não foi de todo cumprido. Me orgulho de gostar de "Irreversível", "Amnésia" e "Amores Brutos".Particularidades. Peculiaridades. Me orgulho de gostar de cinema.
2 comentários:
Parabéns pelo blog.
Amei.
Assim como vc também amo cinema e lendo esse post fiquei curiosa para ler esse livro que você indicou.
Parabéns pelo comentário. Doce e profundo ao mesmo tempo. Com certeza irei ler o livro e, continuar, como sempre fui, a gostar de cinema, vivendo a vida dos outros, por momentos, como se fosse minha.
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