terça-feira, 18 de agosto de 2009

Arrastem "Brüno" Para o Inferno

18/agosto/2009
Brüno
(Brüno: Delicious Journeys Through America for the Purpose of Making Heterosexual Males Visibly Uncomfortable in the Presence of a Gay Foreigner in a Mesh T-Shirt, EUA, 2009) De Larry Charles. Com Sacha Bahron Coen, Gustaf Hammarsten.

Arrasta-me Para o Inferno
(Drag me To Hell, EUA 2009) De Sam Raimi. Com Allison Lohman, Justin Long, Lorna Raver, Dileep Rao, Adriana Barraza.

Segunda-feira, cinema em promoção e você com aquela vontade de assistir às duas maiores estreias da semana. Uma omédia escrachada, do criador de "Borat", e um terror digno de Sam Raimi, o cara por trás de "Evil Dead". Pois bem, qual não foi a surpresa quando nada disso aí em cima aconteceu. "Brüno" e "Arrasta-me Para o Inferno" não são o que parecem. Nem de longe. O primeiro promete mais do que cumpre e o segundo cumpre mais do que promete. É ou não é um programão para uma segunda-feira de férias?

Em "Brüno", Sacha Bahron Coen nos apresenta ao fashionista austríaco gay que, após uma série de mal-sucedidas empreitadas no seu país de origem, ele se manda para os Estados Unidos para se tornar famoso. Lá, ele segue passo a passo a cartilha dos maiores nomes de Hollywood, como Madonna, Angelina Jolie e Tom Cruise, e tenta se firmar no meio artístico mega famoso. Pra isso, vale tudo: encarar uma causa humanitária, ser figurante em uma série de TV, entrevistar Paula Abdul, adotar crianças africanas e até tentar virar hétero! Enquanto luta para conquistar seus objetivos, Brüno simplesmente fecha os olhos para o verdadeiro amor, que está ao seu redor.

Na sua jornada para se tornar a maior celebridade austríaca fora da Áustria desde Adolf Hitler, Brüno vai além das piores consequências. O que vemos na tela vai muito além dos constrangimentos (de certo ponto, prestativos) do último filme de Coen, "Borat". O que era pra ser um autoconhecimento do verdadeiro americano sobre o mundo das celebridades e o desconforto com homossexuais, se torna um show de horrores das piores espécies. As imagens apresentadas chocam, e ele não tem medo do desconforto de sua plateia. É claro que o objetivo de Coen é justamente fazer aflorar nas pessoas seus sentimentos mais escondidos. Até onde as pessoas vão para se tornar celebridades? Não é o que vemos com os nossos ex-bbb's da vida e com as mulheres fruta? Em um piloto de programa, Brüno chega a convidar uma ex-participante de realitty show para comentar as ultrassonografias de "famosas" como Jamie Lynn Spears (?!), irmã de Britney. Em outro ponto, em um programa de TV à la "Casos de Família", ele leva seu bebê "adotado", OJ, e acaba chocando a plateia real, que fica enfurecida.

Brüno não é Borat, lembre-se disso. Os méritos do filme são o de mostrar as reais reações daqueles que são intimados a participar. Casos como o da plateia do programa, os líderes de organizações do Oriente Médio, os avaliadores de novos programas da CBS, tudo é real. O ruim é que, com toda essa lição de moral às avessas, "Brüno" só se esquece de ser engraçado. As piadas são fracas, grotescas e abusivas demais, sendo até mesmo constrangedoras. Tem seus momentos engraçados, mas fica sendo aquele sorriso amarelo. "Borat" é muito 2006, mas ainda está muito mais na moda. Agora, o que eu não ri com esse, não esperava que fosse rir muito mais com o próximo...

Em "Arrasta-me Para o Inferno", Christine Brown é uma boa moça do interior, que se muda pra cidade grande, e tem um bom emprego num banco. Ela é simpática, atenciosa e eficiente e está prestes a ser promovida para o cargo de assitente da gerência. Só que o seu concorrente puxa-saco não facilita as coisas. É quando chega à sua mesa a estranha velhinha Sylvia Ganush que, por não ter pago a hipoteca, vai perder a casa em que mora e pede um novo empréstimo para Christine. O gerente do banco diz que Christine é a responsável pela decisão, e que o banco não iria lucrar com um novo empréstimo, mas que poderia ser concedido. Na disputa pela vaga de assistente, Christine nega o novo empréstimo à velhinha, que se sente humilhada ao implorar uma nova chance e ser expulsa do banco. Grande erro. A velhinha é uma bruxa cigana e volta para atacar Christine e lançar sobre ela uma maldição terrível, onde entrega a alma da moça ao demônio Lâmia, que irá levá-la para o inferno ao final do 3° dia. Com o apoio do namorado e de um paranormal, começa a corrida de Christine para se livrar da maldição e das assombrações que a atormentam.

Assustador, não? Realmente, "Arrasta-me..." tem seus níveis de susto e uma trilha sonora, composta por Christopher Young, incrivelmente admirável. Sam Raimi dá ao filme um tom incrivelmente envolvente e ao mesmo tempo bizarramente... divertido! O humor acrescentado ao filme dá um toque especial que faz com que o espectador se divirta horrores e ria muito também. Sabemos que Christine está prestes a ser levada para o inferno pelo demônio da cabra preta, mas as situações que ela se mete por causa disso são engraçadas demais, como se tivessem saído de um dos filmes da série "Todo Mundo em Pânico". Talvez esse uso do humor tenha sido usado por Raimi para que o terror não fosse tão terrível assim (o próprio diretor tem medo de filmes do gênero) e para que o público pudesse ver que Christine é uma garota comum, com um bom coração cheio de boas intenções, mas que também corre o risco de ir para o inferno. Literalmente, isso pode acontecer com qualquer um!

Alison Lohman é ligeiramente apática, mas segura o tranco pelos perrengues que passa. O visual do filme impressiona, e o uso da cabra, animal associado aos demônios inúmeras vezes, dá um toque especial ao clima do filme, mas infelizmente (ou felizmente) ele pesa demais para o humor para ser assustador. O clímax e o derradeiro (e mais ou menos inesperado) final são ótimos. "Arrasta-me Para o Inferno" é muito bom e divertido. Mas nem assusta tanto assim. Apesar disso, é incrivelmente trash, como Sam Raimi queria que fosse.

Notas
Brüno:
5,0
Arrasta-me Para o Inferno: 7,5

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